A importância de Luiz Alberto Veiga, 63 anos, para o design automotivo mundial é tão notável quanto as suas criações para os brasileiros. Foi ele que, em 1994, arredondou as formas do Gol, criando a mítica geração Bolinha. Assinou ainda o projeto do Fox, o primeiro VW brasileiro exportado para a Alemanha e que, em seguida, ganhou até o exigente mercado europeu.
Em entrevista exclusiva à QUATRO RODAS, Veiga conta como descobriu a vocação e quais foram os principais desafios em sua carreira.
QR: Quando soube que sua vocação era criar carros?
Luiz Veiga: Meu pai era arquiteto e projetava as fábricas da GM e morávamos praticamente no quintal da sede da empresa em São Caetano. Portanto atuar na indústria automotiva era quase certo pra mim. Mas foi aos 10 anos que descobri a minha verdadeira vocação. Visitei o estúdio de design da GM e ali soube o que queria fazer para o resto da vida: desenhar todos os dias o objeto mais incrível e complexo, o carro.
Como começou sua carreira na indústria automotiva?
Com 14 anos comecei a estudar modelação técnica no Senai, curso promovido pela GM e logo depois iniciei como ilustrador técnico na fábrica. Foi uma experiência riquíssima e pude acompanhar como tudo era feito a mão nos anos 70. Tudo era medido com régua no estúdio e, como não havia exatidão nos cálculos, o lado direito do carro nunca era igual ao esquerdo. Depois de um ano de GM, fui chamado para trabalhar como ilustrador na Volkswagen e por lá trabalhei por mais um ano. Nesse momento da minha vida senti necessidade de viajar sem rumo e me aventurar. Viajei por nove meses pelo litoral norte de São Paulo. Quando voltei, a GM me chamou de volta e a história se repetiu. A VW me fez uma nova proposta, ainda como ilustrador, e lá fui eu novamente.
Como entrou na área de design de automóveis?
A primeira oportunidade na área de design foi na Chrysler, onde acompanhei o desenvolvimento do Dodge Polara. Aprendi todas as técnicas americanas de criação e foi um período muito rico. Mas o meu destino era mesmo atuar na Volkswagen – a Chrysler fora comprada pela VW Caminhões. Todas as pessoas da área foram demitidas, menos eu. Trabalhei por alguns meses sozinho e depois entrei no centro de design de carros. Logo de cara me destaquei por ter iniciativa própria. Tínhamos que apresentar a primeira geração da Saveiro para os executivos e, como o pintor atrasou, resolvi pintar eu mesmo. Essa pequena atitude impressionou meus superiores e foi uma questão de meses para que me selecionassem para acompanhar um projeto em Wolfsburg, na Alemanha.
Quais foram os primeiros modelos que criou?
Por dez anos eu ficava três meses na Alemanha e um aqui – uma fase crucial na minha carreira. Logo depois mudei para Potsdam onde vivi os anos de Autolatina (joint venture entre Ford e VW, de 1987 a 1996). Nesse período criei dois derivados do Escort, o Logus e o Pointer.
Em sua carreira pode destacar as suas criações mais importantes?
Sem dúvida a minha melhor e mais importante criação foi o Fox. Foi um projeto que eu idealizei e defendi do início ao fim. A ideia nasceu em um bate-papo de bar com Gerson Barone, meu parceiro na área. Imaginamos um Gol do futuro, um city car, com foco no espaço interno. A intenção era que tivesse tanto espaço quanto um Golf. O maior problema era que um novo compacto brasileiro não estava nos planos da empresa e, apenas por isso, a novidade não agradou a todos. Fui expulso da sala do chefe de engenharia na Alemanha, ao apresentar o projeto. No fim das contas, o Fox só vingou porque um diretor de design alemão se convenceu do poder de fogo do Fox e o apresentou diretamente ao presidente mundial da VW. A partir daí tivemos carta branca para desenvolvê-lo. Em 2003, o lançamos no Brasil e na Europa.
Houve algum projeto que lamenta não ter sido aprovado?
Em 2007, desenhei um SUV compacto, derivado do Fox. Como a empresa julgou que esse segmento não era tão promissor, a ideia não saiu do papel. Infelizmente a concorrência enxergou de outra maneira e uma enxurrada de lançamentos invadiu a categoria.
Você chegou a participar da escolha do executivo que iria substitui-lo?
Assim que conquistamos cargos mais altos na VW, costumamos apontar três nomes que podem assumir o posto no caso de uma emergência. Nos últimos anos, os irmãos José Carlos e Marco Antônio Pavone estavam na minha lista. Designers que ajudei no início de carreira e que têm um talento impressionante. E a escolha de um deles para o meu posto aqui no Brasil me satisfez muito.
Quais são seus planos para o futuro?
Sempre tive paixão por música e me formei regente. Agora vou me dedicar ao ofício. Além disso, adoro pintar quadros. Em Peruíbe, meu atual refúgio, vou me concentrar nessa atividade.