Muita coisa mudou desde março de 2014, quando a Dr. Chrysler apareceu em reportagem sobre oficinas mecânicas que se dedicavam a apenas uma marca. A repercussão foi tamanha, que até o próprio nome da oficina mudou. E isso tem uma explicação bem simples.
O endereço é o mesmo, na na zona norte de São Paulo, e continua especializada no atendimento de modelos das marcas Chrysler, Dodge e Jeep. Mas agora é Doctor American Car.
“Após a publicação da matéria na Quatro Rodas e também a exposição em outros veículos, fui procurado, em 2015, por um oficial de justiça, pois a marca dona da Chrysler exigia que eu me tornasse uma autorizada oficial para ter o direito de utilizar o nome”, conta Sandro dos Santos, 45 anos, sócio-proprietário da Doctor American Car.
O empresário conta que foi um susto e chegou a calcular qual seria o investimento para tornar-se uma autorizada: poderia passar dos 3 milhões de reais. “Mesmo com o bom movimento da oficina, cerca de 80 carros por mês, esse investimento era inviável e, por isso, resolvi trocar o nome e resolver a questão”, afirma.
O nome Doctor American Car já estava registrado e o empresário teve que transformar toda a identidade visual da oficina. “Na época foi bem conturbado, mas esse nome me trouxe sorte e cresci muito mais depois dessa questão.”
Vida de influencer
Em abril de 2020, um mês após o início da pandemia, o telefone da oficina praticamente não tocou e o salão de mais de 1.000 m² ficou vazio. Diante desse cenário, Santos se reinventou.
“A oficina já tinha nome e eu sempre fui requisitado como consultor de oficinas em todo o Brasil, resolvi usar isso a meu favor e criei a conta do Doctor American Car no instagram”, conta. “Já de cara comecei a publicar stories com o nome chão de oficina mostrando exatamente o dia a dia e tivemos uma repercussão enorme e também muita interação.”
Atualmente, são 114.000 seguidores e Santos salienta que o conteúdo que produz é direcionado tanto para outros reparadores quanto para os clientes. “Nos destaques ensino como agir em relação a cada luz de alerta que acende no painel desses modelos americanos e também indico cerca de 100 oficinas multimarcas que atendem em todo Brasil”, diz Santos.
Após a empreitada, Santos se orgulha em dizer que as parcerias com marcas automotivas que faz para o seu Instagram trouxe uma nova fonte de renda, mas que tudo gira em torno da oficina.
Principais problemas mecânicos
Há 23 anos, o empresário tem oficina especializada no atendimento de modelos produzidos pelas marcas americanas que faziam parte do Grupo Chrysler. Não à toa, sabe de cor os defeitos que podem ser considerados crônicos.
“Com o sucesso de vendas da Jeep é natural que tenhamos recebido cada vez mais modelos da marca por aqui e nos chama atenção problemas no módulo de injeção, transmissão e ABS. É sempre em SUVs com mais de cinco anos de uso”, afirma.
Santos acredita que esse defeito esteja relacionado com o asfalto mal conservado das cidades brasileiras e que esses módulos não foram preparados para lidar com tanto impacto.
Mas essa falha não aparece em modelos mais recentes, como Renegade e Compass, que teriam passado por uma “tropicalização” mais adequada. Mas, lembra Santos, “só o tempo irá garantir que o problema foi solucionado”.
Outra questão constante é o defeito no trocador de calor do câmbio automático que equipa o Chrysler 300 C ou mesmo Grand Cherokee. A falha ocorre devido a uma imperfeição no resfriador, que depois de algum tempo, permite a passagem de água do sistema de arrefecimento para dentro da transmissão, causando destruição da peça.
Esse, inclusive, é o mesmo defeito que donos de Renegade e Compass têm encontrado, como revela reportagem recente da seção Autodefesa.
Para concluir, o empresário reclama da falta de peças com qualidade no mercado de reparação e do excesso de peças chinesas, de qualidade questionável. “Muitas vezes tenho que importar dos EUA a peça adequada, fazendo o cliente esperar até um mês pela solução do problema”, afirma.
De olho no futuro
Santos entende que os motores a combustão não são o futuro e tratou de se reinventar mais uma vez. Criou uma oficina chamada Thunder, que atenderá apenas carros elétricos. Já tem, inclusive, parceria com a BYD para atender os veículos comerciais da marca que estão em circulação.
“Ainda não sabemos ao certo quando teremos apenas modelos elétricos por aqui, mas a tecnologia é uma realidade e precisamos nos adiantar, aprender sobre ela e prestar o melhor serviço possível”, conclui Santos.
Além de carros, a oficina atenderá motos e bicicletas. A única exigência é serem movidos exclusivamente por motores elétricos: nem os híbridos serão aceitos.