Ford aposta em controle de qualidade para fazer a Ranger passar a Hilux
Com vendas em alta, Ford Ranger está prestes a ser vice-líder no segmento. Para vencer a Hilux, porém, o preço a se pagar é alto e a Ford topou tentar
O timing para anunciar o fechamento de fábricas no Brasil foi cruel com a Ford, mas a maré se inverteu. Enquanto os baianos de Camaçari vão aprendendo mandarim com a BYD, a montadora norte-americana vive, com a Ranger, seu maior êxito na fase de importadora.
A picape média foi quem estreou a nova geração do segmento, sem abrir mão de preços atraentes. Em um ano, roubou vendas de todas as concorrentes e está prestes a ultrapassar a Chevrolet S10, assumindo a vice-liderança. Mas parece pouco frente à ambição de superar a Toyota Hilux.
O maior deles, agora, é a regionalização dos motores das diferentes versões da Ranger. Tanto o Lion — V6 3.0 turbodiesel de 250 cv/61,2 kgfm — quanto o Panther — 2.0 turbodiesel de 170 cv/41,3 kgfm — serão produzidos na fábrica de General Pacheco, nas vizinhanças de Buenos Aires, de onde também sai a caminhonete.
É uma medida útil para a diminuição dos custos, dado que são as versões mais baratas da Ford Ranger que têm, na visão de executivos, maior espaço a conquistar. Mas já que a fábrica passaria por reformas inevitáveis, esse tempo ocioso foi aproveitado para a melhoria de qualidade. Palavra importante na guerra contra a Toyota.
Questão de reputação
Mesmo vice no ranking de vendas, a Ranger terá que crescer quase 50% para alcançar a Hilux. Prevê-se uma guerra longa, de atrito, que se justifica na fidelidade: é difícil um dono de picape mudar de marca. Quando muda, porém, também é com a intenção de ficar.
A nova Ranger sendo indiscutivelmente mais tecnológica que a rival, já facilita. Isso não só em telas ou automação veicular, mas na construção do chassis e detalhes ergonômicos que constatamos nos seus diferentes testes. Em seguida, é hora de consolidar o esforço de cada cliente ‘convertido’.
Os mais de R$ 3 bi gastos no preparo da fábrica incluíram métodos avançados de treinamento, que resultaram numa média de falhas bem menor do que a média global. A planta também estreia novos equipamentos de inspeção microscópica, pressurização de galpões inteiros para evitar entrada de poeiras e grãozinhos, por exemplo, e controle via realidade virtual/aumentada.
No pós-venda, a coisa é mais difícil, já que a Toyota mantém fábricas no Brasil e tem maior número de concessionárias. Nesse caso, a saída é a tecnologia, com atendentes que, remota e automaticamente, podem constatar defeitos ocultos na Ranger e ligar para os donos.
O serviço FordPass Connect é tratado com elevada prioridade, já que a comunicação via internet tem potencial de transpor barreiras geográficas e ainda agregar esse valor ‘hi-tech’ ao produto. Mas estamos falando de usuários mais velhos, que usarão o serviço aos poucos e, principalmente, caso seja notavelmente melhor e necessário frente à alternativa tradicional.
Matematicamente, cada convertido vale por dois também por roubar um dono do Toyota. A teoria ainda mostra que uma satisfação acima da média pode gerar o estimado “efeito de rede”, que é a poder de persuasão que um usuário de produto pode ter na sua adesão por outros. Um nome mais refinado para o famosa boca a boca: de pouco em pouco, quem tem uma nova Ranger testemunhará sua satisfação. Ao menos é isso que a Ford busca.