Há exatos dez anos, em junho de 2008, era lançado o Effa M100. O primeiro chinês vendido no Brasil foi o único carro que não concluiu o Longa Duração pela falta de segurança, agravada pelo pós-venda desastroso. Desmontado aos 41.930 km, foi reprovado.
Foi um início difícil, mas a última década serviu para mostrar a clara evolução dos carros chineses, ou melhor, de marcas chinesas: hoje a Chery só vende carros montados no Brasil e seus lançamentos futuros também passam pela nacionalização.
Fomos até o Centro de Desenvolvimento da Chery em Anhui, China, para andar nos Tiggo 4 e Tiggo 7. Os dois serão montados na fábrica da Caoa em Anápolis (GO), junto dos Hyundai Tucson, ix35 e HR, até o final deste ano.
Os dois são baseados na mesma plataforma e têm conjunto mecânico igual.
O motor é o 1.5 TCI, turbo com injeção indireta, com 147 cv e 21,4 mkgf com gasolina. Mas você pode esperar números melhores no Brasil, onde este motor será flex. O câmbio é automatizado de dupla embreagem seco de seis marchas fornecido pela alemã Getrag.
Cada Tiggo tem um perfil e um público alvo.
O Tiggo 4 é estratégico. Com dimensões próximas às do Renault Duster, será posicionado na faixa de R$ 80.000 a R$ 90.000, onde estão Hyundai Creta, Nissan Kicks e Honda HR-V, os SUVs compactos mais vendidos do Brasil.
Talvez por isso seu design seja um pouco mais robusto. Pelo menos essa é a impressão que a carroceria mais quadrada, os faróis grandes e o para-choque frontal com apliques metálicos deixam.
A traseira tem corte vertical e lanternas horizontais interligadas por uma barra cromada. Os refletores estão em nichos salientes no para-choque traseiro, junto com falsas saídas de ar.
O interior também brinca com as formas. As saídas de ar centrais não são simétricas: uma fica ao lado da central multimídia e outra em cima dela. Os botões estão concentrados no console central elevado, como no Honda HR-V. Dois deles operam o freio de estacionamento eletrônico e a função auto-hold, também presentes no Honda.
O acabamento é interessante para o segmento. Painel e portas têm superfícies emborrachadas e a qualidade da montagem é boa. Os bancos dianteiros são confortáveis, com apoios laterais corretos e ajustes elétricos.
A ergonomia só não é melhor porque não há ajuste de profundidade para o volante – só de altura.
Atrás, o espaço é bom tanto para as pernas como para a cabeça. Entre os equipamentos, destaque para os seis airbags, alerta de mudança de faixa e para o ar-condicionado digital com saídas para o banco traseiro.
O Tiggo 7, por sua vez, será o Jeep Compass da Chery. É um SUV médio que brigará com os SUVs compactos mais caros – com preços acima dos R$ 100 mil – além do Compass e do Hyundai ix35.
Seu design é menos ousado que o do irmão menor. Mas suas formas mais orgânicas são mais unânimes. Esse conservadorismo também é visto no interior, com painel simétrico e faixa de couro sintético.
Mas quadro de instrumentos e volante são exatamente os mesmos nos dois carros, com velocímetro e conta-giros analógicos, e os outros instrumentos concentrados em uma tela de LCD.
As dimensões são maiores. O Tiggo 4 tem 4,34 m de comprimento, 1,83 m de largura, 1,65 m de altura e 2,63 m de entre-eixos, enquanto o Tiggo 7 tem 4,50 metros de comprimento, 2,67 metros de entre-eixos, 1,84 m de largura e 1,67 m de altura.
Os 16,7 cm a mais comprimento e os 4 cm extras no entre-eixos extras têm efeito no espaço ainda melhor para as pernas de quem vai no banco de trás e no porta-malas maior – 414 litros contra 340 litros.
Mas também há equipamentos extras, como ar-condicionado digital de duas zonas com saídas para o banco traseiro, teto panorâmico com abertura elétrica, câmeras com visão 360 graus e faróis de xenônio.
Apesar da mecânica igual, os Tiggo 4 e 7 comportam-se diferente. Os dois sofrem com o casamento atribulado do conjunto mecânico: o câmbio é lento tanto no momento de acoplamento da embreagem nas saídas, como nas trocas, e o motor sofre com o atraso da resposta do turbo.
Mas o Tiggo 7 demonstra reações mais lentas, que podem ser motivadas por relação de diferencial mais longa ou por um mapa de acelerador diferente. Fato é que sua suspensão é mais macia que a do irmão menor e, por isso, inclina ainda mais nas curvas.
Estas características são comuns em carros configurados para o mercado chinês e serão corrigidas pela Caoa Chery na adaptação do carro para o mercado brasileiro.
O importante é que o ponto de partida para os trabalhos é bom. Há uma sensação de refinamento, que vem do manuseio das maçanetas, do toque dos botões e da forma como o carro lida bem com as vibrações e ruídos do motor.
É uma clara evolução frente aos chineses antigos e até mesmo ao próprio Tiggo 2, que acaba de chegar, mas tem projeto antigo diante da rápida evolução dos seus irmãos.
Ficha Técnica
Chery Tiggo 4 | Chery Tiggo 7 | |
Motor | gasolina, diant., transv., turbo, quatro cilindros, 1.498 cm3, 16V, 147 cv a 5.500 rpm, 21,4 mkgf entre 1.750 e 4.000 rpm |
gasolina, diant., transv., turbo, quatro cilindros, 1.498 cm3, 16V, 147 cv a 5.500 rpm, 21,4 mkgf entre 1.750 e 4.000 rpm |
Câmbio | automatizado de dupla embreagem, 6 marchas, tração dianteira | automatizado de dupla embreagem, 6 marchas, tração dianteira |
Suspensão | McPherson (diant.) /multilink (tras.) | McPherson (diant.) /multilink (tras.) |
Freios | disco vent. (diant.) e disco sólido (tras.) |
disco vent. (diant.) e disco sólido (tras.) |
Direção | hidráulica | hidráulica |
Rodas e pneus | 215/55 R18 | 215/55 R18 |
Dimensões | compr., 433,8 cm; largura, 183 cm; alt., 164,5 cm; entre- -eixos, 263 cm; peso, 1.437 kg; tanque, 57 l; porta-malas, 340 l |
compr., 450,5 cm; largura, 183,7 cm; alt., 167 cm; entre- -eixos, 267 cm; peso, 1.440 kg; tanque, 57 l; porta-malas, 414 l |
Preço | Entre R$80.000 e R$90.000 | Entre R$100.000 e R$110.000 |
Os Rivais | Jeep Renagade. Hyundai Creta, Nissan Kicks | Jeep Compass, Hyundai ix35, Honda HR-V |
O que é legal | Bom acabamento, espaço interno adequado e conjunto mecânico que tem potencial | É bastante refinado e tem equipamentos interessantes e espaço de sobra |