Impressões: Jeep Compass 4xe é o mais ágil da linha e tem consumo de moto
SUV híbrido plug-in pode rodar até 44 km sem gastar gasolina, mas custa R$ 349.990
A Jeep conseguiu transformar o Compass em um carro interessante com o lançamento da atual geração, em 2016. Os números de vendas invejáveis registrados desde então provam isso. No ano passado, ainda conseguiu transformar radicalmente seu desempenho com a adoção do motor 1.3 GSE Turboflex.
Assine a Quatro Rodas a partir de R$ 9,90
Agora o SUV médio dá seu primeiro passo rumo à eletrificação. O Jeep Compass 4xe (lê-se “four by e”) é híbrido plug-in, tem tração 4×4 e promete consumo até 146% melhor. Difícil é encarar o preço pedido: R$ 349.990 em versão única, a Série S. É o preço de dois Compass Longitude 1.3 turboflex (R$ 171.327) e ainda sobra um troco.
Só há um outro SUV híbrido plug-in no Brasil, o Mini Countryman S E, que até custa menos: R$ 275.000. Mesmo assim, a Jeep espera vender 1.000 unidades do Compass 4XE no Brasil em 2022.
A grande diferença dos híbridos plug-in está em ter baterias de maior capacidade, que podem ser recarregadas em tomadas, enquanto híbridos convencionais dependem unicamente do motor a combustão e do poder de regeneração para repor a carga da bateria – caso do Toyota Corolla Cross Hybrid.
Além disso, os plug-in têm motores elétricos mais fortes e capazes de mover o veículo sozinhos por muito mais tempo, e justamente por isso são um meio termo entre os híbridos e elétricos. No caso do Jeep Compass 4xe a bateria tem 11,4 kWh de capacidade e permite percorrer até 44 km em modo elétrico.
É claro que isso tem um custo, especialmente devido à bateria maior. Pesa também o fato de o Jeep Compass 4xe não ser fabricado em Goiana (PE) como todas as outras versões, mas ser importado da Itália – onde também é caro.
Um Compass com três motores
O Jeep Compass 4XE é um carro de extremos. Ao mesmo tempo que é o Compass mais caro (supera até os 295.000 do Commander Overland diesel) – é, também, o mais potente e econômico.
Na dianteira, está um conjunto mecânico típico de um híbrido leve. Isso porque o conhecido motor 1.3 GSE Turbo (aqui, em versão a gasolina com 180 cv e 27,5 kgfm) está ligado a um motor-gerador que pode lhe ajudar em acelerações e também regenera energia nas frenagens. Também é diferente pelo fato do compressor do ar-condicionado e a bomba de óleo do câmbio serem elétricos e independentes do motor a combustão.
O principal motor elétrico está na traseira. Trata-se de um motor síncrono de 60 cv e 25,5 kgfm, que é o grande responsável por mover o Compass em modo elétrico e por garantir a tração 4×4. Ao todo, são 240 cv, mas a Jeep não divulga o torque combinado. Outros fabricantes fazem a soma simples do torque, o que no caso do Compass 4xe representaria 53 kgfm – ou mais torque que muita picape com motor turbodiesel.
Jeep mais rápido do Brasil
Uma particularidade é que o Jeep Compass 4xe ainda usa o câmbio automático de seis marchas da Aisin, e não o de 9 marchas ZF do Renegade 1.3T 4×4. Mas também pode simular uma reduzida forçando suas marchas mais baixas e tem diversos modos de tração, até mesmo um inédito modo “Sport”. Com ele, os motores despejam toda a força para cravar tempo de 0 a 100 km/h de 6,8 s.
Em outras palavras, o Compass de 240 cv empata com o Wrangler 2.0 de 272 cv no tempo aceleração. Mas sua velocidade máxima é maior: 206 km/h contra 199 km/h do jipão.
O que muda no Compass importado?
Vendo de fora, não é fácil identificar o Compass híbrido. Os logotipos têm fundo azul, há uma segunda portinhola do lado esquerdo para a tomada de recarga, as rodas aro 19 têm acabamento em cor diferente das usadas nos Compass S 1.3 turboflex nacionais e os faróis têm desenho interno distinto, porque existe uma diferença entre as peças dos carros europeus e as dos nacionais.
Na cabine, o acabamento é rigorosamente igual, com pequenas diferenças como a falta de grafismos identificando as portas USB no console. A central multimídia de 10,1 polegadas ainda tem funções exclusivas para comandar as funções do sistema híbrido e até mesmo para, por exemplo, controlar a recarga remotamente por meio do smartphone ou pela Alexa – que também está embarcada no veículo.
O sistema de som é diferente. Enquanto as demais versões podem receber um som Beats com 9 alto-falantes e sub-woofer com 506 W, o Compass 4xe chega com um som Alpine com 8 falantes, subwoofer e os mesmos 506 W. O 4xe também é o único Compass com sistema de câmeras 360°.
Mas há grandes diferenças até mesmo estruturais. O subchassi traseiro é completamente diferente para acomodar o motor elétrico e seu diferencial entre o sistema de suspensão McPherson. O assoalho do porta-malas ainda precisou ser deslocado para cima, reduzindo a capacidade do porta-malas de 476 para 420 litros. O estepe é funcional, com pneu de uso misto mas em medida um pouco mais estreita.
Por sinal, a bateria de 400V pesa cerca de 150 kg e fica acomodada na região sob o assento traseiro e o túnel central. No total, o Compass S 4xe é cerca de 400 kg mais pesado que o Compass S 1.3 Turboflex fabricado no Brasil. São 1.908 kg, exatamente o peso de um Commander Overland 2.0 Turbodiesel.
Como é dirigir o Jeep Compass 4xe?
Depende do modo de condução. Em modo híbrido, há uma gestão ativa de qual ou quais motores serão usados para cada condição de aceleração. Em geral, em acelerações leves é o motor elétrico traseiro quem impulsiona o Compass 4xe. Quando há mais exigência, o motor 1.3 turbo também entra em ação.
Uma coisa interessante dessa relação é que o motor elétrico consegue disfarçar, com sua entrega de força quase imediata, a demora nas respostas do 1.3 turbo nas acelerações. Também é mais curioso sentir o câmbio trocando as marchas sem que haja um “buraco” na força do carro, devido ao contínuo impulso do motor elétrico.
Mesmo configurando a tração para o modo Sport (há, também, modos para lama e areia, neve e automático) para ter os 240 cv disponíveis tão logo seja possível, as acelerações não se tornam tão agressivas. Fica, sim, mais disposto, mas não chega a pressionar seu corpo contra o banco como fazia o antigo Volvo XC40 T5 (que deixou de ser importado em 2021), por exemplo.
Os números de consumo homologados no Brasil são justamente do modo híbrido. O Jeep Compass 4xe registrou 25,4 km/l no regime urbano e 24,2 km/l no rodoviário. Para efeito de comparação, o Compass S 1.3 turboflex foi homologado com 10,3 km/l do regime urbano e 11,9 km/l no rodoviário, quando com gasolina. A melhora no consumo chega a 146%!
Entenda porque o Jeep Compass 4xe não faz 50 km/l no Brasil, como na Europa
Mesmo que o tanque de combustível tenha sido reduzido de 60 para 36,5 l, a autonomia projetada de 927 km ainda é maior que os 714 km de um Compass convencional.
É bem verdade que a bateria pode ser recarregada em tomada. Para isso, leva 1h40 em carregadores do tipo wallbox (a potência máxima de recarga é 7,4 kW) e aproximadamente 4 horas em tomadas de 220V domésticas. Mas também há o modo E-Save, focado ou em manter ou em repor a carga da bateria – a seleção é feita na central multimídia.
Neste modo, o motor elétrico traseiro só entra em ação se o veículo perceber a necessidade de tração nas rodas traseira. Fora isso, ele se comporta como um híbrido leve, com o motor 1.3 turbo movimentando o carro com ajuda do motor-gerador, que também atua para aproveitar sua força e a energia das frenagens para recarregar a bateria. É possível levar a carga até os 80% neste modo.
Esse, por sinal, é o modo menos eficiente para usar o Compass 4xe. Isso porque, além de forçar o uso do motor a gasolina para recarregar a bateria, ele precisa lidar praticamente sozinho com os 400 kg extras do sistema híbrido. Ou seja, passa a ser tão “rápido” quanto um Commander 1.3 Turbo carregado.
Por fim, há o modo elétrico. Ele força o uso do motor elétrico traseiro que, embora tenha 60 cv, entrega 25,5 kgfm – o mesmo torque dos 1.4 TSI da Volkswagen. Não tem o desempenho mais vigoroso, mas não chega a se arrastar e é suficiente para o trânsito das grandes cidades. Esse motor consegue lidar sozinho com o carro até os 130 km/h.
O motor a gasolina só entrará em ação se o motorista levar o acelerador até o fundo, insinuar que pretende passar dos 130 km/h, chegar a pressionar o botão do kickdown no final do curso do acelerador ou se a capacidade da bateria estiver abaixo dos 19%.
Em cada modo de funcionamento o Jeep Compass 4xe se comporta como um carro diferente. Inclusive, a direção elétrica fica ainda mais leve quando o modo elétrico de operação está ativo.
Outra particularidade é que, a despeito do peso extra, o Compass híbrido plug-in tem rodar mais assentado, tanto por conta do centro de gravidade mais baixo proporcionado pelo sistema elétrico, quanto pelo seu próprio acerto de suspensão, que filtrou melhor as imperfeições das estradas de terra batida que predominaram durante o teste.
Será que o Compass híbrido vai vingar?
A Jeep, obviamente, espera que sim. Mas sabe que a missão do Compass híbrido plug-in é apresentar essa tecnologia aos clientes da marca. Tanto que o novo Grand Cherokee 4xe será lançado no Brasil ainda em 2022.
A fabricante também sabe que o preço e o fato de ser importado podem ser barreira para que o Compass 4xe tenha vendas significativas – especialmente em se tratando de um SUV que não raro passa das 5.000 unidades vendidas em um mês. Tanto que neste primeiro momento o Compass mais caro, potente e econômico de todos estará à venda em apenas 40 concessionárias no Brasil.
Os primeiros 40 compradores, inclusive, receberão gratuitamente um carregador wallbox – que será vendido como acessório por quase R$ 10.000.
Mas é um caminho sem volta. A tendência é que em poucos anos o Jeep Compass nacional receba um sistema híbrido flex semelhante ao do Compass E-Hybrid europeu, mais simples, mais barato e mais eficiente que as versões convencionais.
Ficha Técnica – Jeep Compass 4xe
Motores: gasolina, diant., transv., 4 cil., 16V, turbo, 1.332 cm³, 180 cv a 5.750 rpm, 27,5 kgfm a 1.750 rpm; elétrico, 60 cv, 25,5 kgfm, 48 V; Motor gerador auxiliar acoplado responsável por gerar energia aos sistemas elétricos. Total de 240 cv
Câmbio: automático, 6 marchas, tração dianteira e traseira, 4×4
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson (diant. e tras.)
Freios: disco ventilado (diant.), disco sólido (tras.)
Pneus: 235/45R19
Dimensões: compr., 440 cm; larg., 181,9 cm; alt., 164,5 cm; entre-eixos, 263,6 cm; porta-malas, 420 l; peso, 1.908 kg
Recarga: Conector, Type 2; Bateria, 11,4 kWh
Tempo de 0 a 100% (Wallbox, 7,4 kW): até 100 minutos
Tempo de 0 a 100% (Tomada 220V): até 5 horas