Sem maior complexidade mecânica e com sobra de espaço, os engenheiros podem criar soluções para necessidades que os motoristas não imaginavam ter. A Rivian R1T é a prova disso: tem equipamentos que você nunca vai encontrar em uma Toyota Hilux ou em uma Ram 1500, para comparar a um veículo de mesmo porte. É um carro feito de nerds para nerds.
A Rivian é dessas fabricantes de carros elétricos ainda muito novas, mas de ascensão meteórica. Seu fundador havia acabado de sair da universidade quando criou a empresa aos 26 anos. Não faz muito tempo, pois hoje ele está com 41 anos. Mas é seu o mérito de ter colocado uma picape elétrica à venda no mercado norte-americano antes de GM, Tesla e Ford. E ter o contrato para fornecimento de furgões elétricos para a Amazon.
O que esses furgões e a picape R1T têm em comum é a estrutura baseada em uma espécie de skate. É um chassi plano que concentra motores, baterias, suspensões e sistemas de direção sem deixar de ser compacto, o que libera muito espaço para a carroceria sem prejudicar a capacidade off-road.
O segredo está em confiar nos motores (na unidade avaliada, há quatro, um por roda), no gerenciamento e vetorização do torque, e na amplitude de ajustes da suspensão pneumática.
A versão mostrada aqui é uma Rivian R1T Adventure, que nasceu como intermediária e, hoje, é a única disponível para encomendas. Ela pertence à Zmatch, uma plataforma de locação e compartilhamento de veículos elétricos. É, claro, fruto de uma importação independente. Nos Estados Unidos essa configuração custa aproximadamente 95.000 dólares, mas chega ao Brasil por cerca de R$ 1 milhão.
Faz cinco anos que a R1T foi apresentada, mas a entrega começou há apenas dois. Mesmo com a espera, ela conseguiu ser lançada antes de Ford F-150 Lightning, Chevrolet Silverado EV, GMC Hummer EV e, claro, Tesla Cybertruck, entre as quais a Rivian vem conquistando espaço.
A despeito da demora para o lançamento, o design nunca mudou, mas até hoje continua incomum. A barra de led alinhada ao capô funciona como DRL, mas também indica o nível da bateria durante a recarga. Os faróis são, na verdade, os buracos ovais que recebem blocos de leds e as setas iluminam o aro ao redor.
Há algumas surpresas na frente, como a portinhola giratória do lado esquerdo, que se abre eletricamente ao passar o dedo na moldura da caixa de roda revelando o bocal de carregamento. E a abertura elétrica do capô revela um bom porta-malas dianteiro com 311 litros de capacidade – o que seria grande para um hatch compacto. Com drenos, pode virar um cooler.
Outro compartimento de 311 L aproveita um túnel entre a cabine e a caçamba. Com acesso pelos dois lados, pode levar coisas mais compridas como vara de pescar ou barracas desmontadas. Na porta de um lado está o kit de primeiros socorros, na outra a mangueira do compressor dos pneus, que é embutido na lateral esquerda da caçamba, por dentro, e há um visor digital para selecionar a pressão.
A traseira é atravessada por uma barra de led vermelha, até monótona, sobre o logo da marca por extenso. Placa e refletores ficam no para-choque, que traz uma peça prateada para dar valorizar a aparência.
A tampa da caçamba tem abertura elétrica, claro, assim como a capota rígida, acionada por botões em suas bordas. Quando a tampa se abre, uma plataforma se estende e deixa o assoalho plano. Você não teria problemas em arrastar algo lá para dentro, nem mesmo no escuro: há barras de leds que se iluminam pelos dois lados. Na parede direita, uma portinhola esconde duas tomadas de 120V e 1.500W – dá para ligar um martelete ou qualquer eletrônico ali.
Há muitas funcionalidades, mas a capacidade de carga de 770 kg não é tão grande, embora seja boa para um carro com suspensão a ar. E os norte-americanos dão valor mesmo é à capacidade de rebocar até 5 toneladas.
A cabine revela preocupações ecológicas, pois a forração dos bancos e o material parecido com camurça que reveste colunas e teto são de materais sintéticos. Há muitas peças de madeira esculpida e gravadas a laser no painel, console e volante, mas é madeira de reflorestamento.
O design de cada elemento da cabine evoca o lado robusto e aventureiro da R1T, e até garante um aspecto de carro-conceito reforçado pelo teto de vidro panorâmico.
Atrás o assoalho é todo plano e os ocupantes podem escolher a temperatura e a velocidade do ar-condicionado em uma tela. Sob o assento traseiro,outro porta-objetos (mas isso também existe em outras picapes, como a Ford Maverick).
Para o motorista, tudo é meio Tesla (com comandos muito dependentes de telas). As informações não se concentram em apenas um visor, mas a operação do quadro de instrumentos é feita por poucos botões no console. É mais para mudar as informações exibidas. As principais configurações estão na central de 15,6”. São muitas interfaces e opções e há controles para tudo que é elétrico no carro.
Tudo fica salvo no perfil do usuário, até mesmo os códigos de abertura do portão automático de quantas garagens o proprietário precisar abrir. Mas comandos de ar-condicionado, som e modos de condução sempre tem um botão de acesso rápido disponível.
O fato é que a Rivian R1T sai de fábrica quase pronta para um camping que poderia muito bem se estender por alguns dias. Botando gelo no porta-malas da frente, barracas guardadas no túnel e mantimentos na caçamba, é só procurar um lugar para se isolar. Para completar, uma caixa de som de excelente qualidade e iluminada é acomodada (e recarregada) dentro do console central do carro. Pode se conectar com um celular, mas também pode complementar o som do carro, assinado pela Meridian. Ainda existe uma lanterna dentro da porta do motorista com berço de recarrega ali mesmo.
É importante, porém, considerar a autonomia da bateria da picape. Embora seja enorme, com 135 kWh (existem versões com 180 kWh), há muitas fontes de consumo. Afinal, os quatro motores elétricos que somam 843 cv e 125,5 kgfm, e precisam lidar com os 2.670 kg desta picape. Então a autonomia fica nos 480 km, com sorte. Porque tanta potência estimula acelerações que não combinam com um modo de condução eficiente.
Não testamos, mas a fabricante declara o 0 a 100 km/h em 3 segundos. Mas pudemos acelerar forte e sentir os músculos se alongando. A resposta ao pedal de acelerador não parece ter filtro no modo mais esportivo. Chega a ser assutadora a sincronia entre os quatro motores e o leve ruído que eles emitem.
O peso da bateria e a suspensão pneumática com ajuste em tempo real controlam muito bem a carroceria nas curvas, mas a sensação de estar ao volante de um veículo muito pesado sempre está presente. No off-road, ganha precisão por dispensar diferenciais, blocantes e cardãs, e ainda oferece a visão das 11 câmeras espalhadas ao redor do carro. Ainda tem 12 sensores ultrassônicos e cinco radares para o sistema de condução autônoma.
Dá para se isolar por aí a bordo da Rivian R1T, mas é importante estar atento às coordenadas geográficas do carregador mais próximo. Ou o aventureiro da era elétrica vai depender das botas, do canivete, da mochila, da velha bússola e dos ensinamentos dos escoteiros para voltar para casa.
Veredicto – A Rivian R1T consegue colocar o fato de ser uma picape elétrica muito rápida em segundo plano, pois dá uma aula sobre aproveitamento de espaço e oferta de recursos aos proprietários.
Galeria de Fotos – Rivian R1T
Ficha técnica – Rivian R1T Adventure Quad Motor
- Motores: quatro, Bosch; 421 cv e 57,1 kgfm no par dianteiro e 422 e 68,4 kgfm no par traseiro. 843 cv e 125,5 kgfm no total
- Câmbio: automático 1 marcha, tração integral
- Direção: elétrica
- Suspensão: McPherson (diant.), multilink (tras.)
- Freios: disco ventilado (diant.), disco sólido (tras.)
- Pneus: 275/65 R20
- Dimensões: comprimento, 551,4 cm; largura, 207,8 cm; altura, 198,6 cm; entre-eixos, 345 cm; peso, 2.670 kg; capacidade de carga, 770 kg; altura livre do solo, 24 a 36 cm; bateria, íons de lítio, 135 kWh; autonomia, 480 km (WLTP); potência de recarga max., 350 kW, 43 min. (10 a 80%)
- Desempenho: 0 a 100 km/h, 3 s; velocidade máxima de 185 km/h, dados de fábrica