Clássicos: Porsche 928, o filho rejeitado
Refrigerado a água, ele veio para substituir o 911, mas nunca superou a desaprovação dos puristas da marca
O primeiro Porsche nasceu em 1948: era o modelo 356, que compartilhava diversos componentes com o VW Fusca. O motor traseiro e a refrigeração a ar foram mantidos no carismático 911 de 1963, mas na virada para a década de 70 o fabricante de Stuttgart percebeu que havia chegado a hora de romper com seus dogmas.
Comandada por Ernst Fuhrmann, a empresa acreditava que o futuro estava nos motores dianteiros refrigerados a água. Em 1976, aparecia o modelo de entrada 924, com um motor de quatro cilindros em linha similar aos Audi/VW. O sucessor do 911 viria no ano seguinte, como estrela do Salão de Genebra: o famoso 928.
O motor V8 dianteiro de 4,5 litros refrigerado a água horrorizou os puristas, mas era difícil resistir ao seu desempenho: os 241 cv o levavam aos 230 km/h e o torque de 37 mkgf deslocava seus 1 450 kg de 0 a 100 km/h em apenas 7,5 segundos. A distribuição de peso entre os eixos era bem equilibrada, tornando seu comportamento dócil e previsível.
O mérito também era da suspensão Weissach atrás, com braços semiarrastados e geometria específica para conter saídas de traseira. Para uma tocada segura e precisa, os freios eram a disco nas quatro rodas e a caixa de direção adotava o sistema de pinhão e cremalheira. No interior, apenas o volante lembrava o 911: era espaçoso e ergonômico.
Competia em pé de igualdade com BMW 635 CSi e Mercedes-Benz 450 SLC. Fora da Alemanha, fazia frente a Jaguar XJ-S, Aston Martin V8 e Ferrari 308. Já com dez anos de estrada, a terceira geração do Chevrolet Corvette não era capaz de incomodá-lo.
O Porsche ficou mais potente em 1979: a versão S trazia um V8 de 4,7 litros e 300 cv, suficientes para chegar a 250 km/h. Ele era tão à frente de seu tempo que atravessou a década de 80 sem nenhuma modificação substancial: a versão S2 deu as caras em 1982, com 310 cv e câmbio automático de quatro marchas.
Os freios ABS chegaram em 1984 e, no ano seguinte, o mercado americano recebeu um novo V8 de 5 litros, quatro válvulas por cilindro e 320 cv. Esse motor chegaria à Europa em 1987, na segunda geração, denominada S4: ressurgia com frente e traseira mais arredondadas e menor coeficiente de arrasto aerodinâmico (0,34 contra 0,41).
O 911 ainda permanecia firme e forte nos corações dos fãs, mas sua versão turbo sofria com o atraso nas retomadas, longe das respostas rápidas do V8 do 928. No final da década encarou Ferrari 328, Mercedes 560 SEC e Corvette ZR-1, mas seu projeto já dava sinais de cansaço diante do BMW 850i.
Em fim de carreira, a potência saltou para 330 cv na versão GT (1989) e 350 cv na GTS (1991), esta capaz de atingir 275 km/h e ir de 0 a 100 km/h em 5,9 segundos.
Sua produção foi interrompida em 1995, totalizando discretas 60.904 unidades: uma delas é este modelo 1980, que pertence ao acervo da Eduardo Veículos Antigos, de São Paulo.
Apesar de tecnicamente muito superior ao 911, o conceito de motor dianteiro e refrigerado a água do 928 estava à frente do seu tempo. Por isso foi rejeitado pelo público da marca, que se manteria fiel ao boxer traseiro a ar até sair de linha, em 1998.
PAI PANAMERA
Em 1984, o fundador Ferry Porsche comemorou seus 75 anos recebendo um presente especial: era o Porsche 942, um 928com25cma mais no entre-eixos. A partir dele surgiu o protótipo H50 (foto): com quatro portas, foi o precursor do Panamera e hoje se encontra exposto no museu da marca, em Stuttgart.
Ficha Técnica – Porsche 928 1980
Motor | 8 cilindros em V de 4,5 litros |
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Potência | 241 cv a 5250 rpm |
rque | 37 mgf a 3600 rpm |
Câmbio | manual de 5 marchas |
Carroceria | fechada, 2 portas, 4 lugares |
Dimensões | comprimento, 445 cm; largura, 183 cm; altura, 127 cm; entre-eixos, 250 cm |
Peso | 1450 kg |
0 a 100 km/h | 7,2 segundos |
Velocidade máxima | 230 km/h |