Existe um componente em compartilhado entre Fiat Uno, Nissan Frontier, Honda Civic, Chevrolet Celta, Volkswagen Passat e dezenas de outros carros de diferentes segmentos, tamanhos e preços. É o gerador de gases, também chamado de deflagrador, dos airbags fornecidos pela fabricante japonesa Takata.
Cada carro tem sua própria bolsa de airbag, adaptada às suas dimensões internas. Mas o deflagrador pode ser o mesmo: é o componente responsável pela reação química que gera gases quase instantaneamente para que o airbag se abra. Pode acontecer mais do que isso em airbags usados por carros de mais de 17 marcas fabricados entre o final dos anos 1990 até 2015.
“A ativação do gerador de gases do sistema de airbag pode resultar em uma pressão excessiva e acarretar na ruptura do gerador de gases com a projeção de fragmentos metálicos para o interior do veículo”, diz um dos comunicados deste que foi o maior recall do mundo.
O problema afeta mais de 100 milhões de veículos globalmente e envolveu aproximadamente 5,8 milhões de carros no Brasil.
Em casos de rompimento do gerador de gás, fragmentos metálicos podem ser lançados para o interior do veículo, representando um sério perigo de danos físicos. Os fragmentos são projetados contra os ocupantes do carro a uma velocidade aproximada de 300 km/h.
O defeito teria causado ferimentos em aproximadamente 70 pessoas no Brasil. E são ferimentos que podem ser fatais: há o registro de pelo menos 8 mortes no Brasil relacionadas aos deflagradores dos airbags.
Um dos últimos recalls motivados pelos “airbags mortais” da Takata foi para os Chevrolet Celta e Classic, mas apenas em 2020 e após a Chevrolet ser notificada pelo Ministério da Justiça.
O caso veio à tona quando a polícia de Sergipe, após meses de investigação, apontou que fragmentos do airbag de um Celta 2014 causaram a morte do seu motorista. Após uma semana, a Chevrolet convocou 235.845 unidades dos Celta e Classic para recall.
Em 2019, a própria Chevrolet chegou a convocar recall para troca das bolsas de airbag dos modelos Agile, Montana, Sonic, Cruze e Tracker fabricados entre 2012 e 2018, totalizando 291.619 veículos.
Troca dos airbags é gratuita, mas pouca gente faz
Os defeitos dos airbags Takata vieram à tona há 10 anos. A fabricante japonesa declarou à época que havia tomado conhecimento sobre os defeitos em 2008, mas uma reportagem do The New York Times revelou que a descoberta aconteceu em 2004.
Tudo começou com a investigação de um acidente envolvendo um Honda Accord 2002, ocorrido em Alabama, Estados Unidos. Na ocasião, diversos detritos de metal atingiram o motorista no momento do acionamento da bolsa de ar. No entanto, os executivos da Takata teriam ignorado as sugestões dos engenheiros para a realização de um procedimento corretivo.
Havia versões do deflagrador menos e mais perigosas – que lançam pedaços metálicos em cerca de 50% das deflagrações. A Takata declarou falência no último mês, tendo sido adquirida pela rival norte-americana KSS.
Ainda assim, dos cerca de 4,4 milhões de carros convocados para o recall no Brasil, cerca de 2,5 milhões ainda não tiveram a peça defeituosa substituída. Cada fabricante busca uma forma de estimular o recall.
Além de serem feitas novas convocações com regularidade e o envio de mala direta aos proprietários, aproveitando o cruzamento das informações com a base de dados do Senatran, a Honda utiliza seus caminhões de entrega para divulgar a campanha. A Chevrolet, por sua vez, chegou a pagar para seus clientes comparecerem ao recall.
Ainda sobre o caso dos Celta e Classic, a Chevrolet chegou a oferecer R$ 500 reais em combustível aos proprietários que levarem seus carros para fazer a troca das bolsas de ar.
Carro com recall pendente não será licenciado
A nova lei de trânsito, que entrou em vigor em 12 de abril de 2021, obriga proprietários a fazerem os recalls de seus veículos para que o licenciamento anual seja liberado. Isso fecha o cerco aos carros com recall pendente no Brasil, onde a adesão a essas campanhas é pequena.
O recall não atendido após um ano da notificação será automaticamente incluído no Certificado de Licenciamento Anual do veículo, e o mesmo só poderá ser licenciado a partir da comprovação do serviço realizado.
Após fazer o reparo, a fabricante terá 15 dias para informar ao sistema do governo sobre o conserto feito em cada unidade. Já o proprietário terá um recibo com o dia, horário, duração e local onde o recall foi feito.
É um estímulo tão forte para a execução de qualquer recall.