Com a saída da Ford do Brasil, o enorme complexo industrial da montadora na Bahia ficou vago. Neste momento, ainda não há planos concretos para os mais de 4,7 milhões de m² que incluem fábricas, laboratórios, escritórios e até uma estação de tratamento de esgoto.
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Preocupado com os bilhões em subsídios investidos desde a instalação da fabricante na Grande Salvador, o governador da Bahia, Rui Costa, foi ágil ao anunciar negociações com países asiáticos. E sites de notícia revelaram interesse da Caoa em usar a planta baiana em parceria com quatro chinesas: Great Wall, Changan, Geely e GAC.
Mas quem são essas?
A Great Wall Motors, no caso, é nada menos que líder nos segmentos de SUVs e picapes do colossal mercado chinês — que mesmo em crise vendeu mais de 25 milhões de carros em 2020.
A GWM chegou a anunciar uma fábrica no Brasil em 2013, com seus executivos visitando Ribeirão Preto, Guarulhos, Joinville e, justamente, os arredores de Salvador. Entretanto, os planos não se concretizaram.
Desde então a marca expandiu sua atuação para locais como Rússia — onde tem uma fábrica capaz de produzir 150 mil unidades por ano —, Austrália e Europa Ocidental.
Na América do Sul, está presente em vizinhos como Paraguai, Chile, Uruguai e Argentina, onde tem mais de dez concessionárias. Um dos seus principais produtos na América do Sul é a família de picapes Série P, que almeja ocupar um meio-termo entre picapes médias e grandes.
Sua patente inclusive foi registrada no Brasil ano passado, e lembra bastante a Hilux Rugged-X australiana. A Great Wall nunca desistiu de se instalar no Brasil e em 2020 ainda buscava meios de se instalar no país.
Se a GWM ainda consolida sua expansão internacional, a Geely, por outro lado, já ocupa posição de prestígio no mercado automotivo global.
Como boa corporação chinesa, a marca teve crescimento rapidíssimo: em 35 anos foi de uma fabricante de geladeiras a proprietária de marcas como Volvo e Lotus.
Além das duas e de sua marca homônima, o conglomerado também é dono da malaia Proton e da premium Lynk & Co, que usa a experiência sueca para produzir carros de luxo voltados ao público chinês.
Lançamento recente, o Geely Icon teve mais de 30.000 unidades vendidas na primeira semana. Além do design ousado, chamou atenção por ter filtro de ar-condicionado que promete impedir a entrada do vírus Covid-19 na cabine. Mas o motor 1.5 turbo, que atua em conjunto com um sistema híbrido de 48V, capaz de gerar um total de 190 cv de potência e 30,5 kgfm de torque também é um bom argumento.
Outra novidade é o Geely Preface, baseado na mesma plataforma CMA usada pelo Volvo XC40 e também com motor 1.5 de três cilindros dos Volvo. Se na Volvo é uma plataforma para compactos, este sedã tem 2,80 m de entre eixos – apenas 7 cm a menos que o Volvo S60.
Não se surpreenda se a Geely fincar bandeira em solo baiano, já que desde o ano passado há rumores que a fabricante chinesa ensaia seu retorno ao Brasil. Sim, você leu certo: a Geely chegou a vender seus carros por aqui entre 2015 e 2017 por meio do grupo Gandini, que representa a Kia ao País há décadas.
Segundo o jornalista Fernando Calmon, a ideia da vez era uma parceria com a HPE Automotores, aproveitando a infraestrutura usada na produção de Mitsubishi e Suzuki. Entretanto, a oportunidade de um complexo fabril para chamar de seu em Camaçari pode mudar tudo.
Na sua primeira passagem pelo Brasil, a Geely — também a maior acionista do grupo Daimler — vendeu poucos milhares de carros, principalmente os quase desconhecidos sedã EC7 e o hatch GC2.
Dejá vù
Lembra da Chana, que tentou a sorte no Brasil há pouco mais de 10 anos? É uma das marcas do centenário grupo Changan, fundado em 1862 ainda na China pré-revolucionária.
O conglomerado ficou no Brasil por dez anos. Em 2016, quando houve falência da importadora Tricos Districar, a Chana disse adeus.
Três anos depois, a marca retornou com planos grandiosos, pretendendo, curiosamente, utilizar a antiga fábrica da Ford em São Bernardo do Campo. A ideia era formar uma parceria também com a Caoa e fabricar SUVs menores que os da Caoa Chery e até carros elétricos. Entretanto, ficou por isso mesmo.
Lá fora, a marca tem linha completa: subcompactos, peruas, SUVs, sedãs, etc — vários desses com opções de motorização elétrica. Há também a joint venture Changan-Ford, que fabrica modelos como Focus, Mondeo, Explorer e Edge para a China. Amigos, amigos, negócios à parte.
A Peugeot Landtrek, com lançamento no Brasil previsto para 2022, também foi desenvolvida em joint-venture entre a Peugeot e a Changan.
Estreante por aqui?
Esse tipo de parceria é a base da última cotada, GAC, que possui acordos de fabricação em solo chinês com Fiat, Honda, Isuzu, Mitsubishi e Toyota.
A sexagenária empresa também produz linhas próprias sob as marcas Trumpchi, Changfeng e Aion — essa última exclusivamente focada em elétricos. O Aion V é um de seus carros mais recentes e promete autonomia de até 600 km por recarga.
Ao contrário das outras marcas, a GAC sempre teve atuação tímida no exterior, com seus principais mercados além-China sendo o Catar e Arábia Saudita.
O grupo decidiu ousar em 2018 e anunciou, para o fim de 2019, o lançamento do SUV Trumpchi GS8 no mercado dos Estados Unidos. Nesse mesmo ano, entretanto, a guerra comercial entre as potências esquentou e nada saiu do papel.
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