Quais são os desafios para a fabricação de carros elétricos no Brasil
Em evento promovido pela Anfavea, governantes e representantes da indústria debateram as barreiras para carros elétricos nacionais
O comprometimento entre indústria e Estado é um só: diminuir ou até mesmo zerar a pegada de carbono da indústria automotiva. Contudo, o Brasil ainda não é referência quando o assunto é frota de veículos eletrificados, embora os dados recentes mostram um aumento da preferência do consumidor por híbridos e elétricos. Em maio, o acumulado desse segmento registrou um aumento de 58,73% em relação a 2022.
Então quais seriam os principais problemas que prejudicam o Brasil a se destacar entre os carros elétricos?
Durante o evento “Conduzindo o futuro da eletrificação no Brasil”, promovido pela Anfavea, executivos da indústria e parlamentares se reuniram para debater sobre os rumos da eletrificação da indústria automotiva brasileira. E, também, entender o que impede o Brasil de fabricar carros elétricos.
Um ponto de convergência entre as duas partes é sobre o potencial brasileiro, seja em disponibilidade de energias renováveis e limpas ou mesmo em matéria primas. Um exemplo é que 70% da reserva de lítio mundial encontra-se na América Latina, com grande parte em território nacional. Essa proximidade tornaria mais fácil a fabricação de baterias para veículos elétricos no Brasil em vez de depender de importação.
O problema principal para que a indústria se desenvolva está nos incentivos. Atualmente, os carros elétricos têm isenção da taxa de importação. Para Claudio Sahad, presidente do SINDIPEÇAS (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores), a medida vai na contramão de incentivar o processo de neoindustrialização, termo que faz referência ao processo de reindustrialização sustentável. “Cria-se uma comodidade”, comentou o presidente do SINDIPEÇAS.
Do lado das montadoras e fabricantes de componentes, há outros empecilhos para se reestruturarem por aqui, como a alta tributação.
Buscando uma solução, o governo federal já anunciou o novo arcabouço fiscal, um novo conjunto de regras que direciona a forma que o governo administra as políticas públicas e substitui o antigo teto de gastos.
Outra medida bem-aceita pelos representantes da indústria é a reforma tributária. Resumidamente, essa reforma visa substituir o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) pelo IVA (Imposto de Valor Agregado), um modelo adotado por outros países como o Canadá que busca simplificar e desburocratizar as tribulações.
Se aprovada, a reforma tributária pode servir como incentivo para as montadoras começarem a fabricar mais carros elétricos e híbridos no Brasil gerando, desse modo, um efeito cascata: as fabricantes de componentes e peças “Tier 1” — com maior força e presença internacional — também se atualizarem, principalmente, trazendo maquinário de fora.
Além disso, empresas menores do ramo de componentes, classificadas como Tier 2 e 3 também se beneficiaram, já que essas dependem unicamente da demanda externa — ou seja, das montadoras e empresas Tier 1 — para conseguir investir na sua reindustrialização, como explicou Sahad.
Pelo lado do governo, o deputado Vitor Lippi (PSDB) apontou outras responsabilidades do Estado para auxiliar na transição. Para ele, cabe ao governo ajudar criando políticas públicas, que vão desde a formação de mão de obra qualificada para o processo de neoindustrialização, até o incentivo à exportação de bens agregados, entre eles, veículos eletrificados.
Um problema, e que talvez seja o único que depende da resolução dos demais, diz respeito à infraestrutura para recarga de veículos elétricos no Brasil. Como na história do ovo e da galinha, ainda existe um dilema: é necessário investir na frota para se criar uma rede ou é necessário criar uma rede para depois ter uma frota de carros elétricos?
A resposta não parece ser simples de ser respondida. A promessa é que o Brasil vá dos quase 3.000 eletropostos, para 80.000 até 2030. Enquanto isso, empresas e Estado tentam criar um caminho único com o objetivo de remodelar a indústria automotiva nacional, para só assim resolver o problema dos altos preços cobrados pelos carros elétricos, que afasta os consumidores dessa nova tecnologia.
Mais uma vez, como solução, o meio empresarial aponta as políticas públicas como solução. Nesse caso, elas entrariam como forma de subsídios para baratear o preço final de carros eletrificados, ajudando a massificar esse segmento. Quem sabe não seja esse o caminho para que consumidores de classes mais baixas possam ter acesso a carros mais limpos.