Sempre detestei o Land Rover Discovery. O primeiro modelo foi montado com algumas vigas de aço e pedaços das cinzas da Austin Rover.
Tinha um entre-eixos menor do que o do Mini atual, um visual idiota e era comprado principalmente por assassinos.
Eles gostavam do veículo porque, sob a casca feia e pouco confiável, havia uma tração 4×4 da Land Rover, o que quer dizer que ele podia ser usado para carregar o corpo das vítimas bem para dentro do mato, onde nunca seria encontrado.
Um dia a Land Rover decidiu que ele se parecia demais com um elefante num monociclo e lançou em 2004 um grande veículo quadradão de sete lugares, que tinha dois chassis.
Um engenheiro me explicou por que tinham feito isso, mas nada do que falou fazia sentido, já que o carro pesava 2,5 toneladas. Ele não passava sobre os obstáculos, mas os esmagava.
Porém, ao contrário da primeira versão, ele tinha como público-alvo mães de família.
Por isso, mesmo tendo todos os atributos para você sumir com um corpo decapitado, o marketing e a embalagem afirmavam que esse peso pesado servia para levar as crianças à escola.
Mas ele não era muito bom para isso, porque naquele tempo os engenheiros da Land Rover usavam calças camufladas e adoravam lama. Suspeito que a maioria nem sabia o que era uma criança.
E provavelmente é por isso que você tinha de usar as duas mãos para baixar a fileira de bancos do meio. O que era impossível se você estivesse carregando uma criança pequena. “Mas o que é uma criança pequena?”, teria dito alguém na Land Rover.
Também havia outros problemas, como o desaparecimento do porta-malas quando você levantava a última fileira de bancos.
O que queria dizer que seu cachorro teria de ser magro como aqueles cães de corrida e a cabeça das suas crianças ficaria a poucos centímetros do vidro traseiro.
Nunca achei que isso seria ideal, por isso, quando chegou a hora de eu comprar um carro familiar de sete assentos, escolhi o Volvo XC90 – e hoje já estou no meu terceiro.
Mas tudo isso é passado, porque agora há um novo Discovery, e a primeira coisa que você tem de saber é: seu visual é ridículo.
Visto de frente é ok, e se você olhar de soslaio a lateral também parece razoavelmente boa, mas no que eles estavam pensando quando desenharam a traseira?
O modelo antigo tinha a placa deslocada atrás porque o estepe ficava na parte externa.
Mas isso não ocorre no modelo novo. Então, por que manter a placa deslocada? Outro problema é o enorme tamanho da coisa.
Esse é um daqueles carros em que você passa a maior parte do tempo em ruas urbanas, esperando que ninguém venha no sentido oposto porque ele é largo demais para os dois passarem juntos.
Dito isso, o novo Volvo XC90 também é grande demais, mas seu tamanho se traduz em generoso espaço interno. Não é o caso do Disco.
Fui a uma festa no seu banco traseiro e desde o tempo das antigas minivans da Ford eu não me sentia tão desconfortável na parte de trás de um carro.
O assento era duro demais, havia pouco espaço para as pernas e o ajuste do encosto tinha só duas opções: totalmente vertical ou quase totalmente vertical. Isso é assento de companhia aérea de baixo custo.
Mas lá atrás as coisas ficam interessantes porque, quando abre a tampa traseira, você é recepcionado por uma parede de botões como deve ter na sala dos roteadores de wi-fi da nave Enterprise.
Isso significa que os bancos podem ser levantados e baixados individualmente usando eletricidade, o que é ótimo.
No entanto, antes de fazer isso, você tem de colocar sua criança no meio-fio, entrar no porta-malas e remover a barra na qual a cortina retrátil do porta-malas é armazenada.
Então, depois de remover essa barra e recolher seu filho do meio-fio, você tem um carro de sete lugares.
E, mesmo assim, apesar das dimensões externas, sobra um porta-malas ridiculamente pequeno.
A única vantagem nisso é que as crianças podem dizer ao professor: “Eu não trouxe o dever de casa porque não tinha espaço suficiente no carro”.
Como proposta prática para o dia a dia, mais uma vez o Disco é solenemente derrotado pelo grande Volvo.
E pelo Range Rover Sport, que também tem sete assentos.
Mas como é andar com o carro na prática? Muito bom.
A unidade a diesel chacoalha um pouco em marcha lenta, mas assim que você se move, ela se acalma em um gemido suave – que passa a um rugido bastante amável quando se pisa fundo.
Ele também tem uma aceleração decente e, como tem só um chassi, não pesa mais do que uma montanha, o que quer dizer que é razoavelmente econômico.
Além, é claro, de possuir todos os brinquedos da extensa caixa de truques off-road da Land Rover, o que vai lhe permitir adentrar bem mais no mato do que os BMW X5 da polícia britânica.
Porém, além dos assassinos, quem se importa com isso? Os fazendeiros hoje usam picapes da Mitsubishi e da Nissan, e estão certos.
Elas chegam a qualquer lugar e você pode enchê-las de carneiros e não se preocupar.
Jovens da cidade não seriam vistos em um Disco. Isso significa que eles tiveram um ano ruim e não puderam comprar um bom Range Rover.
E mães de família são mais bem servidas por um Volvo.
Se você for um off-roader casual, fazendo rali de velocidade amador e derrubando árvores pequenas nos fins de semana, o antigo Disco fazia sentido, mas o novo é emperiquitado e frágil demais.
E, caso seu coração bata por um Land Rover, há o Evoque, o incrivelmente bonito e muito atraente Velar e o correto, mas ainda brilhante, Range Rover.
Com todos eles espalhados pelo showroom, quem vai dizer “Hummm, sim. Eu quero o Discovery de visual idiota, por favor”?