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Ensopado à moda do chefe

O Aston Martin Vanquish é um objeto de imensa beleza, com motor fabuloso, uma verdadeira obra prima. mas… Sempre que rearrumo os móveis do quarto ou da sala como eu gosto, logo decido que não gostei. Tudo começou na minha sala de estudos na escola. Eu tinha que dividi-la com outros cinco garotos mais novos, […]

Por Jeremy Clarkson
22 fev 2013, 12h54
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  • O Aston Martin Vanquish é um objeto de imensa beleza, com motor fabuloso, uma verdadeira obra prima. mas…

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    Sempre que rearrumo os móveis do quarto ou da sala como eu gosto, logo decido que não gostei. Tudo começou na minha sala de estudos na escola. Eu tinha que dividi-la com outros cinco garotos mais novos, o que significava cinco mesas e cinco cadeiras. E quase todo dia eu tentava algo um pouquinho diferente. Normalmente eram quatro garotos compartilhando uma mesa e eu usando todas as outras para os diversos componentes do meu aparelho de som, que por razões estéticas precisavam ser dispostos horizontalmente em um dia e verticalmente no outro.

    Acho que é por isso que eu me daria bem como chefe da Aston Martin. É uma fábrica pequena, com recursos limitados, e nenhuma grande empresa proprietária para ajudar com a economia em escala na compra de componentes. A Bentley pode pedir a seus mestres da Volkswagen para fazer barulho quando negocia
um novo fornecimento de freios.
 A Rolls-Royce pode recorrer à
 BMW e a Ferrari à Fiat. Mas a
Aston tem de ir à ZF, fabricante 
alemã de caixas de câmbio, e 
dizer: “Por favor, senhor, podemos ter mais alguns?” E normal
mente a resposta é: “Nein, Englander”. Ela tem de produzir carros usando o que conseguir. E o que ela conseguiu foram dois motores. E um design básico.

    Começou com o DB9. Um carro excelente, elegante e rápido. Ele anunciou uma virada na empresa e muitos foram vendidos. Então um novo carro foi lançado: o Vantage V8. Para os olhos não treinados, parecia bem semelhante ao DB9, mas para começo de conversa ele tinha um motor diferente e era um pouco mais esportivo. Então, foi equipado com o mesmo motor que o DB9. E o DB9 recebeu umas mexidinhas para se tornar o DBS, um carro brilhante, mas caro. Então, algumas novas alterações foram feitas para criar o Virage. E você também pode comprar a maioria desses modelos tanto na configuração cupê como conversível. Eram os engenheiros da Aston em minha sala de estudos, reorganizando de infinitas maneiras as mesmas peças de mobília.

    Agora eles as reorganizaram novamente. O DBS e o Virage se foram e no lugar temos o carro que você vê aqui. Ele nem sequer recebeu um nome novo. Em vez disso, mexeram nos fichários da empresa e encontraram o velho nome Vanquish.

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    Você pode se lembrar do primeiro esforço. Eu me lembro. Especialmente porque o resultado foi bem ruinzinho. Sim, ele tinha preço alto e um grande V12 feito a partir da junção de dois V6 Ford. E sim, ele era bem rápido. Mas apenas na teoria. Na prática, ele ia de 0 a 6000 rpm em uma embreagem. O novo carro usa um nome antigo e o mesmo motor básico presente no DB9, DBS, Virage e no Vantage V12. O mesmo estilo básico, as mesmas técnicas de construção e o mesmo câmbio automático de seis marchas do feirão de ponta de estoque da ZF. E o preço para essa reorganização? 189 995 libras (620 000 reais).

    Também há outros problemas. Esse é um carro feito a partir de um inteligente monocoque de componentes de alumínio e fibra de carbono unidos por colagem. Ele possui barras de proteção contra impactos laterais de alumínio. Deveria ser tão leve que, em vez de freios de mão, precisaria de cabos de amarração para não sair flutuando. No entanto, ele pesa mais de 1,7 tonelada. Talvez os bancos sejam estofados com lingotes de ouro. Parece um carro tipo ensopado de legumes. À primeira vista parece apetitoso, até você perceber que está comendo sobras. Mas mesmo assim…

    Embora o perfil possa ser familiar, não há dúvidas de que as mexidas no estilo foram extremamente bem-sucedidas. É um carro que enfeitiça pela beleza. A nova Ferrari F12 é um carro bonito o suficiente para fazer um homem crescido desmaiar, mas o Vanquish é ainda melhor. E é encantador por dentro também. O velho GPS Volvo foi substituído por um sistema que informa para onde você está indo, em vez de onde você esteve. Os botõezinhos que davam trabalho às vistas menos aguçadas dos modelos anteriores foram trocados por botões com “feedback tátil”, que vibram ligeiramente quando você os toca. Por quê? Não tenho ideia, mas é legal.

    Graças a um túnel de transmissão menor, há mais espaço do que em modelos anteriores. Tanto é verdade que você pode pedir o carro com bancos traseiros e levar pessoas neles. Até com cabeças e pernas. E então temos o estofamento. Parece plástico-bolha feito de couro, é maravilhoso. Ainda tem um bom porta-malas e estilo. É um carro de categoria mundial. É um iPhone em um mar de baquelite.

    E tem mais. O motor é uma obra-prima. Ele fornece quase 11% mais potência que o do DBS, ou seja, 573 cv. E, para lembrá-lo de que ela está lá, o motor ruge sempre que seu pé chega perto do acelerador. Porém, ele é mais do que apenas o efeito sonoro: é a sensação de que o motor não são milhares de partes zunindo sob o olhar atento de um senhor eletrônico. Ele parece um único grande músculo – uma montanha de torque. Barulhento, mas preguiçoso.

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    Normalmente eu não sou muito fã de motores V12. Eu sempre temo que umV8 faça basicamente o mesmo trabalho, com complexidade bem menor e muito menos oportunidades de algo dar errado. Mas o V12 do Vanquish é de um esplendor tão ímpar que estou preparado para abandonar meus temores.

    O câmbio combina com o conjunto. Quase todos os rivais do Vanquish são equipados com caixas automatizadas de oito marchas com trocas manuais por borboletas. Elas são boas para o meio ambiente, pois gastam menos combustível, e também quando você está na pista de corrida. Mas em baixas velocidades, no trânsito, quando você tem um milionésimo de segundo para aproveitar uma brecha, elas são meio burrinhas, hesitantes e sacolejantes. Aí o Aston marca pontos. Ele tem borboletas no volante conectadas a um câmbio automático. Pode ser antiquado, mas na cidade funciona muito, muito melhor.

    E na estrada? Será que o “carro ensopado de legumes” é realmente páreo para seus rivais mais modernos? A resposta rápida é não. Você sente o peso, que faz o carro parecer maior e mais intimidador do que ele realmente é. Ele não flui. Não importa realmente se você seleciona o modo Sport ou coloca a suspensão no modo “loucamente duro”, o Vanquish não é de fazer cair o queixo como um McLaren MP4-12C ou uma Ferrari California. Ele não passa a sensação de ser especial.

    Por se tratar de um carro pré-produção, talvez não seja justo dizer que a tampa do porta-malas quebrou e o vidro do passageiro estava vacilante. Se supusermos que esses problemas serão resolvidos até o carro começar a ser vendido – o que nunca foi algo 100% seguro com a Aston Martin no passado –, então o que temos aqui? Bem, um objeto de imensa beleza, com motor fabuloso. De várias maneiras, você poderia chamá-lo de uma interpretação britânica moderna de um muscle car. E isso seria ótimo. Mas receio que a Aston Martin tenha chegado a um ponto em que todos nós podemos ver este carro pelo que ele realmente é. Um modelo novo que, na verdade, não é realmente novo.

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