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Mais lento que tampa de bueiro, Tesla Roadster passa perto de Marte

Na última semana, o elétrico adicionou às suas façanhas uma passagem bem próxima ao Planeta Vermelho

Por Eduardo Passos
14 out 2020, 07h00
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    (Reprodução/Tesla)

    Famoso por ter sido o primeiro carro de rua lançado ao espaço, o Tesla Roadster de Elon Musk atingiu mais um feito histórico na semana passada, ao passar perto de Marte.

    O elétrico, que também é o automóvel mais ‘rodado’ já construído, realizou a aproximação no último dia 7, chegando a uma distância de apenas 0,05 UAs do Planeta Vermelho — equivalente a 5% da distância da Terra ao Sol, ou cerca de 7,5 milhões de quilômetros.

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    Essa passagem foi mais um marco da missão, que também colocou o esportivo atrás somente de poucas sondas espaciais e uma tampa de bueiro entre todos os objetos humanos no quesito velocidade.

    Inicialmente, a função do Tesla seria apenas de uma carga-teste, a fim de comprovar a capacidade da SpaceX — braço aeroespacial do conglomerado de Musk — de lançar o monstruoso Falcon Heavy. O foguete, cujo empuxo só é superado pelo histórico Saturno V, se destaca pela capacidade de retornar em voo controlado à Terra, facilitando sua reutilização. 

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    Como o voo teste do Falcon Heavy era muito arriscado, não houve interessados em embarcar material científico no equipamento. O espaço disponível alimentou uma sacada extravagante de Musk, que, após sugestões no Twitter, escolheu enviar seu próprio Roadster rumo ao espaço.

    Além do marketing gerado pelo lançamento transmitido ao vivo, a experiência serviu para testar as ferramentas que devem levar astronautas e equipamento para Marte nas próximas décadas.

    Radar galático

    Apesar de ‘raspar’ nosso vizinho, o carro não entrou em órbita, já que ele segue uma rota ao redor do Sol e não possui propulsores para alterar esse trajeto (ainda que o seu sucessor deva contar com essa tecnologia). Mesmo assim, em agosto de 2019, o esportivo fez jus à categoria e atingiu a incrível velocidade de 121.005 km/h.

    Isso colocou o primo distante do Lotus Elise no top 5 de objetos humanos mais rápidos, atrás das sondas espaciais Helios e Juno e uma inusitada tampa de bueiro. 

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    Tesla Roadster 2
    Nova geração do Roadster deverá contar com propulsores inspirados em foguetes da SpaceX (Tesla/Divulgação)

    Recordista, a tampa foi atirada ao espaço em 1957, durante uma detonação atômica subterrânea feita pelos Estados Unidos. Os equipamentos utilizados permitiram captar apenas a velocidade mínima da peça, na ordem de 200 mil km/h.

    Viajando seis vezes mais rápido do que o necessário para entrar em órbita, há duas versões para o paradeiro da tampa: ou ela atingiu o espaço meses antes da Sputnik I ou o calor gerado foi tão grande que evaporou antes de sair da atmosfera.

    Em breve, mais uma sonda deve superar o Roadster no quesito velocidade, já que a Parker Solar Probe, da Nasa, beirará insanos 700 mil km/h durante sua derradeira aproximação solar.

    Longa duração

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    O passeio do elétrico e seu manequim-motorista também serviu para avaliar brevemente a reação de um carro ao espaço sideral e suas condições extremas. O esportivo mostrou-se duro na queda e, até o fim das imagens, estava em bom estado de conservação.

    Estima-se que todos os fluidos foram retirados em solo, já que ferveriam imediatamente no vácuo. Componentes que dependem da pressão externa, como pneus e airbags, também foram modificados ou retirados para evitar explosões.

    Ainda que o Roadster tivesse um piloto automático semelhante ao do Model X, por exemplo, ele também não agiria corretamente, já que os sensores ultrassônicos que detectam objetos próximos ao carro não funcionariam no vácuo.

    Imagina-se que os mesmos raios espaciais que destruíram seus equipamentos de comunicação tenham, também, apagado o vermelho de sua pintura. Isso ocorre por conta da imensa energia com a qual esses raios ultravioleta, sem a proteção de uma atmosfera, chegam à lataria, destruindo a estrutura química da tinta. A energia desses raios é tão grande que até mesmo a carroceria pode se deteriorar, já que as ligações de sua fibra de carbono podem ser quebradas ao absorvê-los.

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    Os jipes lunares completam a lista de automóveis tripulados que foram ao espaço (Nasa/Divulgação)
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    Outro fator importante é a variação de temperatura, que pode chegar a centenas de graus Celsius, positivos ou negativos, dependendo da posição do carro. Essa amplitude gigantesca provoca expansão e contração dos diversos componentes do veículo, causando quebras, derretimento e rachaduras.

    Tudo isso, somado ao risco de colisões com pequenos detritos espaciais, deve transformar o carro em pedacinhos de lixo espacial em pouco tempo, restando apenas a plataforma de alumínio e outros componentes metálicos que estejam diretamente ligados a ela. Mesmo assim, Elon Musk manifestou interesse em lançar uma outra missão, para fotografá-lo de perto.

    Próxima parada

    Enquanto existir, o Roadster deverá cumprir sua órbita ao redor do Sol sem muitas novidades, de acordo com cientistas da Universidade de Toronto e da Universidade Carolina de Praga, na República Tcheca. Esses pesquisadores aplicaram modelos matemáticos que indicaram, em alguns milhões de anos, uma probabilidade de colisão de 0,42% com o Sol ou 6% com a Terra.

    Mesmo com poucas chances de sobreviver, o Tesla Roadster já entrou para a história. Seus recordes incluem ser o quarto automóvel tripulado a atingir o espaço, acompanhado dos três jipes das missões Apollo que ficaram no satélite, e o único veículo comercial a ter atingido tal feito.

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    O impacto cultural de seu lançamento, ao som de “Space Oddity”, de David Bowie, também é imenso e poderá ser um dos pontos altos de quando, num futuro próximo, revisitarmos a caminhada rumo a Marte. Resta saber se o novo Roadster viajará por rotas semelhantes.

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