O carro pode ser bom e bonito, mas se tem uma coisa pela qual o brasileiro preza é por peças de reposição. Para marcas que estão se instalando no Brasil agora, mais ainda: é um pilar importante para construir a credibilidade da marca e impacta na qualidade do seu pós-venda e, posteriormente, no valor de revenda dos seus carros.
Mostrar o que vem sendo feito para atender aos seus clientes se tornou importante. Desta vez, quem abriu seus estoques para visitação foi a GWM, que desde antes de começar a operar no Brasil, há pouco mais de um ano, começou a estabelecer um Centro de Distribuição de Peças em Cajamar, na Grande São Paulo.
O armazém é operado em parceria com o provedor logístico DSV, que também atende BMW, Mini e Ducati. O local é importante para garantir a rápida disponibilidade de peças, mas a estrutura da marca inclui os dois armazéns na China, 15 fornecedores locais e 45 concessionárias, que também servem como armazéns.
QUATRO RODAS visitou o Centro de Distribuição de Peças da GWM, que é o principal centro logístico da empresa no Brasil. Por lá, a empresa tem 4.100 posições de pallet e o objetivo é alcançar 10.000 posições ainda este ano.
Há disponibilidade de 3.550 peças, sendo 2.200 tipos para os Haval H6 e 1.500 tipos para o Ora 03, com algumas comuns a ambos veículos. No total, são 523.193 peças em estoque, o que permitira atender a clientela por 9 meses. Todo esse inventário está avaliado em R$ 13,5 milhões.
Outra conta importante é que esse estoque permite que quase seja possível montar um carro por completo só com peças de reposição. Os Haval têm 96% das suas peças disponíveis no Brasil, enquanto o Ora tem 97% das peças. A média do mercado varia de 93% a 95%.
Para efeito de comparação, em março, após lidar com um gargalo para envio de peças, a BYD abriu seu centro de peças no Espírito Santo. O galpão tem uma área de 5.000 m2 e 5.600 posições pallet, e estava sendo expandido para dobrar de tamanho até o fim de 2024. Na época, o estoque era de 370.000 peças, o que cobria 93% de componentes dos carros à venda pela BYD no Brasil àquela altura.
Operação de delivery
Um estoque robusto é fundamental para as fabricantes chinesas, justamente por causa do tempo de trânsito marítimo entre a China e o Brasil. A GWM fala em quatro meses desde a data do pedido até a entrega. Então o ideal é trabalhar quatro meses à frente. Em caso de urgência, porém, o transporte aéreo poderá solucionar uma eventual falta num prazo entre duas semanas e um mês.
As peças disponíveis são as mais variadas. Elas vão de componentes de alto giro, como itens de revisão e manutenção periódica, até itens de baixo giro, como baterias de alta voltagem dos modelos híbridos e elétricos, portas, para-choques, capôs e até módulos eletrônicos, sem esquecer dos parafusos e travas.
Não adianta, porém, ter as peças e não conseguir fazer com que cheguem ao carro que precisa. Esse é um outro desafio com estratégias de acordo com as prioridades.
Os itens de baixo giro ficam concentrados em Cajamar. Dali, leva-se entre um e cinco dias para chegar a qualquer concessionária GWM no Brasil por via aérea, ou entre dois e 10 dias por via rodoviária – que seria o único meio para o transporte de uma bateria de alta tensão, por exemplo. Também é possível que a entrega seja feita de carro, para diminuir o prazo de entrega.
Desde sua chegada ao Brasil, a GWM já vendeu cerca de 23.460 veículos. Deste total, 3.868 (16,5%) dos modelos já necessitaram de alguma peça, seja em revisão ou para serviços de funilaria. 55.575 peças foram utilizadas nessas trocas, com um nível de 98% de atendimento de pedidos a pronta entrega. De acordo com a marca, também é um número acima da média do mercado brasileiro, que estaria entre 90% e 95%.
Apesar da eficácia da atual forma de alimentação de estoque, a GWM pretende, nos próximos anos, nacionalizar muitas dessas peças aproveitando que começará a montar carros no Brasil no segundo semestre de 2025.
Sem empurroterapia
De acordo com a GWM, seu objetivo principal está em prever a demanda por peças e uma concessionária que não seguir as determinações da fabricante torna-se um problema.
Há um sistema que integra todos os armazéns e estoques de concessionárias, atualizado semanalmente para indicar a demanda dos produtos, disponibilidade e quantidade atual em estoque. A reposição é automática, seguindo uma política inspirada no conceito just-in-time da Toyota.
Esse controle inibe a concessionária a vender peças que o cliente não precisa, até porque não há bonificação para as concessionárias que vendem mais peças ou uma meta mensal para compra de peças.
Outra estratégia diferente do que está estabelecido no mercado é que a GWM só disponibiliza suas peças nas concessionárias, não vende a atacadistas, por exemplo. Mas usa esse monopólio para garantir que preço de todas as peças é sempre o mesmo, independente do estado ou do nível do estoque. Existe um acompanhamento das notas de venda por parte da fabricante para que não haja descontos ou sobrepreços nas lojas.