Clássico de R$ 10 milhões, primeiro Singer do Brasil é um Porsche 911 evoluído
Empresa brasileira não só representa a Singer como cuidou de enviar o Porsche 911 1989 que serviu como base aos EUA e o trouxe de volta

Quem tem um Porsche 911 da geração 964 (produzida entre 1989 e 1993) já tem um carro especial e muito valorizado. O que a californiana Singer promete é transformar este Porsche clássico em algo único, com uma restauração que confere elementos de estilo dos 911 mais antigos com técnicas e equipamentos modernos. Agora o Brasil tem seu primeiro Singer, vendido pela GTO Car Specialists.
O carro é chamado de Brazil Comission, e representa um dos últimos exemplares do chamado “Classic Study”, projeto da Singer que confere ao 911 964 elementos de design da primeira geração do esportivo, como as luzes de posição e setas embutidos na carroceria e lanternas traseiras individuais em vez de integradas. Apenas 450 exemplares terão sido produzidos quando a produção deste projeto for encerrada, no final deste ano.

Especialista em curadoria e importação de carros raros e colecionáveis, a GTO é parceira da Singer no Brasil há alguns anos e acompanhou todo o processo para a criação do Brazil Comission desde 2021. O processo inclui não apenas a negociação de uma restauração, mas também a busca por um carro íntegro, seu envio para os Estados Unidos, a escolha dos detalhes do projeto e sua importação quando pronto.
“O modelo de negócio que nós criamos depende que primeiro o carro base (donor car) esteja no Brasil, para depois ser enviado para a Singer, nos Estados Unidos”, explica Leone Andreta, um dos sócios da GTO, que pode localizar um carro adequado para a transformação no mundo inteiro. O primeiro Singer do Brasil, porém, é baseado em um Porsche 911 1989 com especificação para os Estados Unidos, mas que já estava no Brasil há muitos anos.

A Singer recomenda que o donor car só seja comprado após sua aprovação. A empresa lista uma série de critérios que precisam atendidos (e comprovados por fotos) antes de aprovar o carro para que entre na fila para a produção. Tudo é feito de forma artesanal e com alto padrão de qualidade. Leva um ano para que um Singer fique pronto.
No caso do Brazil Comission, foram dois anos de espera e um ano para o carro ficar pronto. Às vésperas do início dos trabalhos, o comprador (que é mantido em sigilo) foi até a Singer para escolher todos os detalhes da transformação do carro, com base em amostras e também em outros carros em serviço.

O Singer do Brasil é pintado na cor Dark Sapphire Metallic, que originalmente é um tom da Jaguar, e que assume um tom arroxeado dependendo da luz. Bancos, parte inferior do painel e laterais de porta têm couro na cor Vivaldi. O azul Oxford aparece no revestimento do volante e no fundo de quase todos os instrumentos, mas o conta-giros têm fundo na cor “light ivory”.
Este exemplar ainda tem opcionais como os bocais de abastecimento de combustível e óleo à mostra, câmbio de seis marchas (que surgiria na geração seguinte), amortecedores Ohlins, escape de titânio e o motor seis cilindros com deslocamento aumentado de 3,6 litros para 4,0 litros (com 390 cv e 41 kgfm), o que custa 90.000 dólares. Também foi pago mais 12.000 dólares para que mantivessem o teto solar. Este carro só não tem os freios carbono-cerâmicos.

Acontece que a Singer também troca praticamente toda a carroceria do Porsche 911. Com exceção das portas, que são originais, todo o resto é feito de fibra de carbono, reduzindo seu peso em cerca de 200 kg, para 1.200 kg.
O que sobra é o chassi original e também o bloco do motor e a carcaça do câmbio, garantindo que o carro continue sendo um matching number — com toda a numeração de motor, câmbio e chassi obedecendo a marcação original do carro. É um restomod, mas que não segue um caminho comum que seria colocar apenas uma mecânica moderna no carro. A essência deste que foi o melhor 911 clássico é preservada.

A Singer não tem qualquer relação com a Porsche e até mesmo os componentes que utiliza costumam ser dos seus próprios fornecedores, caso dos faróis de xenônio. O rádio, porém, é um Porsche Classic com direito a integração com Apple Carplay ou Android Auto em uma pequena tela que não destoa do painel do carro. Este exemplar ainda recebeu uma base para o celular no console, um item que ainda estava em estudo quando o comprador visitou a Singer para definir a especificação do seu carro.
O custo de toda essa transformação é complexo. A transformação custa pelo menos 800.000 dólares, mas há mais 300.000 dólares em opcionais. Ou seja: 1,2 milhão de dólares só para a transformação, sem considerar o valor do carro que serve de base para a transformação, que fica ao redor dos 300.000 dólares no mercado internacional.

A soma, porém, não se limita aos 1,5 milhão de dólares, que equivalem a mais de R$ 8 milhões. Ainda há de se considerar impostos e custos de importação. Daí vem uma estimativa de R$ 10 milhões. Essa também é a estimativa para o próximo Singer que virá ao Brasil, que será um Turbo Study, um 964 inspirado no lendário Porsche 930 Turbo de 1978, com entrega prevista para 2028.

Se vale a pena? Bem, a Singer existe há apenas 16 anos e ainda está concluindo os 450 carros do Classic, que é seu primeiro projeto. Seu trabalho tão artesanal e reconhecido internacionalmente que a estimativa é que chega a multiplicar por 10 o valor dos Porsche 911 964 que usam como base.