CEO da JAC afirma que marcas chinesas dão prejuízo e ex-GWM discorda
Sérgio Habib afirmou que as marcas chinesas nos primeiros cinco anos dão prejuízo e Oswaldo Ramos rebate afirmando que a GWM deu lucro no primeiro ano

“Jabuticaba”. Por mais incrível que pareça, essa foi a palavra mais utilizada durante o terceiro painel do Fórum Direções: Conexão Brasil China, realizado por QUATRO RODAS na última terça-feira, em São Paulo. O pequeno fruto endêmico da Mata Atlântica e diferente dos outros por nascer no tronco, foi utilizado para classificar os carros mais vendidos no mercado brasileiro como “únicos” e diferentes”.
O consumidor brasileiro aprecia novas tecnologias e as compra antes mesmo delas serem comprovadas. Esse foi um dos porquês do sucesso das marcas chinesas no Brasil, que chegaram com carros híbridos e elétricos muito mais baratos que os que eram vendidos por aqui.

Mas não é só por isso que empresas como BYD e GWM dominaram (e dominam) o nosso mercado de eletrificados. Para Oswaldo Ramos, Consultor Level-C da P R A Consultoria e Serviços Automotivos, além da novidade, “é necessário ter manufatura para sobreviver no Brasil”.
É isso que espera Fernando Varela, VP para América do Sul da Leapmotor. A marca chinesa da Stellantis estreará ainda neste ano no mercado brasileiro. “Chegaremos no Brasil com uma força muito grande”, disse ele.

A Leapmotor é mais uma empresa que se junta à “invasão chinesa” no mercado brasileiro. Até o fim deste ano, já teremos 12 fabricantes de automóveis de origem chinesa operando no Brasil.
Mas Sérgio Habib, CEO da JAC Motors Brasil, não considera essa chegada em peso de montadoras chinesas como uma invasão. Para ele, os carros chineses brigarão em uma fatia muito pequena do mercado brasileiro para realmente ser expressiva na comparação com os carros mais vendidos do Brasil. Além disso, Habib, que importa carros da JAC há 14 anos, também afirmou que os carros chineses não darão certo no Brasil.

“Os chineses trabalham em apenas 20% do mercado brasileiro. Acima de R$ 170.000 e abaixo de R$ 300.000”, disse o CEO da JAC. Habib acrescentou que os elétricos representarão 2,5% das vendas no mercado brasileiro em 2025.
Já o consultor Independente e participante do mesmo painel, Milad Kalume Neto discordou: “Os elétricos puros podem não representar um número tão expressivo em 2025, mas acredito que terão uma representatividade acima de 2,5%”, diz Neto.

Oswaldo Ramos completou que o brasileiro não é fiel às marcas, mas aos produtos novos e com uma boa experiência. E cita como exemplo o Haval H6 GT, o carro mais vendido do Brasil acima dos R$ 300.000, que cresceu, principalmente, a partir de ex-clientes Volvo, Audi e BMW.
Varela completou, citando uma pesquisa interna realizada pela Stellantis. “Nós temos uma previsão de que o mercado brasileiro será 50% eletrificado. A curiosidade do público e o programa Mover fomentarão o desenvolvimento do mercado de eletrificados no Brasil”.
Instalação de fábricas e desafios do mercado brasileiro
A distância geográfica entre Brasil e China é um grande desafio para as montadoras chinesas que atuam em nosso mercado. A importação de carros é demorada e os impostos sob estes produtos subirão ainda mais nos próximos anos.
Por isso que BYD e GWM já desembarcaram no Brasil com o intuito de fabricar carros. Ambas já têm suas fábricas e começarão em breve a produção. E esse movimento é visto em quase todas as montadoras chinesas que chegam ao Brasil, como a GAC, Neta e Omoda/Jaecoo, que também anunciaram produção nacional de seus carros ou, pelo menos, a intenção para isso.

Para Varela, isso é natural, pois a chegada de novas marcas cria uma transformação. “Assim que a escala começa a aparecer, é claro que as empresas terão interesse na produção”, afirmou o executivo.
Em contrapartida, Habib afirma que o “custo Brasil” é muito alto para o início de uma produção e que para isso é preciso ter volume de vendas. O CEO da JAC defende que uma produção local só seria viável com um carro desenvolvido para o brasileiro, menores e com motor 1.0 ou 1.0 turbo para pagarem menos impostos. Seriam as tais “jabuticabas”, carros que não dariam certo na Europa ou na China.
Questionado, Habib garantiu que a JAC nunca cogitou desenvolver um carro dedicado ao mercado brasileiro.
Porém, mesmo com altos custos, as empresas chinesas estão vindo para o Brasil com planos de produção para um crescimento sólido em nosso mercado, fomentando também o desenvolvimento da indústria nacional.
Mais chineses a caminho do Brasil
Ao contrário da década passada, as montadoras chinesas trouxeram ao mercado brasileiro veículos maiores, mais bem desenvolvidos e com novas tecnologias. Até porque esses são os modelos de maior sucesso na China.
O mercado chinês é abarrotado de SUVs do tamanho do GWM Haval H6, com marcas produzindo até mais de um modelo exatamente do mesmo tamanho. E esses foram os primeiros carros chineses que chegaram ao Brasil nessa mais recente “invasão”.
Porém, segundo Oswaldo, dois hatches compactos estão a caminho do Brasil para “abalar o mercado”. O consultor não revelou nenhuma informação detalhada sobre a marca ou o modelo, mas afirmou que seria um concorrente de carros como Hyundai HB20.
Milad também trouxe à tona que mais marcas chinesas chegarão ao mercado brasileiro nos próximos anos, mas também não deu nenhuma pista sobre elas. Segundo ele, “14 a 16 marcas chinesas têm possibilidade de entrar no mercado brasileiro”.
Montadoras perdem dinheiro no Brasil?
Este foi o tema com discussão mais acalorada de todo o Fórum. Habib e Oswaldo, que são amigos há muitos anos, debateram sobre o lucro de empresas recém-chegadas ao mercado brasileiro.
De acordo com Sérgio Habib, as empresas, ao entrarem no mercado brasileiro, não conseguem sobreviver e muito menos lucrar nos primeiros cinco anos de mercado. O CEO da JAC ainda usou a Volkswagen como exemplo, afirmando que a empresa “perde dinheiro com o Polo”.

Após esta declaração, a repórter e mediadora do painel, Isadora Carvalho, questionou Oswaldo: “Você diz para as empresas que presta consultoria que elas vão perder dinheiro no Brasil nos primeiros cinco anos?”
Oswaldo, rindo da situação, prontamente responde que “não”. E completou: “nos primeiros anos se gasta muito com propagandas e outros meios de comunicação, mas a aceitação do mercado brasileiro é muito boa”. O consultor também afirmou que a GWM, empresa que ele ajudou a entrar no Brasil, conseguiu gerar lucro em seu primeiro ano.

A vinda das empresas e o intuito de produção nacional mostra que elas não querem apenas entrar no mercado brasileiro, mas se fixar com uma cadeia produtiva. Mas se esse movimento trará lucro, é outra história. Para Milad, “existe uma grande margem de crescimento para muitos produtos, mas isso precisa ser trabalhado”.