Há muita gente disposta a viajar para bem longe do agito e das estâncias turísticas abarrotadas de turistas. Foi pensando nesse público que a Karmann Ghia desenvolveu um de seus modelos mais cultuados: a Safari, que chegou a ser fabricada no Brasil.
Fundada em 1901, a Wilhelm Karmann especializou-se em carrocerias e tornou-se um dos mais importantes fornecedores da indústria no mundo todo. A parceria com a Volkswagen concretizou-se em 1949 com a produção do Fusca conversível e dez anos depois a empresa instalou em São Bernardo do Campo sua primeira unidade fora da Alemanha.
A iniciativa prosperou por influência do executivo Friedrich Schultz-Wenk, então presidente da Volkswagen do Brasil: apenas 2 km separavam as duas fábricas, responsáveis pela produção de vários modelos entre as décadas de 60 e 70. E foi no começo dos anos 70 que a Karmann Ghia do Brasil ingressou no segmento de trailers e motocasas.
A história da Safari começa em 1973 na África do Sul, período em que a fabricante de trailers Iur-Hens Caravans desenvolve um motorhome sobre a estrutura da VW Kombi de 2º geração: a Autovilla. Inspirado pela ideia, Wilhelm Karmann Jr. decide licenciar o projeto e já em 1974 apresenta a sua Karmann Mobil.
Denominada Karmann-Mobil Touring, a versão brasileira foi apresentada no Salão do Automóvel de 1976, já como modelo 1977. Baseada na Kombi Furgão, a Touring eliminava boa parte de sua estrutura e recebia perfis de aço parafusados e soldados às longarinas originais.
A suspensão traseira era reforçada para suportar o acréscimo de peso da parte habitável, composta por uma sala de estar, cozinha com pia, fogão e refrigerador, e banheiro com lavatório, ducha e sanitário químico. A água potável vinha do tanque que também servia ao banheiro.
A Touring oferecia conforto para três pessoas: a sala de estar era rapidamente transformada em cama de casal e o terceiro ocupante dormia sobre um beliche suspenso de lona. Em 1979 surge a Karmann-Mobil Safari, substituindo o bagageiro sobre a cabine do motorista por um dormitório de casal.
A capacidade de acomodar cinco pessoas fez a Safari decolar na preferência do público: não demorou muito para que a Touring deixasse de ser oferecida. Seu peso total chegava a 1820 kg: carregada ao máximo ela chegava a impressionantes 2155 kg.
Sabe quem é que carrega isso tudo? Ele mesmo: o bom e velho motor Volkswagen 1600 de quatro cilindros refrigerados a ar. Com dois carburadores ele oferece parcos 11 kgfm a 2600 rpm e 54 cv a 4200 rpm.
Quer tem uma noção do 0 a 100 km/h dela? Esqueça: devido à enorme área frontal ela não chega aos 100 km/h. Para se ter uma ideia do enorme arrasto aerodinâmico a IUR-HENS Autovilla sul africana com motor VW de 2 litros e 68 cv mal passava dos 110 km/h.
A Safari é um caso clássico onde menos é mais: o centro de gravidade elevado requer muita atenção mesmo em curvas de baixa velocidade. O melhor é preservar o motor e garantir a chegada ao destino, mantendo-se na faixa da direita sem se importar com os apressadinhos. O consumo médio é de 7 km/litro.
Os entusiastas da Karmann-Ghia estimam que foram produzidas cerca de 500 unidades de Touring e Safari até meados da década de 90, com o auge da produção em meados dos anos 80. Naquela época uma Safari custava o equivalente a R$ 387.000 em valores atuais.
Estes entusiastas formaram o grupo Safaristas, dedicado ao registro e preservação das motorcasas Karmann-Ghia. Segundo eles ainda há cerca de 200 unidades licenciadas em todo o Brasil, e boa parte delas está presente nos encontros anuais do grupo.
Também é crescente o número de Tourings e Safaris que passam a integrar o acervo de coleções, no Brasil e no exterior. O valor médio de uma unidade como essa em excelente estado de conservação está na casa dos R$ 150.000.