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Espera de 10 anos: como Pequim limita até a venda de carros elétricos

Segunda maior cidade da China, Pequim tem 22 milhões de habitantes e faz o possível para limitar o número de carros nas ruas

Por Henrique Rodriguez, de Pequim (China)
Atualizado em 3 Maio 2024, 12h01 - Publicado em 24 abr 2024, 08h30
Trânsito em Pequim
 (Henrique Rodriguez/Quatro Rodas)
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Pequim, 8 horas da manhã de uma quarta-feira. Nosso ônibus está no segundo anel viário da cidade (contando do centro para fora). É uma via expressa sem semáforos e sempre cruzada por passarelas e viadutos. Em meia hora percorremos apenas 8 quilômetros. Já passei por situações piores em São Paulo, mas poderia ser pior se o governo de Pequim não tivesse tantos meios de restringir a circulação e até o registro de carros novos.

Assim como na cidade de São Paulo, existe rodízio de veículos. Todos os dias dois números finais das placas são proibidos de circular. Carros de outras províncias ainda têm um limite de dias por mês para circular pela cidade.

Mas isso só é um problema para o cidadão de Pequim que pode e, o mais difícil, consegue ter carro. Não basta ter dinheiro: sorte e paciência também são necessários.

Ao contrário de outras grandes cidades da China, Pequim ainda não tem os carros elétricos como maioria. Você sempre verá um ao seu redor, identificados pela placa verde. Mas os carros a combustão, com placas azuis, são maioria.

Trânsito em Pequim
Carros com placas azuis têm motor a combustão e ainda são maioria em Pequim (Henrique Rodriguez/Quatro Rodas)
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Os locais dizem que um dos motivos é o frio do inverno (a temperatura na cidade varia entre – 20°C e 40°C ao longo do ano), que reduz a autonomia da bateria. Outro é que Pequim não restringe a circulação de carros a combustão em certos locais da cidade para estimular o uso de elétricos, como faz Shenzhen (esta sim, uma cidade com muitos carros elétricos).

Antes de comprar um carro, os pequineses precisam ter uma placa. Hoje, a cidade libera cerca de 6.000 placas por mês, por meio de sorteio. A inscrição custa cerca R$ 1.500 e há 2.180 candidatos por placa. Em média, demora 10 anos para ser contemplado. E ao ser contemplado, existe um custo: 200.000 RMB, o equivalente a cerca de R$ 145.000. 

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Pode ser pior, pois quem não é de Pequim mas emigrou para a cidade ainda precisará pagar impostos locais por cinco anos antes de poder participar do sorteio.

No caso das placas verdes, para carros elétricos, há uma fila de espera. Isso porque o governo local precisa limitar as emissões de licenças, pois a demanda é muito maior do que a cidade daria conta. Desta forma, a espera pela placa verde costuma ser de cinco anos. 

Trânsito em Pequim
(Henrique Rodriguez/Quatro Rodas)
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Mesmo assim, 70% das novas placas distribuídas anualmente são para carros elétricos. E tem que ser elétrico de verdade, pois carros híbridos também recebem placas azuis. Então a tendência é que, pouco a pouco, os elétricos tornem-se maioria na capital da China.

Embora outras cidades, como Xangai e Guangzhou, também tenham restrições, Pequim é uma das cidades que mais restringe a liberação de novas placas. Em 2023 liberaram apenas 100.000 novas placas, o que corresponde a cerca de um quinto dos novos carros vendidos na cidade.

Cada morador de Pequim só pode ter um carro registrado na cidade (ou seja, uma placa que poderá ser passada ao seu próximo carro). E carros de outras províncias só podem circular pela cidade sete dias por mês. E, embora as placas sejam propriedade privada e possam ser transmitidas como herança, elas não podem ser vendidas. Não de forma legal.

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Nossa guia conta um caso extremo do mercado ilegal enquanto o ônibus encara o anda-e-para. Uma senhora teria se casado com um rapaz que tinha uma placa, que já não usava, de propósito. Fizeram um divórcio rapidamente: ela ficou com a placa e ele, com cerca de 15.000 dólares. Mas não deve ter dado muito certo, pois o caso foi parar nos jornais.

Existem boas alternativas aos carros em Pequim. Há linhas do ônibus públicos (alguns ainda a diesel), 807 km de linhas de metrô, com 280 estações no total, cobrindo toda a região metropolitana, e bicicletas compartilhadas: se a passagem de metrô custa 1 dólar, as bicicletas compartilhadas custam dois dólares por mês. E ainda existem as scooter elétricas, que costumam circular às dezenas, em alta velocidade, na beira das calçadas. Haja paciência.

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