Esta não é a primeira vez que a GAC Motor dá as caras no Salão de Detroit. Em 2013, 15, 17 e também no ano passado a empresa automotiva chinesa sediada na metrópole de Guangzhou já havia dado as caras na mostra da “cidade dos carros”.
A diferença é que agora a fabricante estabeleceu um prazo para ingressar no mercado americano: junho de 2020. Caso o plano se concretize, ela será a primeira marca chinesa a operar oficialmente na terra de tio Sam.
Lembrando que aqui estamos falando de marcas chinesas. Quando se trata de modelos, o país da América do Norte já oferece a seus consumidores opções “Made in China” por marcas mais tradicionais, americanas ou não: Buick Envision e Volvo S90 e XC60 são exemplos.
Voltando à GAC: será este pioneirismo um sinal de que os chineses estão prontos para invadir os mercados automotivos mais desenvolvidos ou a fabricante, fundada em 2007, quer dar um passo maior do que as pernas? É o que QUATRO RODAS tentou investigar.
Em primeiro lugar, fica perceptível o esforço da fabricante em impressionar o público local. O estande, por exemplo, está localizado numa área nobre do pavilhão do Cobo Center, local onde a mostra é realizada.
Quem atendeu nossa reportagem não foi nenhum executivo chinês, mas sim a americaníssima Colleen M. Robar, responsável pelas relações públicas da marca nos EUA.
“Nossa sede ficará em Los Angeles”, enfatizou a representante, que chegou a atuar na comunicação internacional da General Motors durante alguns anos, incluindo uma breve passagem, vejam só, pelo Brasil.
Em destaque numa esteira giratória do espaço aparece o chamativo conceito Entranze, desenvolvido por um centro de design também de Los Angeles e que sugere uma minivan autônoma, capaz de ser conduzida até por controle remoto. É futurismo para americano nenhum colocar defeito.
Enfileirados ao longo da borda do estande estão os carros que efetivamente a GAC tem para oferecer neste momento, muito mais “pés no chão”. Aqui temos uma seleção de SUVs, sedãs e minivans cujos nomes, sempre formados por três caracteres – um G, uma segunda letra qualquer e um número, que designa o porte do modelo -, são capazes de dar um nó na cabeça de qualquer um.
GS3 (SUV compacto), GE3 (sua derivação elétrica), GA4 (sedã médio), GS4 (SUV compacto-médio), GS5 (SUV médio-grande), GM6 (minivan de sete passageiros), GS7 (SUV grande de cinco lugares), GM8 (van de luxo para sete) e GS8 (“suvão” de sete lugares) são os produtos ali expostos.
O GS8 foi o escolhido para início das operações, em junho de 2020, e é o único da lista com venda confirmada nos EUA. Seu estilo quadradão lembra um Cadillac na dianteira e um Land Rover do começo dos anos 2010 na traseira.
Porte – 4,81 metros de comprimento, 1,91 m de largura, 1,77 m de altura e 2,80 m de entre-eixos – fica entre um VW Tiguan Allspace e um Chevrolet Blazer.
Não há nada de especial que o GS8 tenha e outros SUVs vendidos nos EUA não. Mas às primeiras sensações ele parece um produto honesto: espaço interno é generoso nas duas primeiras fileiras e tanto o toque do acabamento quanto o conforto dos bancos agradam.
Traz faróis e lanternas em leds, rodas aro 19, computador de bordo em ampla tela digirtal, ar-condicionado de três zonas, diferentes modos de condução e alguma de conectividade. O motor, um quatro cilindros 2.0 turbo, rende 200 cv e é gerenciado por câmbio automatizado de dupla embreagem com seis marchas.
Vai dar certo? Ainda é cedo para dizer, mas a GAC ao menos merece os créditos pela ousadia. Se tiver sucesso com o GS8, a empresa não quer demorar muito para lançar outros modelos nos EUA. Portanto, pode ir se acostumando: reclamar que marca chinesa só consegue se estabelecer em mercados emergentes, como o Brasil, em breve pode virar coisa do passado.