Palco de grandes espetáculos, o cabaré Lido da Champs-Élysées foi escolhido para a apresentação do Ferrari Testarossa, na véspera do Salão de Paris de 1984.
Batizado em homenagem ao Ferrari 250 Testa Rossa de 1957, ele manteve o motor central-traseiro com 12 cilindros opostos do antecessor Berlinetta Boxer e surpreendeu pela técnica e estilo.
O Testarossa foi o resultado do projeto F110, que teve como objetivo eliminar os principais defeitos do modelo BB 512i. A falta de um porta-malas adequado e o aquecimento do habitáculo causado pelos dutos do radiador dianteiro foram sanados com a adoção de radiadores laterais, devidamente ocultos por aletas longitudinais integradas à carroceria.
As laterais eram o ponto de maior destaque no desenho assinado pela equipe de Leonardo Fioravanti no estúdio Pininfarina. O esportivo tinha porte imponente, com 4,48 m de comprimento, 1,97 m de largura e 1,13 m de altura.
O chassi tubular, evolução daquele empregado no BB 512i, foi redimensionado para melhorar o espaço interno sem comprometer a rigidez torcional necessária para conter os 390 cv do motor boxer de 5 litros acoplado ao câmbio manual de cinco marchas.
O engenheiro Nicola Materazzi desenvolveu os cabeçotes com quatro válvulas por cilindro e tampas vermelhas que justificavam o nome Testarossa (cabeça vermelha).
Era o motor mais potente já adotado em um automóvel de produção em série, mérito da injeção mecânica Bosch K-Jetronic e da ignição Magneti Marelli Microplex. Ia de 0 a 96 km/h em 5,2 segundos com máxima de 275 km/h.
Mas números não descrevem a sensação de conduzir um esportivo surpreendentemente prático, com espaço interno adequado, ergonomia notável e até ar-condicionado.
As suspensões independentes por braços sobrepostos garantiam comportamento neutro e conforto de rodagem. O peso da direção era compensado pela precisão em altas velocidades. O sistema de freios contava com discos ventilados nas quatro rodas.
As unidades destinadas ao mercado europeu recebiam os pneus Michelin TRX: os dianteiros na medida 240/45 e os traseiros na medida 280/45 com aros específicos de 415 milímetros. Demais mercados contavam com pneus Michelin, Bridge-stone ou Goodyear, dianteiros 225/50 VR 16 e traseiros 255/50 VR 16.
Era mais civilizado que o Lamborghini Countach LP5000 QV e menos refinado que o Aston Martin V8 Vantage. O consumo médio de 7 km/l fazia dele um GT racional: o tanque de 115 litros garantia autonomia razoável e a Ferrari ainda oferecia um jogo de seis malas Schedoni, dimensionadas para caber no porta-malas dianteiro e no espaço atrás dos bancos.
A elevada demanda fez o valor do Testarossa disparar: a produção superou a marca das 1.000 unidades anuais em 1987 e, três anos depois, a casa de Maranello fabricava cerca de seis unidades por dia. No total, 7.177 unidades foram produzidas entre 1984 e 1991: um único conversível foi produzido em 1986 para o industrial Gianni Agnelli, presidente honorário da Fiat.
O Testarossa foi sucedido pelo 512 TR em 1992. O estilo foi atualizado com cantos arredondados, grade separada dos faróis e novas rodas aro 18. A injeção Bosch Motronic fez a potência saltar para 428 cv, suficiente para acelerar de 0 a 100 km/h em 4,8 segundos, com máxima de 313 km/h.
Foram produzidas 2.261 unidades até 1994. A saga dos motores boxer chegaria ao fim com o F512 M (Modificata). Faróis fixos, lanternas traseiras circulares, potência de 440 cv e novas rodas marcaram a despedida desta última variante, que teve apenas 501 unidades, entre 1994 e 1996.
Foi sucedido pelo 550 Maranello, que marcou o retorno da Ferrari à configuração do V12 dianteiro.
Ficha Técnica
Ferrari Testarossa 1988
Motor: 12 cilindros opostos; 4,9 litros; 390 cv a 6.300 rpm; 50,1 kgfm a 4.500 rpm
Câmbio: manual, 5 marchas
Carroceria: fechada, 2 portas, 2 lugares
Dimensões: comprimento, 448 cm; largura, 197 cm; altura, 113 cm; entre-eixos, 255 cm; peso, 1.669 kg
Desempenho: 0 a 96 km/h em 5,2 segundos; velocidade máxima de 275 km/h
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