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A entrada efetiva das marcas chinesas em nosso mercado acendeu luzes amarelas piscantes nas sedes das fábricas instaladas no Brasil. E há novas marcas a caminho como a Zeekr, que está instalando um escritório local com o objetivo de lançar dois carros elétricos no Brasil no segundo semestre de 2024.
Mas esse fenômeno não ocorre só por aqui. Na Europa, à medida que as chinesas se multiplicam e mostram seus trunfos, soam cada vez mais alarmes nos headquarters dos fabricantes. A Zeekr é a última novidade por lá e começa a vender agora o crossover esportivo 001 que está entre os carros confirmados para o Brasil.
É inegável que o 001 tem alguns genes estilísticos do Porsche Taycan Cross Turismo, mas na indústria acontece frequentemente de o carro da marca A remeter ao da marca B. E, como foi usado know-how e talento provado e comprovado no projeto do Zeekr (seu diretor de design, Stefan Sielaff, tem passagens pelos departamentos de estilo de marcas como Audi e Bentley), o bom resultado final não é propriamente inesperado.
As marcas chinesas têm mundos e fundos para contratar talentos, comprar os melhores componentes e trabalhar com fornecedores de classe internacional. A Zeekr, antes que você pergunte, pertence ao Grupo Geely, dono das marcas Volvo, Lotus, Polestar e Lynk & Co., além da própria Geely e de participações acionárias em Mercedes-Benz e Aston Martin.
Shooting brake
A estreia do 001, na Europa, não será continental. Os primeiros países a receber o carro serão Suécia e Holanda. Depois a novidade desembarca em mercados como os de Alemanha e França, devendo chegar a Portugal e Espanha em 2026.
Sua carroceria causa grande impacto, com ares de shooting brake (metade cupê, metade perua), com 4,95 metros de comprimento e uma distância entre-eixos de 3 metros, o que se reflete num muito generoso espaço para pernas na segunda fila de bancos (onde os ocupantes não são incomodados pelo quase inexistente túnel central no piso), mas também altura suficiente para passageiros de 1,85 metro. Logo atrás, o porta-malas leva 539 litros.
Os materiais sintéticos usados no acabamento da cabine (somente o volante é revestido de couro) são de boa qualidade. Há imitação de couro no painel e nas laterais dos bancos dianteiros, que possuem a área central com um tipo de veludo.
Os botões e as superfícies que são de plástico se passam com competência por peças metálicas. Mas não há muitos comandos físicos, além de rádio e seletor da transmissão. A central multimídia horizontal com tela de 15,4” é a principal interface para quase tudo, incluindo os espelhos retrovisores e a posição da coluna de direção.
A plataforma eletrônica do 001 (SEA: Sustainable Experience Architecture) é suplementada com tecnologia da Mobileye e chips da Qualcomm (os muito evoluídos 8155 Snapdragon), o que significa que em poder computacional/tecnologia de assistência ao motorista esse modelo está na linha de frente.
Com gráficos evoluídos, processamento rápido e funções realmente muito avançadas, o sistema requer um curso intensivo de pelo menos uma hora para que um usuário novato possa dominar as principais funções. Depois, há ainda o painel de instrumentos de 8,8” (com a quase totalidade dos dados fixos) e o head-up display, que projeta uma tela de de 14,7” no para-brisa.
Suspensão pneumática
O assistente de comandos vocais consegue compreender instruções dadas em voz normal e linguagem corrente, o que evita que tenhamos que procurar vocábulos demasiado específicos. E é capaz de executar tarefas como movimentar os vidros, ajustar a temperature do ar-condicionado etc.
Na tela central pode ser feita a regulação da altura da suspensão em cinco posições e também dos modos de dirigir Comfort/Eco/Sport/Customization, além de Snow (Neve), Sand (Areia) e Off-Road. Na Customização podemos afinar vários parâmetros individualmente, desde propulsão, suspensão, frenagem (tato do pedal, normal e sport) e direção.
É também na tela que se escolhe o nível de regeneração, Médio/Elevado e One Pedal (este último leva o Zeekr a imobilizar-se por completo sem que seja preciso pisar o pedal da esquerda, mas não está disponível em modo de dirigir Sport).
O pedal do freio tem o mérito de reagir desde o início do seu curso, mas leva um tempo para o motorista confiar em suas respostas. A direção reage de forma suficientemente direta e comunicativa, mas não há diferença perceptível entre os modos Sport e Comfort. Pelo contrário, já na aceleração o modo Sport é muito mais enérgico do que o Comfort ou Eco.
A suspensão (independente e que conta com molas pneumáticas e amortecedores eletrônicos) tem uma calibragem bem resolvida, que consegue equilibrar estabilidade e conforto, sem movimentos transversais sensíveis nem reações secas no amortecimento (os pneus 265/40 são iguais nas quatro rodas de 22”). Por outro lado, mesmo em acelerações mais vigorosas em curva ou rotatórias, as perdas de tração são bem controladas, apesar da entrega instantânea de doses massivas de torque.
E aqui surge o aspecto menos agradável das impressões ao dirigir, mas que felizmente pode ser desligado. Refiro-me ao som digitalizado do motor, para simular o trabalhar de um motor a combustão… ou de uma nave espacial.
No primeiro caso chega a ser um som risível, parecido com o de um jogo eletrônico para crianças sem a mínima noção do que é um motor a gasolina de um carro esportivo. A sonoridade de ficção científica não melhora a impressão e felizmente podemos esquecer que estas bandas sonoras existem…
200 km/h de máxima
Os automóveis elétricos já nos habituaram a acelerações de cortar a respiração e, mesmo com 2,35 toneladas de peso, o 001 não é diferente nesse aspecto: os 544 cv e 70 kgfm de rendimento máximo permitem um sprint até os 100 km/h em escassos 3,8 segundos (quase duas vezes mais rápido que a versão de tração traseira, de 272 cv/35 kgfm), sendo a velocidade máxima sempre 200 km/h.
Há, portanto, duas versões do 001, uma de duas e a outra de quatro rodas motrizes (significa dizer, uma com motor traseiro e uma com motor elétrico em cada eixo), que foi a aqui dirigida. A bateria é a mesma, de 100 kWh (de íons de lítio, com células NMC, fornecidas pela CATL), que a marca chinesa diz ser suficiente para 580 km com uma única carga completa (a versão de tração traseira chega 40 km mais longe). Isto a partir de um consumo médio homologado de 18,5 kWh/100 km.
No trajeto do teste – de 94 quilômetros, feitos em 2h08min, o que significa que grande parte dele foi feita em estradas nacionais e urbanas, favoráveis a baixo consumo de energia e muita regeneração – o consumo médio declarado foi de 22,6 kWh/100 km, consideravelmente superior aos anunciados 18,5 e que não permitiram ir além de 450 km, já com algum otimismo à mistura.
Preço bastante convidativo
Mais positiva, a informação de que o carregamento em corrente alternada (AC) pode ser feito até 22 kWh (5,5 horas para uma carga completa), em corrente contínua (DC) até 200 kW (dando para encher a bateria de 10 a 80% em 30 minutos). E é importante saber que esta bateria tem garantia de oito anos ou 200.000 km e o veículo de cinco anos ou 100.000 km (sendo possível contratar cobertura adicional de cinco anos e 100.000 km).
Por último, a questão do preço, que vem tornar ainda mais positiva a impressão final deixada pelo Zeekr 001. A versão de entrada, de tração traseira, custa 60.000 euros (R$ 319.180) e já possui conteúdo bem recheado, incluindo rodas de 21 polegadas, teto solar panorâmico e sistema de som hi-end da marca Yamaha.
Além do maior desempenho e autonomia, a Privilege 4×4 dispõe de suspensão pneumática, bancos dianteiros com massagem e ar-condicionado com três zonas, entre outros recursos, e isso faz com que o preço se eleve até os 70.000 euros (R$ 372.380), ainda assim muito menos do que a Porsche pede por um Taycan 4 Cross Turismo de 571 cv, que na Europa sai por 126.000 euros (R$ 670.280).
Veredicto Quatro Rodas
Com estilo, qualidade construtiva e tecnologia de ponta, o 001 só não tem a tradição e o prestígio das marcas premium ocidentais.
Ficha Técnica – Zeekr 001
Preço: 70.000 euros
Motor: dois elétricos, síncronos de ímãs permanentes, 554 cv, 70 kgfm
Baterias: íons de lítio, 100 kWh
Câmbio: automático, 1 marcha, 4×4
Suspensão: duplo A (diant.) múltiplos braços (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.) e sólido (tras.)
Direção: elétrica, 2,5 voltas entre batentes
Rodas e pneus: liga leve, 265/40 R22
Dimensões: comprimento, 495,5 cm; altura, 154,8 cm; largura, 199,9 cm; entre-eixos, 299,9 cm; porta-malas 539 l; peso, 2.350 kg
Desempenho: 0 a 100 km/h, 3,8 s; velocidade máxima, 200 km/h; consumo 18,5 kWh/100 km; autonomia, 580 km; carregamento AC 22 kW, 5h30; DC 200 kW, 30 min (10-80%)
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