Clássicos: Fiat 1400, a influência americana
Sob nova direção, a gigante de Turim deu início a um intercâmbio automotivo com os EUA a partir da chegada do Fiat 1400
O fim da Segunda Guerra Mundial foi um período conturbado para a Fiat. Acusada de colaborar com o regime fascista, a família Agnelli foi destituída da administração da empresa e ainda sofreu com a morte do fundador, Giovanni Agnelli.
Financiada pelos dólares do Plano Marshall e dirigida por Vittorio Valetta, a marca italiana desenvolveu um novo modelo: o sedã 1400.
Apresentado no Salão de Genebra de 1950, o Projeto 101 deveria suportar as estradas ainda em ruínas da Europa, ser estável, levar seis ocupantes, chegar a 120 km/h e fazer 10 km/l.
Idealizado por Dante Giacosa, foi o primeiro Fiat com estrutura monobloco, desenvolvida em parceria com a americana Budd Company.
Com 4,3 metros de comprimento e 2,65 de entre-eixos, o 1400 sucedeu o modelo 1500 de seis cilindros, sedã familiar da Fiat desde 1935. Pesando 1.150 kg, usava um motor de quatro cilindros em linha, 1,4 litro de cilindrada e 44 cv.
Sua mecânica era convencional, com câmbio de quatro marchas acionado por alavanca na coluna de direção e tração traseira.
Precisava de quase 40 segundos para chegar a 100 km/h. Os freios a tambor nas quatro rodas davam conta do desempenho modesto e a suspensão dianteira independente colaborava para o ótimo conforto de rodagem.
Produzido pela divisão Carrozzerie Speciali, o 1400 Cabriolet duas portas era ainda mais parecido com os automóveis americanos.
Desempenho melhor viria em 1952, com o lançamento do Fiat 1900. O aumento no curso do virabrequim (de 66 mm para 90 mm) elevou a cilindrada para 1,9 litro e a potência para 58 cv.
Era o bastante para chegar aos 135 km/h com uma nova transmissão de cinco marchas que dispensava a embreagem em favor de um conversor de torque hidráulico.
Denominado Projeto 105, o Fiat 1900 se diferenciava do 1400 por meio de detalhes externos discretos, como grade do radiador e frisos cromados.
Oferecia um acabamento interno mais requintado, rádio como item de série e o computador de bordo Tachimedion, que calculava de maneira analógica a velocidade média de cada viagem.
Outra inspiração americana no estilo estava no cupê Granluce, também de 1952. Baseado na mesma estrutura do Cabriolet, o Granluce era um autêntico hardtop (duas portas sem coluna central).
Feito para a polícia rodoviária italiana, o Torpedo combinava a carroceria Cabriolet com a mecânica mais potente do 1900.
O 1400 também foi o primeiro automóvel de passeio italiano movido a diesel. O motor era o mesmo empregado nos utilitários da marca, com 1,9 litro, aspiração natural e bomba injetora Spica.
Apesar de caro, fraco e barulhento, fez relativo sucesso na Alemanha enfrentando Mercedes 180 D e Borgward Hansa 1800D.
Discretas alterações de estilo foram reveladas no Salão de Turim de 1954. Eram denominados 1400A e 1900A e passavam a contar com lanternas traseiras protuberantes. A maior diferença entre os dois modelos estava no vidro traseiro, agora maior no 1900A.
Todos ficavam mais potentes: o 1400 Diesel com 43 cv, o 1400A com 50 cv e o 1900A com 70 cv.
As últimas atualizações viriam em 1956, com a chegada dos 1400B e 1900B. Ambos adotavam a carroceria com amplo vidro traseiro do 1900A e pintura em dois tons (monocromático apenas em preto ou azul).
Um único farol de neblina foi instalado no centro da grade, e o painel de instrumentos recebeu um novo velocímetro com escala horizontal.
A novidade do Granluce foi o vidro traseiro envolvente, como este exemplar das fotos, que pertence ao colecionador paulista Alberto Brunet. A potência subiu para 58 cv no 1400B e 80 cv no 1900B. Ambos foram produzidos sob licença na Espanha e Iugoslávia.
Na Áustria foi produzido pela Steyr com motores de 2 litros de 86 cv e 2,3 litros de 95 cv, este último capaz de chegar aos 160 km/h.
O milagre econômico italiano abriu espaço para o retorno dos Fiat de seis cilindros. A produção do 1400B e 1900B foi encerrada em 1958, dando lugar aos sedãs 1800 e 2100.
A Fiat voltou ao comando dos Agnelli em 1966, sob a direção do carismático Gianni Agnelli.
O engenheiro Dante Giacosa se aposentou em 1970, após consolidar a tração dianteira no Autobianchi Primula e Fiat 128.
Ficha técnica – Fiat 1900B Granluca 1956
- Motor: 4 cilindros em linha de 1,9 litro; 80 cv a 4.000 rpm; 13,86 mkgf a 3.600 rpm
- Câmbio: manual de 5 marchas
- Dimensões: comprimento, 432 cm; largura, 165 cm; altura, 150 cm; entre-eixos, 265 cm; peso, 1.220 kg
- Carroceria: fechada, 2 portas, 6 lugares
- Desempenho: 0 a 100 km/h em 22 s; vel. máx., 145 km/h