Casal especialista em Fiat Marea diz ter salvado mais de 20 de pegar fogo
Com uma oficina em Joinville (SC) que atende clientes de todo país, Diogo e Marcelle falaram sobre a má fama do carro e contaram casos absurdos
“Não existe isso de explodir, nenhum Marea explodiu até hoje, é folclore”, defende o proprietário de uma oficina mecânica especializada e referência em Fiat Marea, sobre a enxurrada de piadas e preconceito que o modelo enfrenta há praticamente duas décadas.
Fundada em 2012, em Curitiba (PR), a França Técnica Automotiva está desde 2018 em Joinville (SC). Responsável não apenas por manter e salvar muitos Marea, a oficina também foi ponto de partida para a história de Diogo França (daí o nome da oficina, que em nada tem a ver com carros franceses) e Marcelle Benkendorf. Houve participação dos Marea até no casamento do casal.
Para Diogo, sua primeira lembrança envolvendo o modelo vem de pelo menos 20 anos atrás, quando ele ainda nem tinha CNH e muito menos imaginava qual seria seu rumo profissional. “Eu estava na praia e vi chegar um Fiat Marea só com a meia luz e os faróis de neblina acesos (…) lembro que vi e me apaixonei”, diz ele, que atualmente guarda uma Marea Weekend Turbo na garagem.
A paixão cresceu quando, por volta de 2007, seu tio comprou um Marea 2.4 cinco cilindros 1999 – na época, Diogo já trabalhava em uma oficina mecânica. Foi esta unidade, que anos depois veio a ser seu primeiro Marea, responsável por dar o gatilho para que ele aprendesse mais sobre o modelo de forma autodidata e abrisse seu próprio negócio.
Toda a operação da oficina fica nas mãos do casal de Joinville, que não recebe apenas Marea ou Brava, mas qualquer tipo de veículo leve, com exceção daqueles com motorização diesel.
Por lá, cerca de 10 carros vindos de todos os cantos do país passam mensalmente pelas mãos de Diogo, que não terceiriza a mão-de-obra e põe a mão na massa sozinho. O casal disse ter adotado esta estratégia como uma garantia do serviço. “Essa é a característica da nossa oficina: não somos os mais rápidos, mas fica bem feito; é o nosso nome que está em jogo”, pondera Marcelle.
O carro-chefe da oficina é a revisão, especialmente dos Marea. Mesmo assim, Diogo destaca o crescimento do número de preparação com a onda dos “projetos”. Ou seja, além das preventivas e de resolver problemas, ele também fica responsável por preparações mecânicas, como em escape e pressurização, por exemplo.
Marea pega fogo?
Diogo diz que nenhum Marea explodiu, apesar de entender que se trata de uma forma de expressão. Mas confirma que alguns têm grandes chances de pegarem fogo, sim, e que são casos específicos: os equipados com motores 1.6, 1.8 e 2.4. Isso não acontece com os 2.0, seja turbo ou aspirado.
Segundo o especialista, isso pode acontecer porque, nas configurações citadas, o tubo de combustível é rígido e fixado por um engate rápido, ou do tipo “click”. Ou seja, quem não conhece o modelo pode quebrar esse engate sem perceber, gerando um vazamento de combustível em cima do sistema de escape. Daí, o risco de incêndio.
Ele garante ainda que o componente não se quebra sozinho, ou seja, é culpa de falta de conhecimento ou cuidado na manutenção. “Se for um carro com manutenção feita corretamente, não acontece, é como em qualquer outro carro”, diz.
Além da questão crônica, Diogo também relembra outros fatores que culminaram na má fama do Marea. Desde seu lançamento no Brasil, em 1998, o modelo sofre com um erro vindo da própria Fiat. Os primeiros manuais recomendavam a troca de óleo a cada 20.000 km, um prazo fora dos padrões mesmo para os dias de hoje.
Para piorar, os lubrificantes utilizados na época não tinham boa qualidade e o combustível, ruim, contaminava ainda mais o óleo. Isso fez muitos motores terem problemas. “Já deu a largada dando muito problema, não teve muito com salvar a fama”, diz Marcelle. Para Diogo, de 80 a 90% das unidades que têm problemas, a manutenção errada é a vilã.
“Sempre foi um carro com potencial gigantesco, à frente do seu tempo, mas ficou queimado por um erro crasso desse”, completou a profissional de comércio exterior, mas que participa do dia-a-dia da oficina e que faz muito pelo Marea, como administrar o Clube do Marea nacional – saiba mais sobre isso em alguns parágrafos.
O casal aponta para mais uma questão: os públicos de cada configuração do modelo, segundo o que se vê na oficina e nos grupos. Os proprietários dos Fiat Marea Turbo investem mais em preparação, já que as unidades turbinadas costumam estar com manutenção em dia, por serem de um público mais seleto. Enquanto isso, os aspirados chegam em pior estado.
“Como os aspirados são mais baratos, infelizmente muda o público e, consequentemente, quem presta manutenção”, relata Diogo.
Por isso, Marcelle diz que, na França Técnica, os Marea Turbo chegam mais para revisão, enquanto os aspirados precisam de manutenção. “É mais coisa mal cuidada, que foi passando de mão em mão, ou gente que comprou porque estava barato e tinha todos os opcionais, mas não leu a respeito”, aponta sobre os aspirados, acrescentando que “às vezes tem que refazer do zero”.
A lata de cerveja e a sabotagem
Quando questionados sobre os casos mais bizarros que já viram passar por lá, Diogo e Marcelle não hesitaram. A parte que mais os assombra são as gambiarras na parte elétrica – em muitos eles dizem não saber nem como tais carros estão funcionando e ainda não pegaram fogo. “Tem um pessoal que usa fio de chuveiro na elétrica”, contaram.
E não é porque é Marea, não, dizem eles. São truques absurdos causados, novamente, por mão-de-obra desqualificada ou sem conhecimento do carro. “Mas o Marea não admite gambiarras”, alertam, dizendo ainda que já salvaram mais de 20 Marea de não pegarem fogo por problemas elétricos.
Já na parte mecânica, uma história ficou marcada na França Técnica, envolvendo um Marea Turbo com alto nível de preparação, de potência elevada. “O mecânico anterior calçou o bronzinamento do motor com filme plástico e enrolou algumas mangueiras com lata de cerveja. “Quando a gente abriu, só dava o logo da Amstel”, disseram.
Mas Marcelle fez uma observação sobre o caso: o proprietário foi vítima de alguém que agiu de má fé. “É uma pessoa com boas condições financeiras, de bom trato com o carro, ele foi uma vítima”, completou.
Ainda sobre vítimas de serviços mal executados, eles contaram sobre um sério caso de provável sabotagem em outro cliente. Foram encontradas cinco tampas de frascos de óleos enroladas dentro de um motor, o que, hora ou outra, causaria um entupimento e uma quebra do motor. “Certamente foi de propósito, até porque as tampas nem eram da marca do óleo que o proprietário usava”.
O que o Marea uniu…
Mais do que uma história cheia de motores, graxa e causos absurdos, Diogo e Marcelle também têm com o Marea memórias que os uniu. Enquanto Diogo já comandava a França Técnica em Curitiba, Marcelle também já participava dos clubes de Marea – e hoje administra o clube nacional. Seu primeiro, um 2.4 sedã e até hoje com ela, foi comprado há mais de 10 anos – o segundo, uma Weekend Turbo, completou 5 anos.
Foi justamente a “caçula” que promoveu o encontro. “Ela veio toda destruída e eu queria muito salvar o carro, porque dali estava quase indo para o ferro velho”, contou Marcelle. Porém, ela imaginou que os mecânicos da região de Joinville não dariam conta da necessária manutenção do veículo e pediu indicações de amigos, que indicaram Diogo, em Curitiba.
Ela mandou a perua para Diogo cuidar e os dois mantiveram, por cerca de um ano, a relação de prestador de serviço e cliente. Até que, em 2017, começaram a namorar. Mais um ano se passou e os planos do casamento deram início a mais um capítulo: a mudança da oficina para Joinville.
A paixão pelos carros foi tanta, que ambos foram para a cerimônia de casamento com seus próprios carros, mesmo ela, vestida de noiva, chegou com seu sedã vermelho.
Hoje, a garagem do casal é diversificada. Marcelle tem em casa dois Marea: uma Weekend Turbo, 2001, com pistões e bielas forjados, turbina K24, escape inox sem restrições, remap na central original no etanol, reforço de diferencial, entre outras modificações, e nada menos que 415 cv aferidos em dinamômetro. O outro é um sedã 2.4 2001, com motor original, remap na central original na gasolina, escape sem restrições e potência aproximada de 180 cv.
Diogo também não consegue fugir do modelo e tem uma perua Turbo 2000, com remap na central para etanol e gasolina, escape sem restrições e aproximadamente 280 cv; um Chevrolet Kadett GSI 1994 apenas com escape modificado; e uma Kombi 1.6 boxer 2000.
A Kombi é a “filha mais nova” da casa, comprada em maio de 2021 quando Diogo resolveu mudar de hábitos. A intenção era transformá-la em uma espécie de motorhome, apesar de não conseguirem partir para viagens muito longas por conta dos cachorros que têm em casa.
Mesmo assim, a Velha Senhora tem cumprido o papel de trazer novas aventuras ao casal. “Hoje a Kombi ocupa um bom espaço na nossa vida porque ela proporciona momentos muito legais entre nós, de fazer um acabamento, de fazer um final de semana na praia de frente para o mar”, disse Marcelle. “Mas dos Marea não abro mão, são sagrados!”, garante.