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VW ID.4: o que amamos e odiamos no primeiro Volks elétrico do Brasil

Comercializado de maneira incomum, o Volkswagen ID.4 é um SUV médio com virtudes interessantes, mas que têm defeitos também. Qual o veredicto?

Por Eduardo Passos
20 nov 2023, 13h37
Você pode ter um Volkswagen ID.4 no Brasil, mas ele não é exatamente seu (Fernando Pires/Quatro Rodas)
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Para uma empresa gigantesca e que presta contas a acionistas, previsibilidade é uma dádiva. As fabricantes de carros sempre utilizaram isso ao seu favor, com décadas de expertise alimentando mudanças sempre graduais e bem pensadas (que mesmo assim davam errado de vez em quando).

Os carros elétricos mudaram tudo: de uma hora para outra, foi necessário investir bilhões em um nicho sem precedentes. Não é à toa que só uma companhia jovem, a Tesla, conseguiu relevância num dos tipos de comércio mais complicados e resistentes a mudanças no mundo. Ao mesmo tempo, montadoras tradicionais que se arriscavam primeiro erravam mais, e outras eram sábias ao observarem isso antes de agir.

VW ID.4
Motor e tração são traseiros (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Foi o caso da Volkswagen, que só em 2020 começou a vender veículos elétricos de nascença. A família ID. já nasceu evitando erros primários, como a adoção de um design muito disruptivo. A Volks soube aproveitar a modularidade da plataforma MEB e criar veículos distintos ao mesmo tempo que esteticamente agradáveis, que se relacionam com o legado da alemã e com mecânica adequada.

Dois deles chegaram ao Brasil: a já icônica ID.Buzz e o SUV ID.4, que testamos antes de sua comercialização. Com a conta na mesa, a percepção do produto muda; por isso, além do nosso teste clássicos, apresentamos cinco pontos positivos e cinco pontos negativos para você descobrir se é através dele a sua estreia no mundo eletrificado.

Pontos positivos

ESTILO Cada um tem seu gosto, mas o Volkswagen ID.4 muito provavelmente agradará quem curte o estilo da VW. Mesmo sem o emblema, o utilitário seria facilmente identificável como um carro da alemã, com elementos que conversam entre si de maneira análoga, por exemplo, a gerações distantes de um iPhone.

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Volkswagen ID.4 azul testado pela revista QUATRO RODAS (1)
Design do carro faz sentido (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Formato de faróis e lanternas e para-choques, principalmente, são evoluções de modelos existentes no catálogo da marca. Tanto que novas versões de Tiguan ou Passat, entre outros, trazem estética vinda da família ID. Se em um carro a combustão tais escolhas já são naturais e bem aceitas, é sinal de que a marca soube criar um elétrico que não choca, mas evolui.

Volkswagen ID.4 azul testado pela revista QUATRO RODAS (20)
Atenção aos detalhes estéticos é notável (Fernando Pires/Quatro Rodas)

ESPAÇO Ele é só 10 cm maior do que um Toyota Corolla Cross, mas as referências de um SUV médio podem ser pouco úteis no Volkswagen ID.4, com seus 2,76 m de entre-eixos.

Volkswagen ID.4 azul testado pela revista QUATRO RODAS (4)
Balanços curtos favorecem o aproveitamento de espaço (Fernando Pires/Quatro Rodas)
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Os 543 litros de porta-malas são dignos de SUVs grandes, e o espaço traseiro é suficiente para três pessoas viajarem com conforto nos ombros e pernas, ajudadas pelo piso plano. Na dianteira, também há fartura espacial, com destaque para o console central ajustável que diminui uma eventual impressão de claustrofobia de outros modelos.

Volkswagen ID.4 azul testado pela revista QUATRO RODAS (18)
Atrás ninguém passa aperto (Fernando Pires/Quatro Rodas)

TECNOLOGIA Nem demais nem pouco. O pacote tecnológico do ID.4 é bem definido, atendendo ao que se espera em termos de conforto e segurança ao mesmo tempo que sua operação não é complexa.

Os faróis IQ.Light incrementam o estilo, mas servem, principalmente, para iluminar com força e amplitude o espaço à frente do carro. Além disso, os leds usam dados do GPS para ativar modos específicos a estradas rurais, rodovias e cidades, com farol alto que contorna o tráfego na contramão. As luzes tão se adaptam às curvas do trajeto.

Volkswagen ID.4 azul testado pela revista QUATRO RODAS (19)
IQ.Light é importante recurso de segurança (Fernando Pires/Quatro Rodas)
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Internamente, há Android Auto e Apple Carplay sem fio, carregador de celular por indução, ar-condicionado trizona, controle de cruzeiro adaptativo com assistente de permanência em faixa e frenagem autônoma de emergência. Os sete airbags são o principal item de segurança passiva.

O som do ID.4 é bom, e o recurso de estacionamento automático, que memoriza até cinco vagas usadas pelos donos no dia a dia, é melhor ainda. Mas essa última função destoa em termos de complexidade na operação, e é necessário algum esforço para entendê-la.

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ESTRADEIRO As IQ.Lights e o ACC se juntam a outros detalhes, que tornam o Volkswagen ID.4 um carro bem confortável para pegar estrada. Nada importa tanto quanto a autonomia, que foi de 446 km (cidade)/354 km (estrada) em nosso teste padronizado, mas empiricamente pode ser um pouco mais.

Tanto que, no ciclo WLTP, o ID.4 tem autonomia de 522 km e até supera o Tiguan 2.0 que temos no Brasil, cujo tanque de 60 litros e consumo de 8,3 km/l (Inmetro) resultam em 498 km com um abastecimento.

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VW ID4 1
Sair da cidade não assusta esse SUV (Fernando Pires/Quatro Rodas)

O problema é que achar um eletroposto é muito mais difícil do que um posto de gasolina, mas se o cliente mora no Sudeste a situação fica mais fácil. Experimentamos conectar o ID.4 a uma tomada de 125 kW e o resultado foi bom, com 20 minutos adicionando 140 km de alcance e 40 min enchendo a bateria que estava em 32%.

Não é perfeito, mas está na média. 

CONFORTÁVEL Acima da média é o conforto provido pela suspensão adaptativa e o isolamento acústico, que se destacam ainda mais nas avenidas urbanas, muitas vezes esburacadas. A calibração também é boa para buracos e lombadas, tendo o SUV se comportado bem onde semelhantes chacoalham e rolam de forma incômoda.

Volkswagen ID.4 azul testado pela revista QUATRO RODAS (17)
400 km parecem muito menos a bordo dele (Fernando Pires/Quatro Rodas)
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Junto aos bancos de ajuste elétrico fino e boa ergonomia, roda-se bastante sem cansaço. Pedais precisos seguem a mesma linha e os ocupantes traseiros, além do espaço, têm entradas USB-C próprias e ar-condicionado dedicado. É difícil apontar como tornar o ID.4 mais confortável sem incrementos complexos, dignos de Audi.

Pontos negativos

BOTÕES CONFUSOS Mas eles existem, é claro. E talvez sejam um dos poucos aspectos nos quais a VW foi moderninha demais.

O exemplo mais incômodo é o dos botões de baixo relevo, que misturam comandos de pressão leve, pressão mais pesada e deslizamento com os dedos para diversas funções.

VW ID4 1
No ID.4, os comandos são todos sensíveis ao toque, inclusive para os faróis (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Surgem situações engraçadas: se você está zapeando as músicas do Spotify, é comum manter o dedo sobre o botão de Next no volante, pressionando-o caso queira mudar de faixa novamente. No ID.4, o dedo em repouso age como fast forward, avançando a mesma faixa. Para zapear, é preciso pressionar o botão com firmeza, afastar o dedo do volante, pressionar com firmeza de novo e assim vai… coisa pouca, mas que na frequência em que ocorre no dia a dia vai aborrecendo o motorista.

Volkswagen ID.4 azul testado pela revista QUATRO RODAS (13)
É fácil errar os comandos do volante (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Também são confusos os comandos dos vidros, que na porta do motorista têm apenas botões para a esquerda e para a direita. Conforme o desejo de operar vidros dianteiros ou traseiros, é necessário apertar um o escrito Rear, que não tem relevo e se acende com discrição para indicar que funcionará com as janelas de trás.

Volkswagen ID.4 azul testado pela revista QUATRO RODAS (16)
Entendeu como faz para operar os vidros, motorista? (Fernando Pires/Quatro Rodas)

TELAS FRACAS Produtos de apelo tecnológico necessariamente precisam de boas telas. Não é questão de tamanho, mas de qualidade, resposta ao toque e interfaces. E em nenhum desses pontos o ID.4 manda bem.

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Central multimídia decepciona (Fernando Pires/Quatro Rodas)

A multimídia de 10” não acompanha a tecnologia veicular, apresentando baixa resolução e menu confuso, que demanda tempo para ser entendido. Pior ainda é o quadro de instrumentos digital de 5,3”, que parece um computador de bordo dada as poucas informações que consegue exibir. Sua resolução é baixa a ponto de pixelar algumas fontes tipográficas mais finas.

PERFORMANCE O ID.4 é comercializado no Brasil em versão única, a Pro Performance. Mas o nome engana, assim como os 204 cv e 31,5 kgfm do motor traseiro.

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Não é manco, mas não é um foguete (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Ele é até bom nas retomadas, mas vai de 0 a 100 km/h em 8,4 s, que mostram o impacto das suas mais de 2 toneladas no desempenho. Esse peso fica evidente até ao abrirmos as portas, que chegam a lembrar de veículos blindados. Mas também ajuda a assentar o utilitário em curvas, pelo menos.

COMERCIALIZAÇÃO Se é atento, reparou que em momento algum dissemos que o ID.4 é “vendido” no Brasil. Tanto ele quanto a VW ID.Buzz chegaram ao mercado exclusivamente por assinatura, afastando a oportunidade de alguém ser realmente o dono de um VW elétrico. No fim há poucas vantagens, ainda mais quando damos conta de que a mensalidade não sai por menos de R$ 9.990. 

Volkswagen ID.4 azul testado pela revista QUATRO RODAS (5)
(Fernando Pires/Quatro Rodas)

O contrato mínimo é de 24 meses, de forma que ao final de dois anos o locatário terá gastado R$ 239.760 e ficará de mãos abanando. Por esse valor, dá para comprar um Volvo EX30 intermediário e ter algo para chamar de seu.

Além disso, a franquia é de 1.000 km/mês, sendo cobrados R$ 1,50 por quilômetro excedente. Caso queira a cota de 2.500 km/mês, por exemplo, o valor mensal sobe para R$ 11.890. Se acrescentar blindagem, serão R$ 15.990/mês. Caso ainda queira alugar um wallbox, a fatura total será de R$ 16.589 a cada 30 dias. Ou R$ 400.000 ao fim da assinatura.

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A conta até pode fechar, mas não é fácil (Reprodução/Volkswagen)

Mesmo o plano básico inclui seguro, mas a coparticipação é de incríveis R$ 20.000 em todos os casos. O prazo de entrega do carro após a assinatura do contrato é de 90 dias. Cerca de 200 carros serão disponibilizados assim.

Documentação e carro reserva estão inclusos, assim como as revisões periódicas. Mas elétricos demandam menos idas à oficina, e se o ID.4 for revisado duas vezes em dois anos já será bastante.

ID4
Pintura amarela não está disponível no Brasil (Fernando Pires/Quatro Rodas)

DEFASAGEM Não bastasse gastar centenas de milhares de reais para devolver o carro ao fim do contrato, o condutor do ID.4 deve se contentar com um veículo desatualizado desde a hora que sair da concessionária.

Isso porque, em outubro, o modelo ganhou novidades na Europa, e não estamos falando de coisa pouca (muito pelo contrário): um motor inédito elevou os números do carro para 286 cv e deu-lhe incríveis 75% a mais de torque, chegando aos 55,6 kgfm. 

Volkswagen ID.4 and ID.5
Nova multimídia do ID.4 na Europa (Divulgação/Volkswagen)

Baterias de nova geração atingiram a proeza de elevar o alcance para 550 km com os mesmos de 77 kWh. Por fim, a multimídia agora tem 12,9”, melhor qualidade de imagem e novo sistema operacional.

Volkswagen ID.5
Painel foi só uma das mudanças (Divulgação/Volkswagen)

O software também foi aplicado ao quadro de instrumentos, que utiliza melhor seu espaço limitado. Os botões do volante tiveram os defeitos apontados no texto corrigidos e os comandos deslizantes do ar-condicionado agora têm operação mais fácil.

Visto de perfil, o ID.4 chega a lembrar peruas
Será que o ID.4 vingará com sua estratégia incomum? (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Se, no fim das contas, o Volkswagen ID.4 parece um bom negócio, é possível ter um por 24 meses acessando o site do VW Sign&Drive.

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