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Em meio a ‘greve’ de motoristas, taxa da Uber em corridas supera os 40%

Há muitas reclamações quanto ao cancelamento de viagens e ao longo tempo de espera e a explicação pode estar na redução do custo-benefício para o motorista

Por Isadora Carvalho Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 22 set 2021, 20h51 - Publicado em 22 set 2021, 18h35
UBER
Tempo longo de espera por motoristas de aplicativos estão entre as reclamações (Antonio Milena/Veja)

A chegada dos aplicativos de transporte aos grandes centros brasileiros, há sete anos, iniciou uma revolução na mobilidade urbana. Houve até quem vendesse o carro próprio, pois na ponta do lápis fazer deslocamentos urbanos pelos apps havia se tornado mais vantajoso financeiramente. 

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Quem tomou essa decisão talvez esteja se questionando se foi a melhor escolha. Explico: são inúmeras as queixas de usuários quanto ao cancelamento de corridas pelos motoristas e também ao longo tempo de espera. 

As reclamações proliferaram nas redes sociais recentemente, mas o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) também divulgou um aumento das queixas formais ao serviço prestados pelos aplicativos de transporte nos últimos meses.

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Comprovante Uber 2
Com nossa reportagem, uma corrida de R$ 20,96 rendeu ganho de R$ 15,83. A Uber ficou com 24,5% (Henrique Rodriguez/Quatro Rodas)

O que tem causado as desistências é simples de entender: se o trajeto até o passageiro for longo e a viagem for curta, o motorista tende a cancelar, pois estará pagando pra trabalhar. Ele prefere desistir em favor de um passageiro que está mais próximo. 

“Nós atualmente aconselhamos que o motorista não aceite nenhuma corrida com o cliente a mais de 2 km de distância, pois a conta não vai fechar”, diz Eduardo Lima, presidente da Associação dos Motoristas de Aplicativo de São Paulo (Amasp). 

Lima aponta o custo proibitivo dos combustíveis e da locação de veículos, que não foi compensado pelo reajuste nos ganhos dos motoristas, baixo em comparação como os principais problemas atuais. “Desde 2015 nós pleiteamos uma atualização da tarifa que, agora, foi reajustada de 10 a 35% – esse aumento é ineficiente e além disso não sabemos quais são os critérios adotados para conseguir esse reajuste máximo, nenhum dos associados conseguiu atingir esse percentual.”

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Uber
(Acervo/Quatro Rodas)

Questionada pela nossa reportagem, a Uber, por meio de nota oficial, confirmou o reajuste para Grande SP de 10 a 35% e afirmou que a variação é dinâmica e depende de uma série de fatores. Já a 99 argumentou que o reajuste nos ganhos dos motoristas foi de 10% e 25%, que está sendo subsidiado integralmente pela plataforma e já está ativo em 20 regiões do país.

Taxa de até 40%

Em outras palavras, o valor que fica com o motorista de aplicativo ao final da corrida varia de acordo com a quilometragem percorrida e o tempo gasto no trajeto. Além disso, entra na conta a categoria do veículo. 

Motorista exclusivo da Uber há mais de três anos, Willian Testa afirma que as taxas cobradas estão cada vez maiores e têm praticamente inviabilizado a sua atividade. “Cada vez que faço uma corrida percebo que o valor que fica pra Uber está cada vez maior – o valor da taxa ultrapassou muito os 25% que eram cobrados antes”, afirma. 

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A taxa fixa de 25% deixou de ser cobrada em 2018, informou a Uber.

Segundo Testa, que atua no litoral de São Paulo, muitos motoristas estão desesperados enquanto suas rendas mensais estão minguando. Ele assegura que há várias corridas (conforme os prints apresentados abaixo) que o desconto é de 40% do valor cobrado do passageiro.

TAXA UBER
Nesta corrida a taxa da Uber foi de 39,9% do que foi pago pelo cliente (Willian Testa/Reprodução)

“Descontados o combustível e a taxa das prestadoras, a receita líquida que cabe ao condutor é irrisória e nem mesmo cobre as despesas fixas caso o carro seja alugado”, afirma o presidente da Amasp. Estima-se que, somente na cidade de São Paulo, cerca de 30.000 motoristas — ou 25% do efetivo — tenham desistido de seguir com a atividade. 

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Em contrapartida, a Uber garante que “os ganhos dos motoristas parceiros nas últimas semanas têm sido os maiores desde o início do ano – em São Paulo, por exemplo, quem dirige por volta de 40 horas tem ganhado, em média, de R$ 1.300 a R$ 1.400 na semana. Em um mês, significa que os motoristas estão com média de ganhos superior à média salarial de várias profissões no país”.

Quanto ao valor da taxa cobrada, a Uber declarou que “no passado, a taxa de serviço era fixa em 25%, mas desde 2018 ela se tornou variável para que a Uber tivesse maior flexibilidade para usar esse valor em descontos aos usuários e promoções aos parceiros. Em qualquer viagem, o motorista sempre fica com a maior parte do valor pago pelo usuário”.

TAXA UBER
Nesta, 40,12% do valor pago ficou para a Uber (Willian Testa/Reprodução)

Questionada se existe uma taxa máxima de cobrança e que a nota oficial concedia margem pra interpretar que esse máximo seria de 49%, empresa reiterou que o valor é variável e que o motorista fica sempre com a maior parcela, mas que há viagens que o desconto será maior e, em outras, menor. 

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Já a 99, também por meio de nota oficial, informa que pratica um teto máximo de 30% de desconto sobre o valor da corrida para o motorista. O objetivo é garantir que os motoristas parceiros sempre tenham ganho no serviço prestado ao passageiro.

De acordo com o Idec, a crise neste setor deve-se ao preço “irreal” e “surpreendentemente baixo” que as plataformas exerceram durante os últimos anos no Brasil e essa cobrança superficial se traduz numa má qualidade dos serviços oferecidos.

Caso você precise ou queira solicitar os serviços de aplicativo atualmente vale seguir algumas dicas da Amasp para evitar tanta espera e desconforto. “Eu aconselho que o passageiro evite solicitar carros das categorias promocionais (Uber Promo e 99 poupa). Elas praticam taxas ainda menores e tornam a viagem inviável para o motorista, e não recomendo solicitar se estiver dentro de uma área da cidade considerada de risco”, diz Lima.

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