O C4 Cactus estreia carregando um pesado fardo. Bem equipado, com um catálogo variado (inclusive, na oferta de motor e câmbio) e, o principal, um visual arrebatador, ele é o modelo escalado para jogar no campeonato mais disputado do mercado: o segmento dos SUVs compactos.
A expectativa é grande, assim como a chance de se dar bem. Mas não dá para começar a falar do “nosso” Cactus – que será produzido em Porto Real (RJ) – antes de citar o modelo europeu.
Mais do que inspirado no carro de lá, o Cactus brasileiro é uma espécie de reinterpretação. A gente explica. Na Europa, o Cactus nada mais é do que um hatch médio. Mas aqui, não.
De olho no segmento mais quente do momento, a Citroën elevou o seu Cactus (literalmente) a outro patamar.
Na apresentação oficial à imprensa, a engenharia teve a preocupação de destacar o tempo todo que o trabalho aplicado na “conversão” havia ido muito além de deixar a suspensão mais alta. Mas, na prática, essa é mesmo a mudança mais relevante.
E isso é uma boa notícia, já que, assim, ele passou a ter ângulos de entrada (22o) e saída (32o) e altura livre (22,5 cm) do solo na média da sua concorrência direta, como EcoSport (respectivamente, 24o, 28o e 20 cm), Captur (23o, 31o e 21,2 cm), Tracker (17o, 29o e 16,2 mm) e companhia limitada.
Mas a Citroën, assim como qualquer outra grande fabricante de automóveis, não é boba. Então, para não naufragar entre os SUVs compactos, ela deu ao seu lançamento o elemento mais valorizado em qualquer que seja o segmento: design diferenciado.
Faz sentido, afinal nem o mais racional dos compradores aceita andar de carro feio só porque ele é bom e barato.
Goste ou não do C4 Cactus, ele passa longe da fórmula básica de proporção e estilo dos orientais Honda HR-V, Hyundai Creta e Nissan Kicks.
Resumo da ópera: o layout é a grande aposta desse novo Citroën.
A pintura do teto em tom diferente da carroceria é opcional e custará R$ 300. O que varia é o valor da pintura: de R$ 1.390 (metálicas) a R$ 1.790 (perolizada).
A cor Vermelho Aden será disponibilizada apenas na fase de lançamento, sem custo. Depois, a única cor que não será cobrada à parte será a Preto Nera.
O conjunto ótico, assim como na Fiat Toro, é tripartido, com DRL no alto, farol principal no centro e de neblina na zona baixa do para-choque.
Este, exibe fendas falsas, utilizadas também na traseira.São recursos estéticos. Da maneira como são aplicados, fazem com que a percepção seja de um carro largo na porção inferior, o que confere um ar de robustez.
As barras longitudinais sobre o teto, inexistentes no modelo europeu, também estão lá por uma razão estilística: elas reforçam o lado SUV – você lembra de algum que não as tem?
De quebra, assim como as fendas dos para-choques, elas alteram a percepção do porte, alongando o perfil.
Para que elas ganhem funcionalidade, o consumidor precisará comprar as barras transversais – ofertadas na linha de acessórios –, o que permitirá o transporte de carga sobre o teto.
A expectativa dos executivos da Citroën é alta. “Contamos com a venda de 1.500 unidades por mês. Se isso acontecer, o Cactus dobrará o nosso volume total. Estamos tão confiantes que deixamos a fábrica pronta para atender a uma demanda ainda maior”, diz Antoine Gaston-Breton, diretor de marketing do Grupo PSA.
Por dentro, o C4 Cactus é menos surpreendente do que por fora. Ainda assim, causa boa impressão.
A versão top de linha Shine 1.6 THP Pack que ilustra esse texto tem até uma pequena faixa emborrachada no painel, um truque para melhorar a qualidade percebida que mantém o custo sob controle.
A central multimídia, compatível com Android Auto e Apple CarPlay, incorpora também os comandos do ar-condicionado.
Neste caso, o quadro com o conteúdo de cada versão revela uma pegadinha.
O ar digital aparece para todas, afinal, de fato, a interface de operação é sempre a tela da central, mas apenas nas três mais caras é possível contar com a manutenção automática da temperatura selecionada.
Levamos para a nossa pista de testes as duas versões que deverão polarizar a preferência do consumidor: a Feel Pack 1.6 (quatro-cilindros, aspirado, de 118/115 cv) e a Shine 1.6 THP Pack (quatro-cilindros, turbo, de 173/166 cv).
O câmbio é o mesmo em ambos os casos, uma caixa automática convencional, com seis marchas, conversor de torque e trocas sequenciais.
Apenas o diferencial muda, alterando a relação de funcionamento das marchas. Outra mudança mecânica está nos freios: na versão com motor turbo, há discos sólidos na traseira, enquanto o aspirado conta com tambores.
Na prática, nosso teste de frenagem revelou números muito próximos. A suspensão,baseada em sistema McPherson na dianteira e eixo rígido na traseira, tem acerto para privilegiar o conforto, mas até que ela se entende bem com os pneus 205/55 aro 17.
Ou seja, o lado utilitário vai bem na buraqueira, valetas e lombadas da cidade.
Ótimo, afinal esse é o ambiente dos SUVs compactos. Não espere grandes emoções ao volante da versão aspirada.
Acelerações vigorosas, e retomadas rápidas você só vai encontrar no Cactus com motor 1.6 THP.
Se a marca até que conseguiu criar uma percepção de carro maior, durante o uso não há mágica. Na cabine, há bom espaço na dianteira, mas quem viaja atrás fica com a cabeça rente ao teto.
E se você precisa de muito espaço para bagagem, pense bem antes de se render ao layout atraente do Cactus: seu porta-malas de apenas 320 litros está entre os menores do segmento.
Ciente da má fama dos carros franceses em geral no mercado,a Citroën preparou um bom pacote.
A cesta de revisões até 60.000 km totaliza R$ 3.552, valor na média do segmento.
A garantia de três anos também acompanha o padrão do mercado. Quem adquirir o C4 Cactus no período de pré-venda, feita pelo site da marca, terá isenção de pagamento das três primeiras revisões.
Este é o leque de versões e conteúdos
Versão | Live 1.6 | Feel 1.6 | Feel 1.6 | Feel Pack 1.6 | Shine 1.6 THP | Shine 1.6 THP Pack |
Câmbio | manual | manual | automático | automático | automático | automático |
Preço | R$ 68.990 | R$ 73.490 | R$ 79.990 | R$ 84.990 | R$ 94.990 | R$ 98.990 |
Conteúdo | DRL, lanternas de led, trio elétrico, ar, computador de bordo, volante com ajuste de altura e profundidade, rádio com Bluetooth, barras de teto, painel digital, rodas de aço aro 16 | Versão anterior mais alarme, faróis de neblina, câmera de ré, piloto automático, multimídia, volante multifunção, banco traseiro bipartido, rodas de liga leve aro 17 | Versão anterior mais controles de estabilidade e tração, auxílio de partida em rampa, faróis de neblina com acendimento em curva, alerta de baixa pressão dos pneus |
Versão anterior mais airbags laterais, chave presencial, faróis e limpadores com acionamento automático, ar digital, volante de couro, painel emborrachado |
Versão anterior mais seletor giratório de tipo de terreno Grip Control, revestimento interno de couro, freio a disco nas quatro rodas |
Versão anterior mais airbags de cortina, retrovisor eletrocrômico, alerta de colisão e de saída involuntária de faixa, frenagem automática |
Teste (com gasolina) – Citroën C4 Cactus Shine 1.6 THP Pack
Aceleração de 0 a 100 km/h: 8,3 s
Aceleração de 0 a 1.000 m: 29,3 s – 178,9 km/h
Retomada de 40 a 80 km/h: 3,6 s (em D)
Retomada de 60 a 100 km/h: 4,4 s (em D)
Retomada de 80 a 120 km/h: 5,4 s (em D)
Frenagens de 60/80/120 km/h a 0: 14,1/25,2/57 m
Consumo urbano: 11,4 km/l
Consumo rodoviário: 14,4 km/l
Ficha técnica – Citroën C4 Cactus Shine 1.6 THP Pack
Preço: R$ 98.990
Motor: flex., diant., transv., 4 cil., 1.598 cm3, 16V, turbo, 77 x 85,8 mm, 10,2:1, 173/166 cv a 6.000/6.000 rpm, 24,5/24,5 mkgf a 1.400/1.400 rpm
Câmbio: automático, 6 marchas, tração dianteira
Suspensão: McPherson (diant.)/eixo de torção (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.), sólido (tras.)
Direção: elétrica; 3 voltas
Rodas e pneus: 205/55 R17
Dimensões: comprimento, 417 cm; largura, 171,4 cm; altura, 156,3 cm; entre-eixos, 260 cm; altura livre do solo, 22,5 cm; peso, 1.214 kg; tanque, 55 l; porta-malas, 320 l