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JLR demite funcionário que revelou falhas de segurança de outra fabricante

Engenheiro diz que nunca entraria em um carro da vietnamita VinFast, que foi desenvolvido em parceria com a dona da JLR

Por João Vitor Ferreira
Atualizado em 3 jan 2025, 09h34 - Publicado em 3 jan 2025, 08h30
 (Reprodução/Quatro Rodas)
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O Tata Group, conglomerado indiano dono da Jaguar Land Rover, está passando por um sério problema judicial, que envolve a demissão de um funcionário. O engenheiro mecânico Hazar Denli foi desligado do grupo após denunciar no Reddit que os carros da montadora, mais especificamente os modelos da marca VinFast, não seriam totalmente seguros.

Denli, inicialmente, trabalhava na consultoria global de engenharia do grupo, a Tata Technologies (TTL). Em entrevista à BBC, ele contou que descobriu componentes projetados incorretamente no chassi do carro em protótipos dos modelos elétricos VF6 e VF7 da marca vietnamita VinFast, incluindo seu sistema de suspensão.

“Vimos, por exemplo, que a conexão dianteira entre o suporte e a junta estava afrouxando, o que pode ser extremamente perigoso”, explica Denli. “Isso pode causar um afrouxamento de toda a estrutura que pode fazer com que as rodas se soltem”.

Nomeado para liderar a equipe de engenharia que trabalha na suspensão dianteira e no chassi em 2022, o engenheiro relatou também que os componentes estavam falhando aos 25.000 km, quando eram projetados para durar pelo menos 150.000 km.

“Nas unidades de acionamento, alguns dos suportes estavam falhando completamente e caindo na estrada. Estamos falando de um ou dois quilos de alumínio”, conta.

Denli então começou a suspeitar que a VinFast estava propositalmente deixando a segurança dos carros em segundo plano para cortar custos. Suas preocupações aumentaram depois que ele descobriu que outras três pessoas haviam desistido do cargo após um curto período trabalhando no mesmo projeto.

Logo VinFast
Montadora vietnamita VinFast vende carros elétricos em seu país natal, além de EUA e Europa (VinFast/Divulgação)
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Com o tempo, novos testes foram feitos e novos problemas foram sendo descobertos. O engenheiro então relatou todas as suas preocupações aos superiores da TTL e da VinFast, recomendando que os componentes fossem redesenhados para ficarem mais seguros e com maior qualidade.

As mudanças exigiram mais gastos e um tempo maior de desenvolvimento. Logo, a Tata ignorou as recomendações de Denli e seguiu em frente com o projeto. Ele então pediu transferência para outra área da empresa, o que foi negado. Em maio de 2023, infeliz com a situação, ele então renunciou ao cargo.

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Um tempo depois, Denli retorna à Tata Group por meio da agência de JLR em Gaydon, no Reino Unido. Nessa nova passagem, ele continuou observando relatórios que descrevem problemas nos modelos VinFast VF8 e VF9, vendidos na Europa, Estados Unidos e Vietnã.

Eram justamente destes modelos que o VF6 e VF7 herdaram seus componentes. Em abril de 2024, um acidente na Califórnia deixou quatro mortos. Segundo a polícia, o modelo era um VF8 que perdeu o controle, bateu em um poste e pegou fogo. Antes disso, outro carro da VinFast havia pegado fogo em um showroom na Alemanha.

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vinfast vf6
VinFast VF6 herdou componentes defeituosos dos projetos do VF8 e VF9 (VinFast/Divulgação)

O acidente na Califórnia levou o NHTSA, órgão regulador de segurança dos EUA, a investigar o modelo VF8. Denli, por sua vez, começou a expor as inseguranças do carro da marca no Reddit.

“Eu entraria em todos os outros veículos que projetei de outras marcas… e todo veículo tem falhas… Mas, Vinfast, eu não entraria em um… nunca vou e também não vou deixar meus entes queridos entrarem em um”, escreveu ele. Dois meses depois, em 18 de julho de 2024, Denli foi demitido.

Mas não foi só isso. Denli também teria entrado para a “lista negra” da Tata, de modo que, caso ele se candidatasse a alguma vaga em qualquer empresa da marca, ele fosse imediatamente excluído do processo.

Documentos internos obtidos por meio de uma Solicitação de Acesso do Titular dos Dados (DSAR), revelaram que o pedido inicial de demissão de Denli partiu da sua ex-empregadora, a Tata Technologies, mais precisamente do diretor de RH, Patrick Flood.

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Flood havia entrado em contato com Dave Willians, membro do conselho da JLR. Segundo o chefe de RH, a Tata Technologies havia investigado e descoberto as postagens de Denli, alertando a “empresa irmã” de que ele poderia fazer o mesmo com eles.

Em 19 de julho, o Flood enviou um e-mail aos investigadores corporativos da JLR para confirmar a demissão de seu ex-funcionário.

VinFast VF8
VinFast VF8 foi duramente criticado pela imprensa americana, sendo chamado de “uma grande porcaria” (VinFast/Divulgação)

Agora, Denli está denunciando o grupo no tribunal trabalhista. “Eu pensei que se algumas pessoas começassem a falar sobre isso, elas seriam forçadas a fazer algumas mudanças. Infelizmente, a resposta deles não foi fazer essas melhorias, mas, ‘Ei, quem disse isso? Vamos calá-lo’.”

Na legislação do Reino Unido, existem algumas medidas que protegem os funcionários em caso de retaliação do empregador se divulgarem informações que acreditem levar riscos à saúde e à segurança de qualquer indivíduo. Segundo a Lei de Divulgação de Interesse Público no Trabalho de 1998, qualquer cláusula em um contrato que busque vinculá-los ao silêncio é nula.

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Porém, há uma certa pressão no Parlamento britânico para existirem medidas de proteção mais eficientes em casos como este de Denli. Existe até um projeto de lei para a criação de um Escritório do Denunciante para proteger os trabalhadores que se manifestam.

Susan Kramer, ex-ministra dos Transportes, diz que o caso de Denli não é excepcional e aponta por que o projeto de lei é necessário.

“Os denunciantes são geralmente demitidos, colocados na lista negra para empregos futuros e pagam um preço enorme em termos de carreira pessoal. Não é aceitável, porque precisamos de denunciantes para impedir irregularidades e expor irregularidades.”

Mais problemas em carros da VinFast

Em 12 setembro, a NHTSA iniciou uma investigação em 3.118 carros da VinFast vendidos nos EUA depois que 14 motoristas relataram problemas no sistema de permanência e manutenção de faixa em modelos VF8 comprados em 2023 e 2024.

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Segundo os proprietários, o sistema tem dificuldade em detectar faixas na estrada e faz movimentos impróprios no volante, que são difíceis de serem corrigidos pelo motorista. À Reuters, a VinFast disse que colabora totalmente com as investigações. Até o dia 18 de dezembro, o número de reclamações do sistema já havia dobrado, chegando a 28 denúncias.

Sobre o caso de Denli, a BBC questionou a Tata Group e a JLR sobre o assunto. Nenhuma delas se pronunciou. Já a VinFast disse que não interfere “nas atividades de recrutamento ou RH do Grupo Tata, ou de suas empresas.”

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