Como a Volkswagen Caminhões e Ônibus foi criada no Brasil e só existe aqui
Os caminhões que você vê com logo Volkswagen são menos alemães do que parece: são produtos 100% brasileiros, desenvolvidos e fabricados em solo nacional
O Brasil já teve marcas automotivas nacionais como Gurgel e o Miura, mas elas não resistiram e atualmente não existe nenhuma fábrica brasileira de automóveis. Entre os veículos pesados existe a Agrale e, por incrível que pareça, a Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO), que não é alemã.
Explico: a Volkswagen Caminhões e Ônibus tem sua sede no Brasil e só existe aqui. E tudo começou graças à Chrysler há quase 45 anos.
O Grupo VW fez sua entrada global no mercado de veículos comerciais pesados com a marca Vokswagen justamente no Brasil, em fevereiro de 1981. Isso jamais foi replicado na Alemanha ou na Europa como um todo. Então a VWCO nasceu como uma marca alemã internacional com matriz no Brasil e até hoje o Brasil é o único lugar no mundo onde desenvolvem e são fabricados caminhões e chassis de ônibus com o logotipo VW.
A oportunidade surgiu em 1979, com a compra de 67% das operações deficitárias da Chrysler no mercado brasileiro, que já fabricava uma gama de caminhões Dodge no país desde 1968. Em 1980 a alemã comprou 100% do controle e mudou o nome da empresa, em fevereiro de 1981, para Volkswagen Caminhões LTDA.
42 anos de história
A empresa já buscava ter um espaço no mercado de pesados com a sua própria marca, mas estreou tendo que concorrer com marcas tradicionais e consolidadas no Brasil, como a Mercedes e Volvo. Mas isso não a fez menos competitiva. A ausência de uma matriz no exterior tornou a empresa mais ágil e a tornou uma empresa mais independente para tomar decisões cruciais ao negócio, como programas de investimentos com recursos próprios.
Em 1981, em seu primeiro ano de vendas com apenas dois produtos, a marca vendeu 1.344 veículos. Eram os dois primeiros caminhões Volkswagen do mundo, os médios 11.130 e 13.130, equipados com motores diesel comprados no Brasil da MWM e cabine avançada basculante, os famosos “cara-chata”. Mas o chassi ainda era legado da Dodge.
Após 20 anos da inauguração, a marca subiu à liderança e daí para frente sempre alternou entre a primeira e segunda posições. Também ascendeu à vice-liderança em vendas de chassis de ônibus e nunca mais desceu do posto.
Quarenta e dois anos depois e com quase 300 opções na linha de pesados, inclusive o Meteor, o maior Volkswagen do mundo, a VWCO fechou o acumulado de janeiro a outubro de 2023 como líder do mercado. A marca vendeu 22.490 caminhões, conquistando 25,93% do setor, seguida bem de perto pela Mercedes-Benz que tem 25,51% – que pode roubar a liderança até o fim do ano.
Representação internacional
No fim de 2020 a VWCO somou mais de 1 milhão de veículos produzidos em sua história, sendo cerca de 870.000 na fábrica de Resende, no Rio de Janeiro – inaugurada em 1996. O marco do milhão foi alcançado junto com o início da produção de mais uma nova família de caminhões, desta vez os extrapesados Meteor.
No fim de 2008, a alemã MAN SE assumiu o controle da VWCO e tentou inserir a marca MAN no país entre os extrapesados, mas não deu certo. O Meteor é justamente uma atualização dos MAN. Em 2018 a VWCO começa a fazer parte do grupo Traton, composto pela Scania, MAN e VWCO, mas ainda é a única com sede no Brasil.
“Estamos hoje sob o guarda-chuva da holding Traton, temos mais acesso a tecnologias globais, mas as empresas seguem independentes e com suas sedes onde nasceram, como MAN na Alemanha, a Scania na Suécia e a VWCO no Brasil, onde nós orgulhosamente sediamos uma das marcas do grupo, com grande independência, centro próprio de desenvolvimento, produtos e produção compatíveis com as demais fabricantes da companhia”, explica Roberto Cortez, presidente da VWCO.
Um símbolo importante dessa independência é o Volkswagen e-Delivery, o primeiro caminhão elétrico 100% desenvolvido, testado e fabricado no Brasil.
E os “nossos” caminhões também estão presentes em outros 30 países como Argentina, China e Guatemala, com direito a linha de montagem de kits CKD nas Filipinas. Segundo o executivo, a intenção é exportar para outros mercados a partir de 2024 como África, Ásia e Oriente Médio. Desde 1981, a fabricante já vendeu mais de 15% de sua produção no exterior.