Quando a Renault apresentou a última versão do seu Twingo, muitos jornalistas zombaram do carro. Disseram que ele era lento e que, se você o forçasse em uma curva, ele sairia de frente, em vez de fazer um belo e fumacento drifting.
Desculpem-me por ficar boquiaberto como um peixe ferido, mas o que eles esperavam? Este é um veículo para uso urbano com motor traseiro.
É claro que não deveria se esperar que ele fosse rápido, muito menos que sua traseira fosse desgarrar nas curvas, porque a maioria das pessoas para as quais ele foi feito iria borrar as calças se isso acontecesse.
Criticar o Twingo por não ser um esportivo puro-sangue é como comprar um gravador e reclamar porque ele não serve para desentupir pias.
O problema é que a Renault colocou o motor atrás. Por isso, todo mundo pensou: “Bom, se ele está lá, como em um Porsche 911, então ele deve se comportar como um Porsche 911″.
Bom… não. O motor de um Peugeot pequeno está na parte dianteira, da mesma forma que em uma Ferrari California, mas a única semelhança entre eles é que você precisa se sentar para dirigi-los.
E falando dos Peugeot, um amigo meu comprou um 108 para a filha. “Por que fez isso?”, lamentei. “Você deve detestá-la. É um carro terrível.” Ele ouviu meu discurso sobre como o carro era pequeno, como todo o interior parecia barato, e então disse: “Sim. Mas ela recebeu três anos de seguro grátis, o que me economizou 6.000 libras (R$ 24.000).”
Esse é o tipo de coisa que costumamos esquecer. Enquanto procuramos anomalias de dirigibilidade ao mesmo tempo em que derrapamos na curva a 190 km/h, não nos ocorre que a maioria das pessoas se importa com segurança e custos de uso, e não com o arrasto dos pneus ou a capacidade de negociar bem irregularidades do piso no meio da curva quando você está no limite.
O que me traz de volta ao Twingo. Na verdade eu não gostei dele, porque não consigo ver o sentido de um “carro urbano”.
Tudo bem que ele é baratinho, mas isso não significa um bom custo-benefício se você tem de deixá-lo na garagem sempre que quiser viajar mais do que 50 km.
Você pode tratar essa afirmação com desdém. Pode dizer que, se um carro tiver um motor, ele será perfeitamente capaz de enfrentar as estradas.
E quem se importa se ele for um tanto irrequieto, barulhento e pouco amistoso? Hummm. Esse debate nem faz sentido porque um carro muito pequeno com um motor muito pequeno não é realmente capaz de lidar com uma rodovia.
Você crava o pé no acelerador na pista de acesso e força o motor tanto que as válvulas começam a fazer calombos no capô, mas mal chega aos 90 km/h quando está pronto para entrar na pista principal.
O que é um problema, porque a faixa de alta velocidade está ocupada por um caminhão que vai a 91 km/h. O que você vai fazer? Não dá para voltar para a pista de acesso porque você será esmagado.
Não dá para acelerar mais porque o motor já está dando tudo o que pode. E não dá para reduzir porque levaria tempo demais para voltar a uma velocidade razoável.
E também há o problema das subidas. No velho Fiesta da minha filha, que tinha motor de 0,001 litro, você tinha de começar a pensar nos aclives quando estivesse ainda a alguns quilômetros de distância.
Uma coisa é certa: carros desenhados para rodar apenas na cidade são idiotas, porque na cidade você tem os Ubers da vida, táxis convencionais, metrôs, ônibus e ciclovias.
É exatamente onde você não precisa de um automóvel. E nos lugares onde você precisa – basicamente, todos os outros lugares -, carros urbanos são barulhentos e perigosos.
E isso me leva ao Twingo GT. Ele começou como um veículo urbano, mas foi anabolizado para ter uma pegada para o mundo real.
Ele conserva o pequenino três cilindros de 0,9 litro, mas recebeu um turbo, levando-o a produzir 110 cv. Este é um carro cujo som parece um daqueles cachorrinhos que rosnam como se fosse um grande dogue alemão. Eu gostei. É divertido!
Também gostei da velocidade. Sei que 110 cv não parece muito, mas essa era a potência da primeira versão do Golf GTI. E ninguém falava que ele era lento demais na estrada.
A entrega de potência é meio estranha – ela vem aos trancos – mas é um prazer acelerar mais do que a maioria dos sedãs familiares e então ultrapassá-los em um automóvel que na verdade devia pertencer a uma coleção de carrinhos de ferro.
Mas sua dirigibilidade não impressiona tanto. Você guia por adivinhação – a direção não passa sensação alguma – e não há qualquer indício de que o motor está na parte de trás. Esportivo ele não é.
O que é uma boa coisa, porque afinal este é um carro projetado para as cidades que, incidentemente, tem a pegada para enfrentar também as estradas.
E seu visual é sensacional. Ele já é bonito e, com o escape duplo e a encantadora tomada de ar traseira para alimentar o turbo, fica excelente.
O que testei vinha com as faixas opcionais, o que me fez sentir como se tivesse 9 anos de idade e estivesse diante de um carrinho de rolimã. Ele me fez sorrir. E isso foi antes de chegar às coisas realmente impressionantes.
Uma noite eu saí com outro adulto na frente e três adolescentes atrás. Houve muita reclamação, mas o fato é que coubemos todos. E se eu acelerasse forte, o ronco do pequeno motor abafava as queixas.
O único problema é que, se você fizer isso, o motor esquenta, o que quer dizer que qualquer coisa que você tiver colocado no porta-malas esquenta também. Este é o único carro em que você pode transformar as compras da semana em uma omelete antes de chegar em casa.
Então aí está: um carro estiloso e prático com bom visual, que anda bem e o deixa feliz. Tudo por 14.000 libras (R$ 57.000).
Ele não ganhou muitos fãs na imprensa porque os jornalistas ainda acham que ele deveria ser como um 911. Mas eu gostei bastante dele, porque esse tipo de comparação nunca passou pela minha cabeça.