Alfa Romeo Alfetta Berlina: abuso de autoridade
Tecnicamente refinada, a Alfetta surgiu para enfrentar sedãs europeus, mas suas qualidades serviram à defesa da lei e da ordem
Alfetta é a versão italiana do apelido que damos por aqui: “Alfinha”. E não é preciso ir muito longe para o carinhoso diminutivo ganhar sentido: o lendário Alfa Romeo 158/159 ganhou os dois primeiros campeonatos de F-1 (1950-51), com os pilotos Giuseppe Farina e Juan Manuel Fangio. O mesmo nome batizaria oficialmente um sedã de quatro portas (Berlina) em 1972.
Os três volumes definidos pelos designers Giuseppe Scarnati e Ivo Colucci representavam uma grande evolução sobre o Giulia e o 2000, renomados sedãs da casa de Milão.
A frente de quatro faróis, linha de cintura baixa, grande área envidraçada e traseira elevada indicavam que o alvo era o BMW 2000 “Nova Classe”, referência no segmento.
A configuração mecânica atestava a competência técnica da Alfa Romeo. Foi o primeiro automóvel de passeio da marca a ter o câmbio junto ao eixo traseiro, responsável pela tração.
A solução desenvolvida nas pistas melhorava o espaço interno e a distribuição de peso entre os eixos, aposentando o arcaico e pesado eixo rígido.
No seu lugar entrava um tubo DeDion, controlado por um paralelogramo de Watt, um sistema complexo, mas eficiente.
A preocupação com o peso não suspenso era tanta que os freios traseiros eram do tipo interno, com discos posicionados ao lado do câmbio. A suspensão dianteira era igualmente refinada, com braços duplos paralelos e barra de torção.
Todo o conjunto era extremamente bem equilibrado e dimensionado para o já tradicional motor Alfa Romeo, com quatro cilindros, duplo comando de válvulas e câmaras de combustão hemisféricas. Com 1,8 litro, rendia 121 cv e acelerava de 0 a 100 km/h em menos de 10 segundos.
A velocidade máxima era de 180 km/h. O conta-giros trazia o manômetro de pressão do óleo integrado, além do marcador de combustível, relógio analógico e termômetro – tudo visto por trás do volante de três raios, com aro em madeira autêntica e regulagem de altura da coluna.
Apesar desse refinamento, a qualidade de construção deixava a desejar: o alto custo de produção obrigou a Alfa a empobrecer o acabamento.
Para piorar, a fábrica de Arese sofreu várias greves, o que baixou o comprometimento dos operários com o controle de qualidade.
Parte desses problemas era resultado da crise energética de 1973, motivando o lançamento da Alfetta 1.6, em 1975. A cilindrada reduzida visava diminuir o consumo, mas o padrão de acabamento descia outro degrau: o aro do volante ganhava couro sintético.
Em 1977, a recuperação econômica do país fez surgir a Alfetta 2.0. Tinha faróis retangulares e era mais veloz e estável. E assim como as antecessoras Giulia Super e 2600 Sprint GT, foi convocada para servir as forças policiais do país.
O exemplar das fotos é um modelo 1982, do colecionador Marcelo Paolillo. “Ela tem blindagem original, oferecida pela fábrica desde 1978: o assassinato do ex-primeiro ministro italiano Aldo Moro aumentou a procura por automóveis blindados, que eram usados por altas autoridades e também pela polícia.”
Em 1978, a segunda crise energética na Itália coincidiu com o 2000 Turbo D, um dos mais ágeis sedãs a diesel da época. Reestilizado em 1981, adotou injeção eletrônica, comando de admissão variável.
A versão Quadrifoglio Oro resgatou os quatro faróis circulares. A suspensão cada vez mais macia incomodava os puristas, mas garantia o conforto de um carro que fazia frente aos BMW.
Quase sempre ofuscado pelo sucesso dos cupês da família Alfetta (nascidos em 1974), o último Berlina (sedã) deixou a fábrica de Arese em 1984.
Tem seu lugar garantido na história não só pelos excelentes dotes dinâmicos, mas também pelo papel decisivo na defesa da lei e da ordem.
Dublado ou legendado?
As linhas originais da Alfetta 1972 serviram de inspiração para o Alfa Romeo 2300, em 1974. Produzido em Duque de Caxias (RJ), era maior e mais pesado que seu primo italiano, rivalizando em sofisticação e preço com Dodge Dart e Ford Landau.
Ficha Técnica – Alfa Romeo Alfetta 2000 L 1982
Motor | 4 cilindros em linha, 2 litros, 130 cv a 5.400 rpm, 18,3 mkgf a 4.000 rpm |
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Câmbio | manual de 5 marchas |
Dimensões | comp., 438 cm; larg., 163 cm; alt., 143 cm; entre-eixos, 251 cm; peso, 1.140 kg |
Desempenho | 0 a 100 km/h em 6,5 s; vel. máx., 185 km/h |