Enquanto HR-V, Renegade, Kicks e Creta disputavam a liderança do segmento dos SUVs – felizes da vida porque, juntos, puseram fim à hegemonia do EcoSport –, a Jeep lançou o Compass.
Produzido em Goiana (PE), ele ignorou o fato de ser maior e mais caro que os rivais e logo seu volume de vendas começou a crescer, crescer… E não é que o Compass se tornou o dono do pedaço? Fechou 2017 como o SUV mais vendido e repetiu a liderança no primeiro quadrimestre de 2018.
Parece que ninguém pode com ele. Mas a Volkswagen vai tentar.
A missão de encarar o Compass cabe ao Tiguan. Não aquele pequeno Tiguan que você tem na memória, mas o de nova geração, que acaba de estrear com um pacote de equipamentos e porte de meter medo na concorrência. Até no Compass?
A versão considerada do Compass é a Longitude, com motor 2.0 flex aspirado de 166/159 cv. Quanto ao Tiguan, selecionamos o modelo de entrada, Allspace 250 TSI, mas pode chamá-lo de 1.4 TSI de cinco lugares.
Antes de começar o confronto, um pequeno alinhamento de conteúdo: adicionamos ao Compass o Pack Safety, o pacote de opcionais de R$ 3.450 com airbags laterais e do tipo cortina (de série no Tiguan) e de joelho para o motorista. Ainda assim, o Compass é mais barato que o Tiguan (R$ 123.440 ante R$ 124.990).
Dá até para encomendar uma das seis pinturas metálicas oferecidas pela Jeep, por R$ 1.620 – a VW cobra mais caro (R$ 2.140) e são apenas três opções.
A análise da lista de opcionais revela uma vantagem da marca alemã: nela, o teto solar custa R$ 4.000, enquanto na do Jeep sai por R$ 7.490.
Ambos apresentam controles de estabilidade e tração, piloto automático, direção elétrica, faróis e lanternas de neblina, freio de estacionamento elétrico e alarme.
O ar-condicionado do Tiguan é melhor, trizona, com ajuste automático de temperatura para cada lado na dianteira e também para quem viaja no banco traseiro, enquanto o do Compass é bizona, só na frente.
O Jeep, por sua vez, tem o melhor sistema de alerta de pressão baixa dos pneus, capaz de indicar a calibragem individual no painel, destacando o que estiver rodando vazio demais.
O Tiguan apenas aponta qual pneu perdeu pressão – isso se o motorista se lembrar de registrar no computador de bordo a calibragem de referência.
Entre ausências e boas surpresas, o Compass leva a melhor na análise de conteúdo por oferecer itens relevantes como revestimento dos bancos de couro, câmera de ré, rodas aro 18, chave presencial e start-stop.
No Tiguan, os bancos são de tecido, o sistema de auxílio de manobras só conta com sensores (inclusive na dianteira) e as rodas são aro 17 – e nada de chave presencial ou start-stop.
Qualidade Percebida
Menos equipado que o Compass, o Tiguan dá o troco no acabamento. E olha que o modelo da Jeep se defende bem nesse quesito. Mas no Tiguan o som do fechamento das portas é abafado e curto, o que transmite sensação de precisão.
Seus vidros sobem e descem de maneira mais silenciosa e rápida e a resposta aos comandos dos botões (em especial os do volante multifuncional) é mais rápida e agradável no SUV da Volkswagen.
Quem viaja atrás vai gostar dos bancos. Bipartidos e com ajustes longitudinal (ele corre sobre trilhos) e de inclinação do encosto, amplia o conforto dos usuários, assim como a porta USB instalada junto às teclas que permitem ajustar a temperatura do ar-condicionado.
Se o Compass chegou se valendo do porte avantajado para subjugar os líderes de outrora, agora ele vai provar do próprio veneno. Em comprimento, o Compass é 29 cm menor que o Tiguan (4,42 m ante 4,71 m). O entre-eixos é outro ponto de destaque do SUV VW: são 2,79 m ante 2,64 m do Jeep.
Se o entre-eixos antecipa a vitória na oferta de espaço na cabine, no porta-malas há um massacre: 710 litros frente a 410 litros. Ou seja, a vantagem do Tiguan é o mesmo que o porta-malas inteiro de um Hyundai HB20, ou Fiat Argo: 300 litros.
Vale lembrar que o Tiguan 1.4 tem até uma versão de sete lugares, Comfortline, de R$ 149.990.
Ainda que ambas as marcas se gabem por utilizar aços de alta e ultrarresistência na fabricação de seus SUVs, a análise da ficha técnica mostra o Tiguan 24 kg mais pesado (1.570 kg contra 1.546 kg), bem pouco se considerarmos o quanto ele é, de fato, maior que o Compass.
Ao volante, uma reprise da superioridade que o Tiguan demonstrou em nossa pista de testes, em Limeira (SP). A suspensão é o destaque. Bem acertada, é nitidamente mais firme do que a do rival, o que não quer dizer que seja desconfortável. Muito pelo contrário.
Excessivamente suave, a suspensão do Compass aceita com muito mais tolerância a inclinação da carroceria.
Resumindo: dentro do que a física permite aos SUVs, ambos são confortáveis e estáveis, mas, por transmitir maior sensação de segurança, a do Tiguan (com McPherson na dianteira e multilink na traseira) está um nível acima da do Compass (com McPherson nos dois eixos).
Na motorização, a Jeep tem o Tigershark aspirado 2.0 16V, enquanto a VW vai de TSI turbo 1.4 16V. No primeiro, a tecnologia incorporada não vai muito além de variador de fase nos comandos de admissão e escape.
O motor VW, por sua vez, além do turbo com intercooler (uma espécie de radiador de ar) e das mesmas variações na admissão e escape, tem boa parte dos seus sistemas pilotados.
Ou seja, itens como bombas de óleo e de água e válvula wastegate (que administra o fluxo de gases resultantes da queima entre o escapamento e a turbina) são monitorados e controlados eletronicamente.
Na pista, a tradução prática da superioridade técnica da ficha do Tiguan, que se saiu melhor que o Compass nas provas de aceleração de 0 a 100 km/h (9,3 s ante 12,3 s) e retomadas de 40 a 80/60 a 100 / 80 a 120 km/h (4,2/5,5/6,8 s ante 5,3/6,8/8,7 s).
Nas provas de frenagem, o alemão também foi melhor, precisando de 64 m para cumprir a prova de 120 km/h a 0. O Compass, por sua vez, registrou 67,5 m. Nos ensaios de consumo (urbano/rodoviário), superioridade avassaladora do SUV Volkswagen (10,8/13,7 km/l) sobre o Jeep (8/11 km/l).
Maior e completamente renovado, o Tiguan ganha o comparativo. E com folga, pois compensa sua desvantagem em conteúdo com ampla superioridade em dinâmica, consumo de combustível e espaço. Estará o Compass com seu reinado ameaçado?
Teste de Pista
Jeep Compass | VW Tiguan | |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 12,3 s | 9,3 s |
Aceleração de 0 a 1.000 m | 33,5 s – 138,3 km/h | 31 s – 168,1 km/h |
Velocidade máxima (dados de fábrica) | 188 km/h | 198 km/h |
Retomada de 40 a 80 km/h (em D) | 5,3 s | 4,2 s |
Retomada de 60 a 100 km/h (em D) | 6,8 s | 5,5 s |
Retomada de 80 a 120 km/h (em D) | 8,7 s | 6,8 s |
Frenagem de 60/80/120 km/h a 0 m | 17/28,7/67,5 m | 16,3/27,4/64 m |
Consumo urbano | 8 km/l | 10,8 km/l |
Consumo rodoviário | 11 km/l | 13,7 km/l |
Ficha técnica
Jeep Compass | VW Tiguan | |
Preço | R$ 119.990 (básico) | R$ 124.990 |
Motor | flex, dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, 1.995 cm3; 16V, 166/159 cv a 6.200 rpm, 20,5/19,9 mkgf a 4.000 rpm | flex, dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, 1.395 cm3; 16V, 150/150 cv a 5.000 rpm, 25,5/25,5 mkgf a 1.400 rpm |
Câmbio | automático, 6 marchas, tração dianteira | automatizado, dupla embreagem banhada a óleo, 6 marchas, tração dianteira |
Suspensão | independente, McPherson (diant. e tras.) | McPherson (dianteira) e multilink (traseira) |
Freios | disco ventilado (diant.), disco sólido (tras.) | disco ventilado (diant.), disco sólido (tras.) |
Direção | elétrica; diam. giro, 11,3 m | elétrica; diam. giro, 11,9 m |
Rodas e pneus | liga leve, 225/55 R18 | aço, 215/65 R17 |
Dimensões | comprimento, 441,6 cm; largura,181,9 cm; altura, 163,8 cm;entre-eixos, 263,6 cm; peso, 1.546 kg; tanque, 60 l; porta–malas, 410 l | comprimento, 470,1 cm; largura, 183,9 cm; altura, 165,8 cm; entre-eixos, 279 cm; peso, 1.562 kg; tanque, 58 l; porta-malas, 710 l |