A chinesa BYD, que recentemente anunciou um complexo de fábricas no Brasil, mostrou descontentamento por uma iniciativa da Anfavea que pode culminar no retorno da cobrança de impostos para a importação de carros híbridos e elétricos no país. comentário feito pelo presidente da Anfavea, Márcio Leite, na última semana, sobre o retorno da cobrança de impostos na importação de carros elétricos.
Na última semana, Márcio Leite, presidente da Anfavea, comentou que está ocorrendo uma “invasão de produtos asiáticos, principalmente da China” na América Latina. Ele ainda afirma que o setor automotivo defende o retorno do imposto de importação de 35% para eletrificados, como acontece para os modelos a combustão.
Porém, a declaração não agradou a montadora chinesa, que hoje importa seus carros e já tem anunciou que produzirá híbridos e elétricos por aqui, em breve. Alexandre Baldy, conselheiro especial e porta-voz da BYD no Brasil, condenou as declarações da entidade brasileira durante entrevista à Reuters. Além disso, criticou a posição contrária à vinda de veículos que ajudarão o setor a cumprir metas ambientais.
“É descabido imaginar que o presidente de uma entidade dessa envergadura (Anfavea) possa colocar palavras na agenda de um governo que lutou tanto para trazer a COP 30 para o Brasil e dizer que vai haver uma taxação de carros elétricos que visam justamente contribuir para a proteção ao meio ambiente”, disse.
Baldy ainda reforçou que “o diálogo da empresa é com o governo” e, que até o momento, “não houve nenhuma discussão com o governo sobre a volta desta taxação”.
Para Baldy, a fala e atitude da entidade brasileira vai na contramão do discurso do Governo Federal, onde a pauta da descarbonização é defendida. “Não existe fundamento para um aumento de imposto em um ambiente em que o Brasil quer ser um país com agenda global de proteção ao meio ambiente e que vai ter na COP 30, em 2025, o principal protagonismo global”, disse Baldy.
Outro ponto crucial que incomodou a empresa chinesa foi esta fala de Márcio Leite: “investem para montar 100 mil veículos, mas vão trazer (importar) 500 mil”. Baldy rebateu, falou que nenhuma empresa no Brasil vende este número de veículos por ano, e que a BYD possui planos para não precisar mais importar carros no futuro: “O desejo da BYD não é importar carros indefinidamente, é trazer para o Brasil investimento muito relevante para produzirmos nossos modelos aqui”.
A BYD já tem alinhado um planejamento para a abertura de uma fábrica em Camaçari (BA) nos próximos anos. O investimento inicial da montadora chinesa gira em torno de R$ 3 bilhões e, segundo Baldy, em outubro deste ano, a vice-presidente da BYD Stella Li e o fundador Wang Chuanfu, virão ao Brasil para o início das obras da fábrica.
Com esta fábrica, a BYD terá como meta inicial produzir 150.000 unidades de carros elétricos, híbridos plug-in e baterias por ano para abastecer principalmente o mercado interno, e também servir como fornecedora para outros países da América Latina.
Mas, mesmo com toda essa discussão, Baldy afirmou que classifica a transição para a taxação de impostos como algo “saudável”, ele apenas não concorda que seja algo de imediato.
Vendas de veículos elétricos e híbridos
As vendas de veículos elétricos e híbridos no Brasil tiveram um grande salto neste ano, chegando em agosto de 2023 com quase o mesmo número do acumulado de vendas de 2022, segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (Abve). Talvez este seja um dos motivos para a fala do atual presidente da Anfavea.
A BYD hoje se mantém no topo da lista de veículos totalmente elétricos no país. No total de agosto, foram 1.167 emplacamentos no Brasil em agosto, sendo 656 unidades apenas da BYD. A montadora chinesa emplacou o top 3 dos veículos mais vendidos, com o BYD Dolphin em primeiro lugar com 371 unidades vendidas, BYD D1 em segundo com 153 unidades e BYD Yuan Plus com 132 unidades em terceiro. Além disso, a empresa ainda possui modelo híbrido flex que está entre os mais vendidos em seu segmento.
Outras montadoras também merecem destaque por vendas, tanto de carros totalmente elétricos, quanto de modelos híbridos. No ranking geral da Abve, algumas outras montadoras emplacaram diversos veículos eletrificados em agosto, como a Toyota (1.976 unidades), Caoa Chery (1.711), GWM (1.451) e Volvo (647).