Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

A feira que revelou ao Brasil a TV a cores, o VW SP2 e o Mercedes C-111

Curiosidades do Miau: icônicos esportivos apareceram pela primeira vez em nossa terra numa feira voltada... à indústria alemã

Por Marcos Rozen
Atualizado em 28 ago 2019, 08h48 - Publicado em 28 ago 2019, 07h00
C111 Ibirapuera (1)
Mercedes-Benz C111 deixando visitantes boquiabertos no Ibirapuera (Mercedes-Benz/MIAU/Divulgação)

O que o lendário carro-laboratório Mercedes-Benz C-111 e o protótipo do VW SP-2 têm em comum?

Além de serem veículos-conceito, ambos dividiram as atenções dos brasileiros na exposição A Alemanha e Sua Indústria, mais conhecida como Feira da Indústria Alemã.

Parece evento realizado em terras germânicas, mas na verdade ele ocorreu na área do Pavilhão da Bienal do Parque Ibirapuera – o Salão do Automóvel já havia se mudado para o Anhembi em 1970 –, entre 24 de março e 4 de abril de 1971.

A exposição foi impressionante: em 45 mil metros quadrados divididos em cinco pavilhões, 573 empresas alemãs de vários segmentos industriais mostraram seus últimos desenvolvimentos tecnológicos.

Para receber a feira, o pavilhão foi todo reformado, com a instalação de 65 quilômetros de fios e tubulações para que o público pudesse ver 400 máquinas funcionando – o consumo diário de energia equivalia ao de uma cidade de 30 mil habitantes.

Só para contextualizar bem o que era aquela época, um grande sucesso da feira foi a exibição do sistema PAL de TV a cores: a televisão brasileira então só transmitia em preto e branco.

C111 Ibirapuera (5)
Feira da Indústria Alemã: um evento grandioso no Brasil para impressionar… alemães (Mercedes-Benz/MIAU/Divulgação)
Continua após a publicidade

O impacto da mostra foi tamanho que começou fora do Ibirapuera, no Aeroporto de Viracopos: pela primeira vez vinha ao país o que era então o maior avião de passageiros do mundo, um Boeing 747 (na época apelidado de “Jumbo”) operado pela Lufthansa.

Veio de Frankfurt trazendo 300 convidados para a feira, entre empresários e autoridades alemãs.

Cinco mil pessoas foram ver a chegada do avião, e a segurança teve que ser reforçada para evitar que a pista fosse invadida pelos mais entusiasmados após o pouso.

Prototipo SP2 Feira alemã (4)
Ainda um conceito, Volkswagen SP2 foi agilizado às pressas para estar no evento (Volkswagen/MIAU/Divulgação)

Na Bienal as empresas automotivas se destacavam: além da Mercedes e da Volkswagen participaram a Porsche, que trouxe um 914, um 911 e um 911 Targa, e a BMW, com um 2800 CS.

O estande da Volkswagen era um dos maiores e mais imponentes da mostra não à toa: o presidente mundial da empresa na época, Kurt Lotz, era também presidente do comitê organizador da feira.

Continua após a publicidade
Prototipo SP2 Feira alemã (3)
Objetivo da VW era agradar o presidente mundial, Kurt Lotz (Volkswagen/MIAU/Divulgação)

A fabricante, portanto, não podia fazer feio. O problema é que não havia nada muito espetacular à mão: apenas o TL e a Variant com frente nova e o inédito TL quatro portas.

Para o nosso mercado na época seria mais do que o suficiente, mas não para impressionar o presidente mundial da empresa.

Prototipo SP2 Feira alemã (1)
SP2 logo ganhou um apelido: “Volks esporte” (Volkswagen/MIAU/Divulgação)

Decidiu-se então exibir pela primeira vez o protótipo de um carro esportivo que ninguém no mundo fora dos portões da VW do Brasil já tinha visto, totalmente concebido e desenhado no país. Foi um assombro.

Naquele momento o carro não tinha nem nome nem previsão de lançamento. Foi apresentado como “Modelo de Estudo”, mas ganhou rapidamente apelido de “Volks esporte”. Era o SP2, que chegaria efetivamente ao mercado mais de um ano depois.

Continua após a publicidade
Prototipo SP2 Feira alemã (2)
Modelo caiu logo nas graças do público. Afinal, como resistir a esta traseira? (Volkswagen/MIAU/Divulgação)

Só que a Mercedes não queria ficar atrás – afinal era uma mostra para explicitar toda a modernidade tecnológica da então Alemanha Ocidental.

No estande já haveriam os modelos 300 SEL, 600, 280 SE, 280 SL e 250 CE com injeção eletrônica, além de um Unimog.

C111 Ibirapuera Aeroporto
A discrepância de ter um C-111 exposto ao lado de caminhões e ônibus feitos pela Mercedes no Brasil (Mercedes-Benz/MIAU/Divulgação)

Mas, para não correr riscos, a matriz mandou embarcar para o Brasil nada menos do que o C-111 II, o carro mais absurdamente impressionante da época: “Totalmente projetado por computador”, gostavam de repetir, assombrados, os jornais.

As imagens aqui mostradas do C-111 no Ibirapuera são em sua maioria absolutamente inéditas, oriundas do acervo da Mercedes-Benz do Brasil, que gentilmente permitiu acesso com exclusividade ao Miau (Museu da Imprensa Automotiva).

Continua após a publicidade

O carro havia sido mostrado anteriormente apenas no Salão do Automóvel de Genebra de 1970.

C111 Ibirapuera (6)
C-111 ficou exposto com bastante destaque no estande (Mercedes-Benz/MIAU/Divulgação)

Era uma espécie de laboratório futurístico da Mercedes-Benz: além do design arrojado, muito à frente de seu tempo, tinha portas estilo asa-de-gaivota e carroceria em fibra de vidro.

O motor era um Wankel com quatro rotores instalado em posição central, 7,2 litros com injeção direta de combustível e 380 cv. Fazia de 0 a 100 km/h em 4,8 segundos e alcançava os 300 km/h.

C111 Ibirapuera (3)
C-111 era um esportivo de linhas quase pornográficas (Mercedes-Benz/MIAU/Divulgação)

O câmbio era manual de cinco marchas com duplo disco de embreagem – em terceira o C-111 já beirava os 200 km/h.

Continua após a publicidade

A ideia era produzi-lo em série, mas os altos consumo e nível de emissões, ajudados pela crise do petróleo, barraram os planos. Mais tarde a Mercedes-Benz ainda trocou o motor por um diesel 3.0 cinco cilindros com turbo e intercooler, de 193 cv.

Para mostrar do que o carro era capaz houve uma prova no circuito circular de Nardò, na Itália, onde o C-111 II D percorreu absurdos 16 mil quilômetros em 64 horas, com média de 252 km/h.

C111 Ibirapuera (4)
C-111 foi a sensação do evento (Mercedes-Benz/MIAU/Divulgação)

No Ibirapuera o carro permaneceu imóvel, mas as filas que se formaram para vê-lo de perto comprovaram que ele foi o maior destaque da feira alemã, deixando os fanáticos por carros da época simplesmente alucinados.

Para tristeza geral, ele foi embarcado de volta à Alemanha logo ao fim da mostra, para nunca mais voltar.

Para os brasileiros o jeito de matar as saudades foram os brinquedos da época: a Glasslite tinha um C-111 bate-e-volta que foi bastante popular até meados dos anos 80.

Se você gostou dessa e curte outras histórias envolvendo carros, visite o Miau (Museu da Imprensa Automotiva): seu grande acervo conta essas e outras curiosidades por meio de revistas, fotos, livros e materiais de imprensa especializada.

O museu fica na Rua Marcelina, 108, na zona oeste de São Paulo. O site é o www.miaumuseu.com.br e o telefone o (11) 98815-7467.

Marcos Rozen

É jornalista especializado em automóveis e fundador do Museu da Imprensa Automotiva.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Quatro Rodas impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.