Dirigimos o Lotus Emeya S, sedã elétrico que vai contra todas as tradições
A Lotus, adquirida pela chinesa Geely, quer retomar seu prestígio entre os esportivos, na era da eletrificação. E o Emeya tem a missão de ajudar nesse plano

A Lotus tem grandes planos… mais uma vez. Depois de várias tentativas para se tornar uma marca de luxo moderna e esportiva (além de rentável), a proprietária chinesa Geely (que a comprou há sete anos) está se esforçando cada vez mais para que isso seja realidade. Depois do potente SUV Eletre – com quem compartilha a plataforma EPA e o interior –, chega agora o Emeya, autodeclarado concorrente do Porsche Taycan, diretamente de Wuhan, na China, para o mundo.

O Emeya é um cupê de quatro portas e 5,14 metros de comprimento, com formas definidas pelo trabalho conjunto de engenheiros de aerodinâmica e designers. As linhas são esportivas e marcantes, mas sem serem excessivamente chamativas, até porque o objetivo é não assustar nenhum potencial cliente de automóveis esportivos de elite.
Por isso, o estilo exterior não é muito exuberante, nem mesmo no caso do spoiler traseiro, que aumenta a carga aerodinâmica em até 215 kg em altas velocidades, segundo a fábrica. O difusor traseiro serve também para suavizar o fluxo de ar sob a carroceria.

Quem procura um esportivo com performance fora de série pode se sentir seduzido pelo mais recente Lotus, em qualquer uma das suas três versões – Emeya, Emeya S e Emeya R –, com rendimentos de propulsão elétrica que chegam aos 918 cv na versão R. Isso apesar de a famosa máxima de Colin Chapman (“simplifica, depois acrescenta leveza”) ser apunhalada (várias vezes) pelo fato de essa filosofia ser incompatível com a era de mobilidade elétrica (e das suas pesadíssimas baterias) em que grande parte do mundo vai entrando, com mais ou menos relutância.

Partindo do princípio de que no meio-termo reside a virtude, decidimos pela versão intermediária Emeya S – que custa 140.000 euros, na Europa, cerca de R$ 881.000 –, para estes primeiros quilômetros. As 2,5 toneladas de peso são transportadas por uns não menos eloquentes 612 cv e 72,4 kgfm, produzidos por dois motores elétricos. Com o conjunto, o esportivo vai de 0 a 100 km/h em 4,2 segundos e alcança 250 km/h de máxima. Já a versão R (918 cv/100 kgfm) vai a 100 km/h em menos de 3 segundos.

O peso total é algo que se nota quando passamos da leitura da ficha técnica para o volante, especialmente ao traçar estradas mais sinuosas com constantes transferências de massas frente-traseira e laterais.
E só não afeta o comportamento de forma irreversível porque o baixo centro de gravidade – cortesia das baterias de peso paquidérmico – ajuda a compor o quadro, além da distância do solo ser de só 146 mm.

Mais estável que confortável
Por outro lado, as bitolas largas e as impressionantes rodas de 22 polegadas – com pneus 265/40 na frente e 305/35 atrás – asseguram que o Emeya não sofra de sintomas precoces de falta de aderência, o que é sempre crítico em automóveis elétricos de alto torque entregue instantaneamente.
A suspensão pneumática de duas câmaras (e independente nas quatro rodas) e o amortecimento variável unem esforços para proporcionar o conforto necessário. Podemos dizer que consegue filtrar razoavelmente as irregularidades, mesmo com uma afinação “pró-seca”. E, claro, varia o nível de amortecimento de acordo com o modo de condução selecionado: Range, Tour e Sport.

Existem três níveis de intensidade de desaceleração regenerativa, que podem ser selecionadas por meio de borboletas atrás do volante. Não há, no entanto, função de condução com um único pedal (ou seja, o Emeya não chega a parar completamente quando soltamos o pedal do acelerador).
Opcionalmente, há ainda o pacote de comportamento dinâmico com estabilização eletrônica de rolamento da carroceria e eixo traseiro direcional. A eficácia em curva é ainda ajudada pela vetorização de torque (pelos freios), não existindo diferencial autoblocante eletrônico.

O sistema de frenagem foi reforçado com discos cerâmicos, na unidade guiada, útil para uma pilotagem mais agressiva, mas ainda assim de tato mais filtrado do que gostaríamos, como acontece em muitos carros elétricos.


A direção chega a ser demasiadamente direta em altas velocidades, introduzindo uma nota (dispensável) de nervosismo ao comportamento de um carro tão rápido e pesado como o Emeya. Certo, a marca quis “recriar” a proverbial precisão dos Lotus do passado e injetá-la na era elétrica, mas um esportivo não precisa de direção tão direta, especialmente no ponto central do volante.

Por dentro, além da qualidade percebida de materiais e construção, a oferta de espaço do Emeya S inscreve-se na coluna dos pontos favoráveis, em boa parte graças ao grande entre-eixos (3,07 m). Há boas acomodações para cinco ocupantes, tal como no Mercedes EQE ou no Lucid Air, e o esportivo é bem mais espaçoso do que o Porsche Taycan ou o Audi S e-tron GT. Existe a possibilidade de escolher uma configuração de dois lugares individuais no banco traseiro.
A instrumentação é simples e pequena, não indo além de uma estreita tela digital. Há ainda uma central multimídia de 15,1 polegadas e head-up display com área de projeção simulada de 51 polegadas. O passageiro da frente também tem sua própria tela, de 12,6 polegadas, onde pode visualizar informações de entretenimento.
No entanto, mais divertido talvez seja baixar os vidros e desfrutar do baixo nível de ruído em altas velocidades. Algo novo, mas que será uma constante em qualquer Lotus num futuro não tão distante.
Há dois porta-malas (um na dianteira e um na traseira). O posterior acomoda 509 litros (ante 405 l no Porsche e no Audi) e o dianteiro abriga apenas 31 l (ante 85 l nos dois rivais alemães). Ainda como comparação, o Mercedes EQE AMG conta apenas com o traseiro, de 430 litros.
500 km de autonomia
O lado mais favorável de dispor de uma bateria de 102 kWh (96 kWh utilizáveis e com uma garantia de 200.000 km ou oito anos) é permitir maior autonomia, neste caso a rondar os 500 quilômetros, se o motorista dosar o pé no acelerador. O quadro é ainda mais animador diante da rapidez de recarga. Devido ao sistema elétrico de 800 volts (como nos pretensos concorrentes da Porsche e Audi), a carga da bateria de 10 a 80% é feita em apenas 18 minutos (graças à potência de 350 kW).

A marca Lotus não tem a mesma força e carisma de outros tempos. Mas o Emeya é um bom produto e custa menos que um Porsche Taycan ou Audi RS e-tron GT.
Veredicto Quatro Rodas
A Lotus fez um bom GT de luxo. Mas ainda falta recuperar o prestígio de marca que um dia já teve.
Ficha Técnica – Lotus Emeya S
Preço: 140.000 euros (R$ 881.000)
Motor: elétricos (2), síncronos de ímãs permanentes, 612 cv e 72,4 kgfm
Baterias: íons de lítio (NMC), 102 kWh (800 volts)
Câmbio: autom., 1 marcha, 4×4
Direção: elétrica
Suspensão: multibraços nos dois eixos
Freios: disco ventilado nas quatro rodas
Pneus: 265/40 R22 (diant.), 305/35 R22 (tras.)
Dimensões: compr., 513,9 cm; larg., 212,3 cm; alt., 145,9 cm; entre-eixos, 306,9 cm; peso, 2.490 kg; porta-malas, 509 l + 31 l
Desempenho*: 0 a 100 km/h, 4,2 s; veloc. máx., 250 km/h
*Dados de fábrica