A Ford começou a montar seu Modelo T, o Ford “Bigode”, no Brasil em 1919. Em 1967 a Ford adquiriu as operações da Willys e, com isso a fábrica de São Bernardo do Campo (SP). Esta foi fechada em 2019. Agora a fabricante comunicou que encerra imediatamente a produção de motores na planta de Taubaté e de automóveis (Ka e Ka Sedan, e EcoSport) em Camaçari (BA).
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Após mais de 100 anos com atividade industrial, torna-se importadora no Brasil.
De acordo com a empresa norte-americana, o movimento visa conter prejuízos e custos recorrentes. De fato, nos corredores das fábricas falava-se que o Ka era um carro deficitário mesmo após ter passado por um profundo processo de engenharia para corte de custos, que o fez perder desde uma central multimídia mais avançada, até a árvore contra-rotativa do motor 1.5 Dragon, de três cilindros.
O Ford EcoSport, que salvou a marca da crise que enfrentou no Brasil no final dos anos 1990 – quando a Ford, literalmente, quase saiu do Brasil – brilhou praticamente sozinho entre os SUVs compactos por muito tempo. Contudo, sua nova geração não foi capaz de conter o sucesso dos fortes concorrentes lançados no Brasil desde 2016, nem mesmo com a profunda (e custosa) reestilização lançada em 2017.
É uma pena. É triste. Mesmo um tanto esquecido pela Ford nos últimos tempos, o Ka ainda é um bom carro compacto de entrada – a ponto de ter ficado em terceiro lugar em comparativo recentemente. E o EcoSport atual tem boa dinâmica, bom desempenho e um dos melhores acabamentos do segmento, ainda que também seja um dos mais apertados.
Na verdade, é o desfecho de um movimento que já havia começado há quase dois anos. As justificativas para o fechamento da fábrica de São Bernardo do Campo foram as mesmas, mas com o agravante dos efeitos da pandemia da Covid-19. E nem mesmo ter sido a quinta marca mais vendida em 2020, com 7,14% do mercado, evitou o pior. E conseguiu isso praticamente abandonando as vendas diretas, consideravas menos lucrativas.
O desafio a partir de agora estará em vender carros importados, ainda que de países próximos como Argentina e México, a preços competitivos mesmo com a alta do dólar. E trabalhar em faixas de preço muito mais altas que as atuais é inevitável, visto que hoje a Ford só tem carros de passeio na Europa (novos Fiesta e Focus) e na China (Escort e um Focus exclusivo), sem qualquer chance de serem importados.
Ford Ranger como carro de entrada
Com o encerramento imediato da produção de EcoSport e Ka, os dois modelos certamente serão oferecidos com bons descontos nas lojas. E o carro mais barato da marca no Brasil passará a ser a Ranger com preços a partir de R$ 156.290 na versão XL cabine simples com motor 2.2 turbodiesel – hoje o Ka parte dos R$ 51.990. Mas a picape terá mudanças.
Em 1° de dezembro, o anúncio de lançamentos para 2021 sinalizava o problema. Todas as novidades previstas eram carros importados, a começar por uma nova versão da Ranger. A Ranger Black é caracterizada por elementos como grade, retrovisores e rodas pintados de preto, além de acabamento exclusivo. A linha 2021 da picape também pode estrear com a mudança nos equipamentos vista na Argentina.
Para daqui a dois anos, porém, está confirmado o lançamento de sua nova geração. Seguirá em produção na Argentina sob um investimento de 580 milhões de dólares na fábrica localizada em General Pacheco. E será um modelo global, enviado dali para outros mercados.
Bronco Sport, o anti-Tiguan
Reforçando um caráter mais premium que a Ford pode assumir daqui para a frente (e que impactará no fechamento de boa parte das suas mais de 300 concessionárias no Brasil), o Bronco Sport começa a ser vendido no Brasil nos próximos meses. Tanto que as primeiras 28 unidades já foram importadas e até mesmo emplacadas.
Importado do México e equipado com o mesmo motor 2.0 turbo de 245 cv, o Bronco Sport seria posicionando na mesma faixa de preço do VW Tiguan R-Line, versão mais vendida do SUV, com preço entre os R$ 220.000 e R$ 230.000. Será mais caro que o chinês Territory, portanto.
A seu favor ele tem o visual diferente, quadradão. Basta ver como o Jeep Renegade fez sucesso entre os SUVs compactos com a mesma característica de estilo. Por outro lado, com 4,38 m de comprimento; 1,88 m de largura; 2,67 m de entre-eixos e até 1,89 m de altura, dependendo da versão, o Bronco Sport tem mesmo porte do Jeep Compas. É significativamente menor que o Territory.
Bronco raiz
Além do Bronco Sport, há o Ford Bronco, um jipão com chassi convencional, opção de duas e quatro portas, e motores 2.3 turbo com 270 cv e 42,8 kgfm ou V6 2.7 turbo, de 310 cv e 55,2 kgfm com grande capacidade off-road. Por aqui terá o Jeep Wrangler como grande rival o que representa preços acima dos R$ 400.000. O lançamento no Brasil será ainda em 2021.
Maverick, uma picape contra a Fiat Toro
Baseada na mesma plataforma do Bronco Sport e também produzida no México, a picape Maverick nem sequer foi apresentada oficialmente mas é aguardadíssima para o Brasil. Com carroceria monobloco, é conceitualmente semelhante à Fiat Toro. Daí a sua relevância.
Os colegas da revista argentina Parabrisas ainda sinalizam que é grande a possibilidade desta picape ser montada na mesma fábrica que a Ranger. Os motores seriam os mesmos do Bronco Sport: além do 2.0 turbo, há um 3-cilindros 1.5 turbo com 184 cv.
Novas versões do Mustang
Outro importado anunciado pela Ford em dezembro foi o novo Mustang Mach 1, reedição do Mach 1 de 1968 e muito fiel ao estilo dele. Tem para-choques exclusivos, grade com espaços alusivos aos faróis de milha e aerofólio. Mas não para por aí. As rodas aro 19 têm desenho inspirado nas clássicas Magnum 500 de 50 anos atrás.
Sua função na linha será a mesma de cinco décadas atrás: servir de elo entre o Mustang GT (vendido no Brasil por R$ 354.990) e o Shelby GT350, que não é vendido no Brasil. Tem o motor V8 5.0 em sua versão mais potente da história, com 486 cv e 58 kgfm de torque – contra 466 cv e 56,7 kgfm do GT.
Para 2022 é esperado o lançamento do Mustang Mach-E, um SUV elétrico com visual inspirado no esportivo. Seria importado do México, mas é cedo para falar em versões: há desde opções com 268 cv e um motor, até 465 cv e dois motores.
Escape Hybrid Plug-in
Antes de estrear entre os carros elétricos no Brasil, a Ford voltará a explorar o mercado de híbridos. Com o Fusion fora de linha, a Ford terá que recorrer ao Escape híbrido em sua versão plug-in, que pode ter suas baterias recarregadas em tomadas.
O Ford Escape tem motor 2.5 16V a gasolina da família Duratec que trabalha em ciclo Atkinson para gerar de 165 cv e 21,4 kgfm de torque. Mas um motor elétrico ajuda a garantir a potência combinada de 200 cv. A transmissão é do tipo CVT e há versões com tração dianteira e integral. Sua bateria de 14,4 kWh é suficiente para percorrer 50 km sem gastar gasolina.
Transit via Uruguai
Vendida no Brasil anos atrás, importada da Turquia, a nova geração da Ford Transit será importada do Uruguai a partir deste ano. O furgão terá sua produção terceirizada para a Nordex, que também monta carros para Citroën, Peugeot e Kia. Na Europa, a Transit é equipada com motor 2.0 turbodiesel com opções de potência que podem chegar aos 185cv.
Ford F-150 tem chances?
A líder de vendas nos Estados Unidos há mais de duas décadas é esperada no Brasil há muito tempo, principalmente na versão esportiva F-150 Raptor. Contudo, seria prematuro dizer que ela será importada agora.
Uma operação mais enxuta no país pode até facilitar e o fato de a picape ter acabado de ganhar uma nova geração também. Mas a Ford nada fala sobre isso. Olhar para o sucesso das picapes RAM como um carro de nicho pode até servir de estímulo…
Ford Edge e Territory complementam a linha
Sim, o Ford Edge ainda está à venda no Brasil e custa R$ 351.950, sempre com motor V6 2.7 biturbo de 335 cv. Se permanecer à venda, o SUV canadense receberá uma nova – e gigante – central multimídia vertical nos próximos meses. Mas é um carro que vende muito pouco no Brasil, muito em virtude do preço elevado.
O Ford Territory, por sua vez, estreou por aqui no fim de 2020 com uma estratégia diferente de tudo que a Ford já havia feito. É um SUV chinês, desenvolvido por uma empresa chinesa e com uma lista enorme de equipamentos. Mas custa R$ 179.900. Resta saber como suas vendas evoluirão e se a Ford pretende seguir essa estratégia com outros produtos, como o Equator, que será lançado ainda neste mês na China.
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