O destino dos SP2, Santana e Fuscas 0 km encontrados no RS após mais de 20 anos
Fuscas, Santana e até um VW SP2 estavam guardados em uma antiga concessionária de Estrela (RS) fechada desde 2001

Um tesouro automotivo foi descoberto nos fundos de uma concessionária abandonada em Estrela, no Rio Grande do Sul. A concessionária Comercial Gaúcha foi fechada em 2001, mas permaneceu guardando em seu interior seis veículos Volkswagen raros com pouquíssima quilometragem.
Os carros eram mantidos pelo proprietário da concessionária, Otmar Ressig, que faleceu em 2022. Sua paixão pelo acervo era tamanha que, até 2017, ele abria a loja e fazia a manutenção do local e dos carros regularmente. Porém, teve que abandonar a prática por conta de problemas de saúde, conta Anderson Dick, CEO da FuelTech, que intermediou a venda dos modelos.

Isso explica o bom estado de conservação dos carros. Lá dentro, foram achados um Santana Quantum 2.0 1996 zero quilômetro, um Volkswagen SP2 1975, um Fusca Última Série 1986 e outros dois Fuscas Série Ouro Itamar de 1996, também zero. O último é um Fusca Branco com cerca de 82.000 km rodados, que era de uso pessoal de Otmar.
Sobre os carros zero, no hodômetro há apenas a quilometragem de teste, feita pela própria fabricante para garantir o controle de qualidade, mas não passa dos 22 km. Os outros dois modelos eram carros pessoais do ex-vendedor, que os mantinha em um ótimo estado de conservação.

O Fusca Última Série foi entregue pela própria Volkswagen aos lojistas quando o carro teve sua produção encerrada pela primeira vez. Apenas 850 unidades foram produzidas pela fabricante e o carro encontrado é o exemplar 625.
Os outros dois Fuscas Itamar datam da época em que o ex-presidente Itamar Franco pediu pessoalmente à VW que voltasse a produzir o modelo. O pedido foi aceito, mas Otmar se negou a vender estes dois exemplares, expondo-os em sua loja com o aviso “não estão à venda”.
O Santana Quantum também recebeu o adesivo e, de acordo com Anderson, ele seria um presente de Otmar à sua esposa. Porém o CEO admite que essa história ainda não foi confirmada pela família.

O SP2 é um caso à parte. Fazia parte da série de esportivos criada pela VW do Brasil na década de 1970 e era o carro de passeio de Otmar, somando 8.150 km rodados. Tanto é que o proprietário alterou a cor original marrom, instalou novas rodas e frisos e até colou um adesivo GLSi.

O Fusca pessoal de Otmar também tinha suas peculiaridades, como um segundo adesivo com o nome do carro na traseira. Em respeito à memória do ex-proprietário, todos os adesivos da concessionária e colados por Otmar serão mantidos.

Modelos foram vendidos “novinhos”
Se alguém se interessou pelas relíquias gaúchas, melhor não se animar tanto, pois a coleção já foi vendida. À pedido da família, Dick mediou as negociações de forma bem discreta, sem muita divulgação. Ele encontrou um comprador nos Estados Unidos, o brasileiro e colecionador de carros antigos, Claude Senhoreti.

E apesar do tempo parados, os veículos estão em bom estado de conservação, muito disso pelo esforço de Otmar, que até trocava o óleo dos carros. Para ter uma noção dos cuidados, os dois Fuscas gêmeos estavam trancados atrás de uma porta de ferro fundido.
Todas as peças são originais e não foi muito difícil fazê-los ligar. O Santana precisou trocar os injetores, mas os Fuscas e o SP2 só precisaram de um serviço básico de limpeza, troca de combustível e óleo.

A exceção foi o Fusca Última Série. Esse não funcionou. A hipótese é que, por ficar muito tempo parado, houve contaminação do óleo com o etanol, fazendo com que algumas peças corroessem.
O único que não deu problema foi o Fusca branco. Esse já chegou rodando e com a manutenção em dia. Nem precisou ser avaliado.

Antes de embarcar para os Estados Unidos, o Fusca será restaurado para ir para o seu novo lar funcionando. A equipe da FuelTech ressalta que o objetivo é que os carros liguem, não sair rodando, justamente para manter o hodômetro o mais baixo possível. Tanto é que um dos Fuscas Itamar está com a roda travada e deve ficar assim para não mexerem demais nos modelos.

A preocupação com a originalidade é tão grande que os envolvidos no projeto estão em dúvida se vão ou não lavar os carros, cobertos de poeira. Alguns deles ainda estão com a cera de fábrica que preserva a pintura.

Enquanto os reparos estão sendo feitos, os modelos estão expostos na sede da FuelTech, em Porto Alegre. Eles até ganharam a companhia de uma velha companheira.
A Kombi picape era um dos carros de serviço da Comercial Gaúcha, vendida poucos meses antes a uma concessionária de Lajeado. O carro passou por um “refresh”, o que a deixou com um aspecto de nova. E olha que nem precisava de muito, já que ela tem pouco mais de 40.000 km rodados.

















