O movimento de corte da taxa básica de juros iniciado pelo Banco Central (BC) em agosto reaqueceu a procura por crédito para compra de carros novos e usados. Segundo a bolsa de valores B3, no ano passado foram financiados um total de 6 milhões de veículos, 10% a mais em relação a 2022.
Em janeiro e fevereiro foram feitos, respectivamente, 565.000 e 525.000 contratos de financiamentos, números que são 28,8% superiores ao de igual bimestre de 2023.
O gerente de planejamento de mercado da B3, Gustavo de Oliveira Ferro, credita o desempenho à melhora do cenário econômico, com queda das taxas de juros e estabilização da inadimplência. Apesar dessa retomada e da flexibilidade maior dos bancos em aprovar crédito, a sugestão de especialistas é que o consumidor ainda espere um pouco mais antes de fazer uma dívida de longo prazo.
O juro médio para veículos caiu de 29%, em janeiro de 2023, para 26%, em igual mês deste ano, dado mais atualizado disponível no Banco Central (BC). “Ainda é uma taxa alta”, diz Juliana Inhasz, professora de economia do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper).
O presidente da Fenabrave (que representa os distribuidores), Andreta Junior, acredita que os financiamentos na venda de veículos devem retomar o patamar histórico de 60% a 70% ainda em 2024.
MUITA CALMA NESSA HORA
Ela lembra que, até o final junho, ocorrerão três reuniões do Copom – órgão que define a taxa básica de juros, a Selic –, e o mercado aposta em queda de 0,5 ponto em cada uma delas. Assim, o juro oficial deve fechar o semestre em 9,75% ao ano. Os cortes serão repassados aos juros reais, que são bem maiores que o da Selic.
“O ideal seria aguardar até o início de 2025, quando a Selic deve estar entre 8 e 9%”, sugere Juliana. Em conta feita com base na taxa média atual de 26% para veículos, um modelo de R$ 150.000, com entrada de R$ 50.000 e financiamento em 48 meses, custaria ao final R$ 254.000.
Na lista divulgada pelo BC, os juros oferecidos por 44 instituições financeiras variam de 10,39 a 58,60% ao ano. Miguel de Oliveira, da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), sugere esperar pelo menos até o início do segundo semestre. Ele lembra que quem fechar negócio agora arca com a taxa atual ao longo do período contratado, ainda que ocorram vários cortes nesse intervalo.
Outro fator que vai influenciar os juros é o Marco Legal das Garantias. Com a nova lei, o banco poderá retomar o bem em caso de inadimplência sem ter de ir à Justiça. Hoje, ações judiciais costumam durar mais de um ano.
Nas contas de Márcio de Lima Leite, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a medida deve resultar em queda de 15% nos juros. Ele acredita que a nova regra entre em vigor no segundo semestre.
Leite avalia que a retomada do financiamento, que no passado chegou a participar de 70% das vendas de carros, ainda é lenta. Dados da Associação das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef) indicam que, antes da pandemia, 53% das compras foram financiadas. Ano passado foram 40%, depois de ter despencado para 32% em 2022.
ATENÇÃO AOS PRAZOS
Quanto mais longo o período do contrato, maior é o juro. Uma opção é fazer uma reserva para dar um bom valor de entrada e financiar o restante pelo menor prazo possível, diz a coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da FGV, Claudia Yoshinaga.
Para ela, o melhor seria comprar à vista e barganhar um desconto com a revenda. Ela também reforça que “juro zero não existe”, embora seja um marketing adotado por muitas financeiras. Segundo Claudia, os custos de outras taxas embutidas serão cobrados. O consumidor deve sempre verificar qual é a CET (Custo Efetivo Total), que inclui encargos e impostos cobrados na operação que pode ser ainda maior do que os juros isoladamente.
Como pagar um carro à vista é inviável para muitos consumidores, outra opção é a assinatura, espécie de aluguel de longo prazo. Em relação ao financiamento, o custo é menor levando-se em conta o valor mensal da locação e serviços incluídos como seguro, IPVA e manutenção, pondera Juliana, do Insper.
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* Valor à vista cobrado em março nas revendas Fiat.