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Entrevista: Sarina Arnold

Gerente de P&D da Shell revela os bastidores do desenvolvimento de um novo combustível

Por Vitor Matsubara | Foto: divulgação
Atualizado em 9 nov 2016, 13h59 - Publicado em 26 ago 2014, 16h16
geral

Sarina Arnold traduz perfeitamente o velho ditado de que “as aparências enganam”. Esta engenheira química trabalha na Shell há 22 anos, tendo começado sua carreira dentro da empresa na área de Pesquisa e Desenvolvimento no Centro de Tecnologia da Shell, em Amsterdã. Nos últimos 13 anos ela se dedicou a diversas pesquisas nas áreas de tecnologia de combustíveis, de qualidade do ar e emissões a biocombustíveis.

Atualmente gerenciando projetos de P&D, Sarina é uma das responsáveis pelo projeto da nova gasolina Shell V-Power Nitro+. O combustível que já é comercializado em 15 países acaba de ser lançado no Brasil, prometendo reduzir o atrito entre as peças internas do motor e ainda limpar depósitos de partículas gerados por abastecimentos com combustível de má qualidade, que podem afetar o desempenho do veículo.

Em entrevista a QUATRO RODAS, Sarina detalhou o processo de desenvolvimento de um novo combustível, falou sobre a importância do etanol e comentou sobre as particularidades da gasolina utilizada na Fórmula 1, categoria na qual a Shell marca presença como parceira da Scuderia Ferrari.

Quanto tempo é necessário para se desenvolver um novo combustível?

Normalmente o desenvolvimento de um novo produto leva alguns anos para ser concluído. No caso de um produto feito para ser vendido em vários países como a V-Power Nitro+ (gasolina que acaba de chegar ao Brasil), todo o processo leva de dois a três anos. Esta demora acontece porque realizamos várias etapas, que vão desde o estudo das condições mercadológicas de cada país até a realização de testes com veículos locais – como fizemos aqui no Brasil.

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Como é realizado este processo de desenvolvimento?

Tudo começa com uma pesquisa junto aos consumidores para descobrirmos suas preferências. Aplicamos questionários por escrito e entrevistas presenciais. Muita gente costuma nos pedir para desenvolver um combustível mais eficiente e que polua menos. Com as respostas em mãos, vamos para nossos laboratórios e estudamos o que é possível fazer. É impossível saber como o combustível vai funcionar até realizarmos os primeiros testes com motores. A partir daí, iniciamos os testes com veículos vendidos localmente. Esta etapa pode levar até seis meses, pelo menos até obtermos informações suficientes para autorizarmos as vendas do combustível.

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Quais são as diferenças do combustível utilizado em carros de passeio para o combustível que abastece os carros de rua?

O combustível utilizado em carros de corridas precisa seguir uma série de normas fornecidas pela FIA. No caso da Fórmula 1, a federação exige que 99% dos componentes presentes na fórmula dos combustíveis utilizados na categoria precisam estar presentes nos combustíveis encontrados em qualquer posto. Esta sinergia de componentes facilita a transição das tecnologias das pistas para as ruas. Foi o que aconteceu com a V-Power Nitro+, que traz como um dos principais benefícios a redução de fricção. Esta tecnologia foi desenvolvida para a F-1 em 2005, e agora é oferecida para os carros de passeio.

Podemos considerar a Fórmula 1 como um “laboratório” para o desenvolvimento de novas tecnologias?

Sim, e este é um bom termo para classificar nossos trabalhos na F-1. Construímos um laboratório muito moderno feito especialmente para a categoria, capaz de fazer vários tipos de testes. Todas as informações coletadas nestes testes são aproveitadas no desenvolvimento dos combustíveis para veículos de passeio. Não bastasse toda esta infra-estrutura à disposição da Ferrari, os pilotos da escuderia também nos ajudam participando destes testes e fornecendo informações a respeito do rendimento do combustível no veículo. Este feedback é fundamental para nós, complementando os dados coletados por nossos profissionais.

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Por fim, falando sobre biocombustíveis, qual é a importância do etanol para a Shell?

Hoje o etanol é o biocombustível mais presente em todo o mundo. Uma de suas vantagens é sua versatilidade, pois ele pode ser feito a partir de várias fontes naturais. Se no Brasil o etanol vem da cana de açúcar, nos EUA ele pode ser feito a partir do milho e do trigo, apenas citando dois exemplos. Além disso, o etanol já está sendo utilizado em várias partes do mundo. As leis dos EUA exigem que a gasolina precisa ter 10% de etanol em sua composição, enquanto na Europa ele está estreando aos poucos, chegando a responder por 7% da fórmula da gasolina. Por isso, é um combustível bastante importante para nós.

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