Clássicos: Ford 18, o carro que popularizou a paixão pelos motores V8
Legado de Henry Ford foi além do Model T: o gênio industrial também viabilizou a produção em larga escala de um carro de alta performance
A paixão mundial pelos V8 foi consolidada no dia 31 de março de 1932, quando a Ford apresentou seu lendário Modelo 18.
Foi o primeiro carro produzido em larga escala a oferecer um motor de oito cilindros dispostos em V, até então restrito a marcas de luxo como Lincoln, Peerless, Cunningham e Cadillac.
Sua origem remonta a 1929, quando a General Motors lançou o primeiro Chevrolet de seis cilindros, muito superior em suavidade e potência comparado ao Ford Modelo A de quatro cilindros.
O contra-ataque de Henry Ford teve início em julho de 1931, quando a engenharia de Dearborn foi encarregada de desenvolver um V8 com bloco fundido em peça única.
Henry Ford queria simplificar a produção do V8, viabilizando seu uso num automóvel popular. O projeto seguiu em segredo e ninguém entendeu quando a produção do Modelo A em River Rouge foi encerrada de repente em dezembro.
Revendedores chegaram a falir com os pátios vazios à espera dos Ford para 1932.
O silêncio foi quebrado em 11 de fevereiro de 1932, quando o industrial anunciou o Modelo 18.
A primeira unidade deixou a linha de montagem em março de 1932: o cupê Victoria teve a numeração do bloco marcada à mão pelo próprio Henry Ford durante a cerimônia de apresentação.
O tradicional motor de quatro cilindros foi melhorado e mantido no Modelo B.
O aguardado Ford V8 chegou às lojas em abril. O talentoso Edsel Ford, filho do fundador, marcou presença no estilo, inspirado nos Lincoln. A dirigibilidade melhorou com o fim do avanço de ignição no volante e com a sincronização da segunda e terceira marchas.
Qualquer motorista estava apto ao prazer de acelerar o V8 de 3,6 litros e 65 cv.
Pesando cerca de 130 kg a menos que um Plymouth ou Chevrolet, o Modelo 18 era imbatível na relação peso/potência: acelerava de 0 a 96 km/h em 16,8 segundos e superava facilmente os 120 km/h.
Tornou-se o favorito de celebridades como o boxeador Jack Dempsey e o piloto Fred Frame, vencedor das 500 Milhas de Indianápolis de 1932.
O Ford V8 foi logo incorporado à frota da polícia de Detroit mas também fez sucesso entre seus inimigos: garantiu as fugas do assaltante de bancos John Dillinger e do casal Clyde Barrow e Bonnie Parker.
Diz a lenda que Dillinger e Barrow enviaram cartas de agradecimento a Henry Ford.
O Modelo 18 respondeu por 70% da produção em 1932, pois custava apenas US$ 50 a mais que o ModeloB em qualquer versão (11% mais caro no caso do Tudor Sedan).
Das dez opções de carroceria, o preferido foi o Tudor Sedan de duas portas, um pouco mais caro que o Chevrolet e muito mais barato que o Plymouth.
O desenvolvimento apressado do V8 rendeu problemas como trincas no bloco e consumo excessivo de óleo. A Ford reparou os motores danificados e preparou novidades para 1933.
Redesenhado, o V8 passou a se chamar Modelo 40, com 15 cm a mais entre os eixos e um sistema de ignição que elevou a potência para 75 cv.
O Modelo 40, de 1934, marcou o retorno da Ford à liderança do mercado e recebeu melhorias que o levaram a 85 cv.
O cupê de três janelas das fotos, aos cuidados da PJS Restaurações Especiais, era o favorito dos hot rodders, que logo aprenderam a extrair ainda mais potência com comandos de válvulas esportivos e carburadores adicionais.
O reinado do Ford V8 foi até 1949, quando, enfim, foi superado pelos V8 Cadillac e Oldsmobile. Em 1935, o Modelo 40 foi sucedido pelo Modelo 48, mas sua arquitetura básica permaneceu inalterada até 1948.
Esse projeto foi o último feito importante na carreira de Henry Ford, que abriu mão do caráter estritamente utilitário de seus carros para encantar a clientela com altas doses de estilo, conforto e desempenho.