Nas últimas semanas, eu me diverti muito com vários repórteres da BBC nos dizendo que hoje as pessoas decidem que carro comprar com base no quanto danoso ele é ao meio ambiente. Sem dúvida, isso é verdade dentro da BBC, e é por isso que boa parte dos funcionários vai ao trabalho pedalando bicicletas dobráveis. Porém, no mundo real, as pessoas não dão muita bola a emissões ou ao politicamente correto. Você pode usar trabalho escravo para produzir um carro que use como combustível uma mistura de cianeto e potássio, mas se ele vier com uns acessórios grátis e garantia de cinco anos, é capaz de vender aos montes.
Para as pessoas, o custo-benefício é importante. Como também é a economia de combustível, o conforto, o prazer ao dirigir e a confiabilidade. O que sai do escapamento é irrelevante. E também, estranhamente, o estilo. Sim, é estranho. Ninguém escolheria ter filhos feios nem deliberadamente encheria sua casa com móveis que fossem desagradáveis ao olhar. E, no entanto, todos os anos milhares de pessoas compram carros com o apelo estético de uma ferida aberta.
Acho que nunca antes na história da indústria automotiva o mercado esteve tão cheio de automóveis feios. Monstruosidades desajeitadas com rodas finas e entupidas de detalhes de estilo desnecessários e linhas de teto que parecem ter sido desenhadas para que as pessoas no banco de trás possam usar cartolas.
Eu olho para o Citroën Cactus e me pergunto: “O que é isso? Por que ele tem plástico bolha na lateral?” Mas fica claro que muitas pessoas pensam de forma diferente, porque as ruas estão cheias deles. É a mesma coisa com o novo Lexus NX. Por que eles deixaram uma criança de 4 anos de idade com fixação em lasers espaciais a cargo do estilo? E então você tem o MINI Countryman e, quase ia esquecendo, o novo Jeep Cherokee. É espantoso. Porque o que eles fizeram foi pegar o velho Pontiac Aztec e combiná-lo com um sapo de boca grande.
No entanto, há uns poucos fabricantes que estão nadando contra a correnteza da feiura. A Kia é um deles. E a BMW outro. É claro, a gigante alemã pode colocar no mercado coisas horríveis como o X3, mas seus sedãs e cupês são magníficos, com linhas prejudicadas apenas pela maldição da familiaridade. O Série 5, em particular, é uma obra-prima.
E o Série 3 que eu estava usando na semana passada não fica muito atrás. Você olha para ele e pensa: “Por que diabos alguém escolheria comprar um Audi, um Mercedes-Benz ou um Lexus em vez dele?”
Uma das razões, é claro, é que os BMW são famosos por ser fonte de problemas no inverno europeu. Na, verdade, a principal razão pela qual o Reino Unido trava sempre que neva um pouco ou há uma geada leve é que cada rua, ou estrada, do país fica bloqueada por um BMW, com seus grandes pneus traseiros patinando e seu motorista em pânico preenchendo os formulários do seguro, sabendo que, mesmo que o acidente ainda não tenha acontecido, ele ocorrerá.
Bom, com o BMW que eu estava dirigindo recentemente isso não ocorre, porque ele tem tração nas quatro rodas. Esse carro já estava disponível na Europa continental há quase uma década, mas até agora os engenheiros da BMW não achavam haver razão para incorporar a tração integral aos modelos com volante no lado direito. A previsão do tempo para este inverno é que ele será rigoroso – e a BBC culpará a Volkswagen. Mas no novo BMW 320d com xDrive (tração 4×4) você estará numa boa.
Há, no entanto, aspectos negativos nos dias em que não estiver nevando. Em primeiro lugar, ele custa mais. É razoável: há muitas engrenagens e peças a mais. Mas o adicional é de 1.500 libras (R$ 8.700), e isso é o que os economistas chamam de “muito”.
E tem mais. O espaço entre o console central e a caixa de roda é bem apertado, o que significa que, sempre que quer ir mais rápido, você acaba apertando o freio. E, mais importante, o consumo aumentou bastante. A versão com tração nas quatro rodas faz 2,3 km/l a menos do que a de tração traseira. E é mais lenta.
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Portanto, há um alto preço a pagar para o carro conseguir chegar até a rua numa manhã gelada de inverno, quando você acorda e descobre que geou forte na madrugada. No fim das contas, é possível que você não vá a lugar algum, porque seu vizinho escorregou até um poste com seu Série 3 de tração traseira e bloqueou a rua.
Então, fica a seu critério optar pelo xDrive ou não. Só você saberá se suas necessidades compensam os pontos negativos. De qualquer forma, você terá um carro encantador. Tirando o incômodo da caixa de roda, a posição de dirigir é sublime e a espessura e a textura do volante são perfeitas.
Se nas primeiras versões o sistema de controle iDrive da BMW era um amontoado de submenus ininteligíveis e absurdos, hoje é um exemplo de bom senso e lógica, qualidades que você acha por todo o carro. O espaço no banco traseiro, o tamanho do porta-malas, a forma como tudo funciona e o rodar: é como se você mesmo o tivesse projetado.
Naturalmente, tenho algumas críticas. A direção – elétrica – não tem a fluidez que costumava ser marca registrada da BMW, quando se intitulava a empresa que oferecia o “puro prazer de dirigir”. E os sensores de ré são estupidamente pessimistas. “Você vai bater! Você vai bater!!!”, gemem histericamente, quando você ainda está a metros do carro de trás.
Ah, e tem o motor a diesel. Dois anos atrás, os ecovidentes falavam que o diesel era o combustível do futuro. Mas daí um dia eles saíram da cama e decidiram que não, porque ele vai causar o aquecimento global que resfriará o planeta – ou algo do tipo. É difícil saber como esse pessoal pode prever como será o clima daqui a 1 000 anos, enquanto os supercomputadores meteorológicos não conseguem dizer com certeza como será o tempo amanhã à tarde.
Então, eu vou ignorá-los e afirmar que o motor a diesel do BMW é ótimo. Seu som é muito bom, tem um torque imenso e na estrada se limita a um murmurar suave. Além disso, você fará mais quilômetros por litro do que com a versão a gasolina. O que, como dissemos no início, importa bem mais do que quantas moléculas de óxido de nitrogênio você está deixando pelo caminho.