O proprietário de carro elétrico ou híbrido que pode recarregar seu veículo em casa tem uma experiência muito melhor: não precisa procurar um carregador público disponível nem arrumar algo para fazer enquanto seu carro repõe as energias. Mas a instalação precisa seguir um rigor técnico para não comprometer o carro, sua garantia e a fiação do local, o que pode exigir paciência e investimento – especialmente para quem mora em prédios e condomínios.
É comum que carros elétricos e híbridos novos sejam entregues ao comprador com o carregador wallbox ou que este seja dado como bônus. E isso é bom, afinal equipamentos de marcas com boa reputação podem custar entre R$ 3.500 e R$ 8.000.
Mas vale explicar: walboxes são aqueles carregadores que ficam fixos na parede e costumam ter potência entre 7 e 22 kW. Os mais comuns entregam até 7,6 kW, que é uma potência que atende bem quem não precisa ficar esperando a recarga e é bem aceita por instalações elétricas domésticas.
De acordo com Evandro Mendes, conselheiro na Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) e CEO da Eletricus, empresa especializada em soluções de recarga para carros elétricos, no caso de uma casa, um eletrotécnico ou um engenheiro eletricista deverá avaliar a entrada de energia da casa.
Essa visita não costuma ser cobrada e o especialista vai avaliar a carga disponível e o que é necessário para fazer a instalação de acordo com a ABNT 1719. “Essa norma pede as proteções adequadas e considera a distância para dimensionamento do circuito”, explica.
Dependendo da instalação do local, pode ser necessário utilizar um protetor de surtos (DPS) e um dispositivo diferencial residual (DR). Tudo isso é obrigatório em instalações novas, mas podem não existir em casas mais antigas – ou que simplesmente não seguem as regras. A potência e a distância podem obrigar a utilizar um cabo de maior bitola, também.
Para condomínios a complexidade é maior. “Os condomínios precisam ter um projeto com um estudo para a implementação de carregadores para carros elétricos, o que ainda é muito raro”, explica Mendes.
Um projeto como esse é feito quando um prédio ou condomínio é construído, até mesmo pela própria companhia elétrica. Mas o aumento de demanda com o passar do tempo mexe com toda a infraestrutura, até mesmo com os transformadores na rua. O estudo vai dizer a carga disponível, as proteções que a rede já tem e até os horários com maior e menor demanda.
Aí vem a parte cara: a análise de carga e o projeto elétrico custam entre R$ 15.000 e R$ 20.000 e, a priori, é um custo que o condomínio deve arcar ou repartir entre as unidades, por ser benfeitoria. É algo válido até para quem quer instalar ar-condicionado em sua unidade. Mas é um gasto que precisa ser aprovado em assembleia. No condomínio da editora, não rolou.
Um banho de horas
Isso é de extrema importância, porque a potência de um wallbox equivale aos chuveiros elétricos 220 V mais potentes. Mas se um banho dura cerca de 10 minutos, um carro elétrico com bateria de 50 kWh precisará de aproximadamente 6 horas para recarregar de 20 a 100%. É como se fosse um banho de 6 horas e o disjuntor não pode desarmar, nem derreter a fiação.
“O ideal é que a solução de recarga seja pensada de forma coletiva. Porque não adianta nada instalar diversos carregadores se a entrada de carga do prédio não estiver preparada para essa demanda de energia”, explica Mendes.
A instalação em vagas compartilhadas seria um caminho, mas poucos prédios têm vagas sobrando. Contudo, é preciso considerar que carros híbridos plug-in, que têm autonomia elétrica menor, recarregam com mais frequência que carros elétricos, que não precisam recarregar todos os dias. A frota do condomínio pode influenciar no número de carregadores disponíveis.
Quanto custa para instalar um carregador doméstico?
Evandro conta que o mais comum ainda é que proprietários instalem o wallbox na própria vaga. Para isso, existe também o custo da instalação, que contempla eletrodutos, conduletes, cabos, kit de proteção (DR e DPS) e mão de obra. O custo costuma ficar entre R$ 100 e R$ 120 por metro de distância do quadro de luz até a vaga onde o carregador será instalado. Esse custo também vale para residências.
O problema é esse expediente se multiplicar pela garagem. Por isso, um outro caminho é que o condomínio defina um tipo de wallbox com sistema que permita que conversem entre si, gerenciando a potência do carregamento de acordo com a demanda. Mas estes são os modelos mais caros e o carregador dado pela fabricante não seria utilizado: pode ser vendido ou instalado em outro lugar.
Ao menos por enquanto, a instalação do carregador não exige licença de prefeitura, bombeiro ou de solicitações à companhia de energia elétrica. A exceção é se for necessária mais carga para o prédio para atender a demanda dos carregadores.
No estado de São Paulo, porém, uma questão que pode dificultar ainda mais a instalação de carregadores. O Corpo de Bombeiros abriu consulta pública, por 30 dias, para a criação de regras para a instalação de carregadores que obrigariam a instalação conforme as normas ABNT e diversas estruturas de combate a incêndio.
Pelo projeto, ou há um distanciamento de 5 metros para outros carros, ou colocam uma parede corta-fogo entre elas. Além disso, cada vaga precisará de dois aspersores de água e o disjuntor do carregador deverá ficar a uma distância entre 30 e 40 m, e o local deverá ter vigilância permanente.
A ABVE ainda não estimou o custo de tudo isso, mas já trata como algo completamente inviável, se for aprovado. E todo carregador instalado em São Paulo deverá ser adequado, ou desativado em um ano, caso o projeto vire lei. Detalhe: não há precedentes no mundo e não há registro de incêndio de carro elétrico no Brasil.