Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Longa Duração: como foi o desmonte do Lada Samara em 1992

Com péssimo atendimento em concessionárias, falhas de projeto e duas trocas de motor, o primeiro importado do teste de 60.000 km foi reprovado

Por Henrique Rodriguez Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 2 jul 2018, 10h20 - Publicado em 2 jul 2018, 10h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Lada Samara Longa Duração Quatro Rodas (15)
    O desmonte ao fim do teste parece ter sido apenas protocolar: a rede de concessionárias virou o carro do avesso várias vezes (Antonio Rodrigues/Quatro Rodas)

    “O Lada Samara teve quatro reservatórios de expansão do radiador rachados, foi rebocado cinco vezes, passou pela pior assistência técnica já vista nos últimos tempos, sofreu vários problemas de carburação, enfrentou bobina defeituosa, trambulador do câmbio quebrado, filtro de óleo solto…

    Se estes motivos são insuficientes para reprovar o Samara, aqui vai uma razão definitiva: seu motor foi trocado duas vezes”, assim começava a reportagem do desmonte do Lada Samara, publicada em agosto de 1992.

    Lada Samara Longa Duração Quatro Rodas (8)
    Lada Samara 1.5L: versão de quatro portas, mas com pouco conforto (Silvio Porto/Quatro Rodas)

    O hatch russo foi o primeiro importado a passar pelo Longa Duração desde sua criação, em 1973. Nosso teste consiste em rodar 60.000 km fazendo todas as revisões e serviços recomendados pela fabricante e é feito até hoje.

    Ao término, desmontamos o carro em busca de defeitos de projeto e deslizes da rede de concessionárias da fabricante.

    Fabricado na Rússia, nosso Lada Samara azul com motor 1.5 a gasolina chegou no primeiro lote importado para o Brasil.

    Continua após a publicidade
    Lada Samara Longa Duração Quatro Rodas (8)
    Para completar os 60.000 km o Samara percorreu todo tipo de estrada (César Diniz/Quatro Rodas)

    O primeiro defeito apresentado foi simples: a manivela do vidro do motorista exigia muito esforço para ser acionada. “De tão dura, quebrou duas vezes”, dizia o texto, que completava: “o caso só foi solucionado após a remontagem, com uma simples regulagem na máquina de acionamento”.

    Foi o primeiro defeito de muitos. Muitos mesmo: o diário de bordo teve 63 anotações de defeitos ou panes, mais que uma por mil quilômetros rodados.

    Lada Samara Longa Duração Quatro Rodas (6)
    Carburador era simples, porém desconhecido dos mecânicos brasileiros (Antonio Rodrigues/Quatro Rodas)

    O carburador deu canseira. “O motor do Samara sempre engasgou em retomadas, “embolou” em velocidades constantes, apresentou marcha lenta irregular e foi difícil de pegar mesmo quando quente”.

    Continua após a publicidade

    No desmonte descobriram que, enquanto outros carburadores tinham apenas arruelas de pressão entre as cabeças dos parafusos de fixação e a tampa, no Samara havia arruelas lisas entre as de pressão, o que não garantia boa fixação.

    Lada Samara Longa Duração Quatro Rodas (10)
    Samara durante o teste de desempenho final. Freios foram elogiados no teste (Silvio Porto/Quatro Rodas)

    Os parafusos soltavam com a vibração e a boia do carburador deslocava dentro da cuba. Como se não bastasse, a boia ficava presa, interrompendo o fluxo de combustível. A boia foi trocada na hora de remontar o carro, mas 1.000 km depois ela esfarelou!

    Lada Samara Longa Duração Quatro Rodas (11)
    Motor teria sido trocado duas vezes. Não por acaso, ao fim do teste ele parecia novo (Antonio Rodrigues/Quatro Rodas)

    Melhor falar dos defeitos apresentados ao longo do teste. Aos 2.416 km o motor 1.5 8V, de 72 cv a 5.500 rpm e 12 mkgf de torque a 3.400 rpm, começou a queimar óleo.

    Continua após a publicidade

    Suspeita-se que tenha sido neste momento que a primeira das duas trocas de motor foi feita. A outra foi ao redor dos 40.000 km, quando ouve superaquecimento.

    Lada Samara Longa Duração Quatro Rodas (14)
    Bronzinas novas, pois haviam sido trocadas na última revisão sem qualquer aviso (Antonio Rodrigues/Quatro Rodas)

    Muitas dores de cabeça vieram do acabamento. “O espelho retrovisor interno não prendia, o plástico do regulador do banco caía a toda hora, a porta do lado do motorista chegou a travar e até a cair! Os parafusos das duas dobradiças se soltaram. Por sorte o carro estava parado.”

    Lada Samara Longa Duração Quatro Rodas (2)
    Virabrequim estava como novo, mas havia sido polido recentemente (Antonio Rodrigues/Quatro Rodas)

    Se houve algo positivo no carro? Sim, a suspensão ignorou os maus cuidados que renderam troca de cinco rodas e dois pneus. No fim do teste, as molas e buchas da suspensão estavam em ótimo estado.

    Continua após a publicidade

    Houve outro elogio, para o dispositivo de acionamento manual da bomba de combustível, que enchia o carburador até quando o motor estava desligado. Os freios também foram considerados bons.

    Lada Samara Longa Duração Quatro Rodas (4)
    Rótula de uma manga de eixo: estava com certa folga, mas ainda dentro da tolerância (Antonio Rodrigues/Quatro Rodas)

    São elogios pequenos para um carro mau cuidado. Diz a reportagem que mesmo que o Samara tivesse um projeto perfeito, não sobreviveria à falta de cuidados das concessionárias Lada.

    Aos 48.000 km, por exemplo, uma revenda esqueceu de dar aperto no filtro de óleo. Resultado: o lubrificante do motor vazou por completo.

    Lada Samara Longa Duração Quatro Rodas (12)
    Pistão apresentou desgaste nos aneis e carbonização (Antonio Rodrigues/Quatro Rodas)
    Continua após a publicidade

    Mas, no desmonte, as bronzinas estavam como novas. “A análise das bronzinas do motor desmontado mostra componentes novos, no máximo com 1.000 km. Foi justamente a quilometragem percorrida desde a última revisão, aos 60.000 km, até o desmonte.” A concessionária abriu o motor e trocou as bronzinas…

    As trocas do motor também resultaram em componentes internos como novos no desmonte. O bloco do motor não tinha incrustações e o virabrequim apresentava indícios de que havia sido polido, mas os pistões tinham razoável carbonização, provando que o motor trabalhou bastante com a mistura ar/combustível errada.

    Lada Samara Longa Duração Quatro Rodas (1)
    Anel sincronizador está claramente desgastado (Antonio Rodrigues/Quatro Rodas)

    Quem sofreu foi o câmbio. Luvas e sincronizadores mostravam desgaste bastante acentuado, provavelmente por deficiência de lubrificação.

    Lada Samara Longa Duração Quatro Rodas (7)
    Lada Samara em viagem a São João del Rey (MG) (Luiz Fernando Martini/Quatro Rodas)

    Com tantas provas contra o hatch russo, veio a reprovação no Longa Duração. Concorrente de Chevrolet Chevette Junior e Fiat Uno Mille, o Lada Samara mostrou não estar à altura dos carros nacionais da época – os mesmos que haviam sido chamados de carroças pelo então presidente Fernando Collor, que renunciaria poucos meses depois.

    Como disse o jornalista Juca Kfuri à época, após um final de semana com o Samara: “Carroça por carroça, fique com a nossa”.

    385,119,33,08,TE
    Clique para ampliar (Reprodução/Quatro Rodas)

    *Reportagem original de Heymar Lopes Nunes e Isabel Reis

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY
    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Quatro Rodas impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 10,99/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.