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Mais etanol? Veja como serão os testes com a nova gasolina E30

Instituto Mauá de Tecnologia explica como testará carros que podem ter mais de 30 anos para avaliar a gasolina com mais etanol

Por João Vitor Ferreira
Atualizado em 7 fev 2025, 09h06 - Publicado em 7 fev 2025, 09h00
Teste nova gasolina
Carros com mais de 30 anos poderão ser usados nos testes com a nova gasolina (Acervo/Quatro Rodas)
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Em breve poderemos, ou não, ter uma nova gasolina nas bombas dos postos de combustíveis brasileiros. A gasolina E30 promete ser uma solução mais ecológica para substituir a atual E27. A nova composição aumenta o percentual de etanol na mistura da gasolina de 27% para 30%, e começará a ser testada pelo Instituto Mauá de Tecnologia neste mês.

De acordo com a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), o relatório final dos testes será entregue no final de fevereiro. Se tudo der certo, em abril já teremos a gasolina E30 nas bombas.

Para entender melhor como serão feitos esses testes, conversamos com Renato Romio, gerente do laboratório de motores e veículos do Instituto Mauá de Tecnologia.

Sobre a nova gasolina, ela não tem nenhuma mudança drástica em sua composição. Romio confirma que apenas será aumentado em três pontos percentuais a concentração de etanol o que, segundo ele, é uma taxa muito pequena.

Ou seja, tecnicamente não há nada de muito novo na gasolina. Tanto é que eles usarão a própria gasolina E27 nos testes e apenas adicionarão mais etanol na mistura. A taxa é variável, podendo chegar aos 32%.

Teste Alce
Os modelos usados nos testes são confidenciais, mas datam desde o início do PL2 até o PL8 (Acervo/Quatro Rodas)

Atualmente, a legislação brasileira tolera até 27,5% de etanol na mistura. É como se fosse uma “margem de erro”, mas não significa que a concentração da gasolina será tão maior do que os 30% definidos pelo governo.

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Os carros usados no teste

As “cobaias” dos testes já estão definidos: 15 carros e 13 motos de marcas e gerações diferentes. Os modelos são confidenciais, mas tratam-se de veículos que datam desde a época do Proconve L2 (que ocorreu entre 1992 e 1996) até o atual PL8. Ou seja, testarão carros que podem ter mais de 30 anos.

“A ideia é completar o relatório feito em 2014 (época da implementação da gasolina E27), que não abrange os veículos L7 e L8. Inclusive, em 2014 já usaram o E30, completando com os veículos lançados posteriormente.”, explica o engenheiro do Instituto Mauá.

Segundo Romio, serão usados modelos nacionais e importados, todos com motores exclusivamente a gasolina, uma vez que os carros flex já estão adaptados ao etanol. Como critério de seleção, o engenheiro cita o volume de vendas e as diferentes tecnologias usadas no motor (injeção direta, multiponto, monoponto, entre outras).

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E se algum deles falhar nos testes? “A saída é utilizar a gasolina com 25% de etanol (Premium). Isso vai para o fabricante, eles terão que informar os modelos que, talvez, funcionem ou não com a nova gasolina E30. Isso vai vir mais como um feedback dos proprietários caso a gasolina seja aprovada.”, explica Romio.

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Ou seja, como o próprio engenheiro disse: “você não pode deixar de evoluir com o combustível por conta dos carros antigos”. Mas Romio tranquiliza e diz que as chances de que algo de errado aconteça são muito baixas, uma vez que o aumento da mistura é quase irrelevante.

Os carros nacionais são os que menos preocupam, uma vez que já estão acostumados a usar a nossa gasolina com maior quantidade de etanol. Os carros importados, porém, são projetados para usar outros tipos de mistura. Nos EUA, a adição de etanol é de 15%, enquanto na Europa são 10%.

Romio ainda brinca: “não vão dar mais problemas do que já costumam dar”, enfatizando que o aumento da mistura será muito pequeno para vermos grandes alterações.

Como serão os testes?

Os modelos passarão por diferentes seções de testes, dentro e fora das pistas. Para medir as emissões, usarão a norma NBR 6601, o mesmo que é feito para a homologação de veículos leves, e que é feito em um dinamômetro.

Mas é na pista que serão feitas as avaliações mais relevantes que vão, de fato, evidenciar alguma alteração no comportamento dos modelos. As passagens de 0 a 100 km/h e, sobretudo, as retomadas, vão medir se há perda de potência. Também farão testes para saber se a gasolina E30 afetará a dirigibilidade dos veículos e a troca de marchas.

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O semáforo demorava 40 segundos para abrir, tornando o circuito mais monótono
Testes de 0 a 100 km/h e retomadas vão servir para saber se há alguma perda significativa de potência nos motores (Renato Pizzutto/Quatro Rodas)

Outro teste é o de lombada, para saber se o carro não começará a dar “cabeçadas” em marcha lenta. Também na marcha lenta vão medir os índices de emissões e possíveis falhas no motor. O mesmo vale para a partida a frio.

Já para saber do efeito da gasolina nos componentes do motor, o Instituto vai usar os dados OBD (On-Board Diagnostics). Esse é o famoso scanner, que permite ver se o carro acusa algum código de erro. Nesse caso, os mais prováveis são no bico injetor e na ignição.

A durabilidade dos motores com o novo combustível, porém, não será testada, uma vez que isso exige um processo mais longo.

Apesar disso, as projeções são boas: “estamos otimistas, achamos que não teremos problemas”. Segundo Romio, os maiores desafios são logísticos, como o cronograma mais apertado.

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Os carros sentirão a mudança na gasolina?

O especialista afirma que sim, com mudanças na potência e no consumo dos carros com a gasolina E30. Porém, serão imperceptíveis e o mesmo vale para as emissões. Romio explica que eles não esperam diminuições significativas nos gases poluentes que saem dos escapamentos. Aliás, essa nem é a proposta mudança.

O que será afetado é o ciclo do carbono. A gasolina é um combustível de origem fóssil, que tem como matéria prima o petróleo. Quando ela é queimada pelos motores há a liberação de CO2 na atmosfera.

O etanol, por outro lado, vem da cana de açúcar. Quando ele é queimado, também emite CO2, mas ele é absorvido novamente pela cana, gerando assim um ciclo “neutro”.

Cana
As emissões não vão diminuir nos escapamentos, mas o ciclo do carbono ficará mais próximo da neutralidade com a gasolina E30 (Reprodução/Internet)

Claro que na conta “oficial” entram também as emissões dos caminhões que transportam o combustível aos postos, entre outros processos, mas vamos considerar apenas a parte mais simples por um motivo didádico.

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Ao aumentar a porcentagem de etanol na mistura da gasolina, mais CO2 está sendo neutralizado por meio do plantio da cana. E é aí onde estará o impacto desse combustível no meio ambiente.

Para Romio, a porcentagem ideal da mistura para atingir a melhor eficiência energética seria em torno de 30% a 35% de etanol, ou seja, com a E30 o Brasil estaria no caminho para uma redução dos efeitos do aquecimento global.

Como muito se fala na indústria, o etanol é o principal aliado da descarbonização do Brasil, principalmente se aliado com os carros híbridos. Romio entende que é o potencial desse combustível que diferencia e dá uma certa vantagem ao nosso país. “A Europa não consegue fazer isso, eles tem que apelar para os carros elétricos. Com o etanol conseguimos fazer mais do que a Europa.”

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