Montadoras vão processar GWM e BYD por preços praticados no Brasil
A Anfavea, representando 25 marcas tradicionais, vai entrar com processo antidumping contra empresas chinesas, como BYD e GWM, no MDIC

Durante uma apresentação preliminar sobre as vendas de 2024, ainda em dezembro, a Anfavea apresentou com preocupação a informação de que as importações superaram as exportações pela primeira vez desde 2015. Ao fim do ano, foram vendidos 467.000 unidades de carros importados contra 398.000 exportados. E esse resultado está diretamente associado à chegada de novas marcas chinesas no Brasil, como BYD e GWM. As importações da China cresceram 317% em 2024, totalizando 175.000 unidades.
Esse crescimento exponencial provocou as marcas com fábricas no Brasil, que entraram com pedido de averiguação de prática de dumping contra empresas chinesas que estão comercializando veículos importados no País. E as principais investigadas serão BYD e GWM. Ambas venderam, respectivamente, 76.800 e 29.200 carros eletrificados em 2024 – representando 60% de todos os eletrificados importados.
O dumping se caracteriza quando produtos são vendidos a preços inferiores ao custo de produção, prática que pode prejudicar a competitividade e o equilíbrio do mercado local.
O processo será encaminhado para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) via Anfavea, representando 25 montadoras do setor automotivo.
A denúncia deve seguir os mesmos critérios usados pela União Europeia, em setembro de 2023, contra fabricantes chineses que estariam praticando dumping. Em outubro de 2024 a Europa aumentou a tarifa de importação de veículos elétricos em até 38,1%.
Questionada por QUATRO RODAS, a Anfavea enviou um posicionamento oficial em nome do presidente Márcio de Lima Leite: “Há estudos de mercado em andamento. A Anfavea defende a livre concorrência e a prevenção de práticas que prejudiquem o mercado automotivo brasileiro, zelando pelos clientes, empregados, concessionários, fabricantes e indústria de autopeças.”
Em resposta a nossa reportagem a GWM informa que vê a ação com tranquilidade, pois segue estritamente as regras internacionais e a legislação brasileira para comércio exterior. E acrescenta ainda: “além disso, a empresa está aumentando o ritmo de contratações no Brasil visando o início de produção dos seus primeiros carros eletrificados na fábrica de Iracemápolis, no interior de São Paulo, prevista para o primeiro semestre deste ano.”

Já a BYD respondeu que “reafirma seu compromisso com a ética e a transparência em suas práticas comerciais. Negamos categoricamente qualquer prática de dumping na venda de nossos veículos no Brasil.” E afirmou ainda que o “foco está em oferecer produtos de qualidade e sustentáveis, alinhados às normas de mercado e legislações vigentes. Estamos construindo em Camaçari, na Bahia, o maior complexo industrial da companhia fora da China. A BYD é agora uma empresa brasileira, voltada a trazer inovação e produtos de alta qualidade para os consumidores. Estamos comprometidos com o desenvolvimento da indústria automotiva brasileira que, por décadas, foi deixado em segundo plano pelas montadoras tradicionais que tentam de todas as formas utilizar artimanhas para esconder a falta de competitividade.”

O presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), Ricardo Bastos, em resposta a reportagem do Estadão, afirmou que o direito a averiguar eventual dumping está previsto na Organização Mundial do Comércio (OMC). E destaca que não identifica qualquer “distorção nas relações entre Brasil e China, que são grandes parceiros comerciais, mas, caso o pedido envolva os veículos eletrificados, vamos contribuir com o processo.”
A Anfavea já solicitou ao governo federal uma antecipação da alíquota cheia do imposto de importação para modelos eletrificados importados que é de 35% e que só será cobrado pelo cronograma atual em julho de 2026. Atualmente a alíquota para elétricos está em 18% e em julho de 2025 subirá para 25%.