Boeing 777 ganha pele de tubarão artificial para economizar combustível
Tão leve quanto papel de escritório, película especial utiliza "canaletas" microscópicas para conduzir ar e economizar milhões
O biomimetismo é área da ciência que se inspira nas formas da natureza para criar soluções de engenharia. Os aviões são muito favorecidos por elementos que vêm dos pássaros, mas não só: a companhia aérea Swissair acaba de estrear a AeroSHARK, uma película que imita a pele de tubarão para diminuir a resistência aerodinâmica.
Situação parecida já ocorrera na água, mais especificamente nas piscinas; nos anos 2000, maiôs que imitavam a pele de tubarão deram imensa vantagem a nadadores, que quebraram recordes até hoje mantidos antes que as peças fossem proibidas. A resistência do ar é imensamente menor que a da água, mas a velocidade extrema do voo de um Boeing 777 faz com que a aplicação da película faça sentido.
Ela foi desenvolvida pela petroquímica BASF, em parceria com Lufthansa Technink — braço de manutenção da aérea alemã. O segredo está num laser, que produz ranhuras no filme transparente que, vistas no microscópio, se assemelhariam a uma série de canaletas. Como a pele do tubarão na água, a película praticamente invisível conduz o ar que percorre a fuselagem do imenso avião comercial.
Como tudo na aviação, a AeroSHARK só é aplicada porque faz sentido economicamente. De acordo com estimativas da Lufthansa, o arrasto aerodinâmico do Boeing 777 pode ser reduzido em 1% com o uso da película. Parece pouco, mas é o suficiente para, em um único avião, economizar o equivalente a meio milhão de litros de querosene.
Um metro quadrado de AeroSHARK, em compensação, pesa 180 g, de modo que envelopar a aeronave inteira acrescenta peso equivalente a dois passageiros. Compensa tanto que, em breve, 23 aviões de Lufthansa e Swissair contarão com a pele de tubarão artificial. A economia total dessa frota, ao ano, pode chegar aos R$ 23 milhões.