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Desmonte do Renault Duster Dynamique 1.6: A versão das partes

Como nosso Duster se saiu após percorrer 60.000 km pelo Brasil

Por Péricles Malheiros | Fotos Marco de Bari
Atualizado em 12 out 2018, 10h49 - Publicado em 2 ago 2013, 12h35
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Criado para enfrentar o antigo EcoSport, o Duster não demorou muito a conquistar o consumi dor brasileiro. Bem maior que o rival da Ford – o placar de porta-malas, por exemplo, é de 475 ante 296 litros –, o Renault arrebatou compradores que buscavam um modelo espaçoso, robusto e alto mais para enfrentar a buraqueira da cidade do que a terra e lama do uso off-road.

No Longa Duração, a jornada do Duster se iniciou em abril de 2012, quando relatamos a compra de uma versão Dynamique com o opcional de bancos de couro, por 53 460 reais – hoje, um modelo zero-quilômetro idêntico ao nosso, ano 2013, sai por 57 700 reais. Findo o teste, o Duster evoca outros Renault desmontados após 60 000 km no Longa: o Mégane, em dezembro de 2007, e o Logan, em dezembro de 2008.

Do primeiro, nosso Duster traz o motor 1.6 16V flex, e do segundo, a plataforma e o desenho básico dos sistemas de eletricidade, suspensão, direção e freio.

A medição de compressão dos cilindros é um dos primeiros procedimentos adotados pelo nosso consultor Fabio Fukuda, da oficina paulistana Fukuda Motorcenter.

No material fornecido pela fábrica, não constava referência ao mínimo de compressão tolerado: “A Renault informa apenas que a diferença de pressão entre os cilindros não pode apresentar variação superior a 10%”. Obedecendo a um procedimento-padrão, a medição é feita e repetida outras duas vezes: o número final é igual à média das três leituras.

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(Marco de Bari/Quatro Rodas)
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Nos cilindros 1, 2 e 3, o valor aferido foi rigorosamente o mesmo: 140 psi. A diferença surgiu no cilindro 4, com duas medições de 120 e uma de 130 psi. Com média de 123,3 psi, o cilindro 4 revelou uma pressão 11,9% inferior à da anotada nos demais. Nossa investigação para descobrir a origem do problema seguiu por duas linhas: a folga de entrepontas dos anéis dos pistões e as válvulas de admissão e escape, com atenção especial às peças atreladas ao cilindro 4.

Ao se apresentarem com folgas dentro (ou muito próximas) dos limites tolerados pela fábrica, todos os anéis foram inocentados. Ao desmontar o cabeçote, fim do mistério: as válvulas de admissão estavam com acúmulo de carvão.

“Esse excesso de material carbonizado é resultado direto da falência dos retentores de válvula, que já não conseguiam mais impedir que o óleo escorresse pela haste. A invasão de lubrificante da válvula do quarto cilindro foi tão severa que as partes desprendidas se deslocaram para a zona de assentamento, prejudicando a vedação”, disse Fukuda ao explicar a menor pressão de compressão do cilindro 4, mais severamente atingida.

“Se continuasse assim, o problema se agravaria a ponto de provocar a reprovação do Duster na inspeção veicular de emissões de poluentes”, diz Fukuda. Comandos de válvulas, virabrequim e cilindros estavam com todas as medidas dentro dos padrões da Renault.

Caixa registradora

Ao varrer a central eletrônica atrás de sinais de problemas, Fukuda encontrou um registro de avaria proveniente do sensor de oxigênio. “Fato esperado, uma vez que a má vedação da válvula pode gerar esse tipo de registro.”

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Diferentemente do motor, com seus altos e baixos, a desmontagem do câmbio só trouxe boas notícias. Engrenagens, trambulador e garfos de engate estavam como novos. “A carroceria grande e pesada do Duster torna as trocas de marchas mais constantes. Mesmo assim, a embreagem chegou aos 60 000 km em bom estado”, diz Fukuda.

A fábrica também não fornece a espessura mínima do disco, mas, a julgar pela análise visual do conjunto (platô, disco e atuador hidráulico) e pela boa “pegada” nas acelerações e retomadas, dá para afirmar que o sistema suportaria pelo menos mais 20 000 km.

Elogiada no desmonte do Logan, agora a suspensão deixou a desejar. Com o mesmo desenho básico, com McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira – a multilink é exclusividade da versão 4×4 –, o conjunto tem maior curso em virtude da aplicação de molas maiores. Feito para quem busca um modelo robusto para a buraqueira (no asfalto ou fora dele), o Duster completou os 60 000 km com a suspensão dianteira ruidosa – atrás, tudo na mais perfeita ordem.

O desmonte revelou a origem dos problemas. Com folga nos pontos de fixação extremos e nos mancais, a barra estabilizadora gerava o mesmo tipo de ruído abafado que os pivôs das bandejas, igualmente folgados. O sistema de direção também não resistiu como deveria. “Os braços axiais estavam com jogo excessivo. Além do rangido ao esterçar o volante, essa folga poderia levar a um alinhamento incorreto”, diz Fukuda.

Também chamou a atenção de nosso consultor a utilização de molas não encapadas inclusive na área de contato com o prato inferior do amortecedor. “Não havia sinais de batida entre elos, mas a parte da mola que entra em contato com o prato estava ‘polida’, sem pintura.”

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Aposta arriscada

A revisão dos 40 000 km, feita pela concessionária paulistana Max, incluiu uma troca de pastilhas, mas os discos foram mantidos. No desmonte, verificamos que as pastilhas estavam com, na média, 7,3 mm de espessura, repetindo a curva de avanço de desgaste registrada nos primeiros 40 000 km – novas, as peças têm material de atrito com 11,7 mm de espessura.

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(Marco de Bari/Quatro Rodas)

Os discos, por sua vez, estavam com espessura muito próxima do limite mínimo. Logo, a autorizada A.R. Motors, responsável pela revisão dos 50 000 km, deveria ter recomendado, no mínimo, uma atenção especial quanto à proximidade do fim da vida das peças. A mesma concessionária negligenciou outro ponto ligado à segurança, liberando nosso Duster sem fazer qualquer recomendação de troca dos pneus, também próximos do fim da vida útil.

Aos 55 539 km, instalamos um jogo de pneus idêntico ao original, por 1 900 reais.

Espaçoso, nosso Duster se despede da frota de Longa Duração aprovado. Mas é bom que se diga: elevada, a suspensão que trabalha bem no Sandero e no Logan se mostrou frágil no SUV, e o motor, que era referência na época do Mégane, chegou aos 60 000 km dando sinais de que precisa evoluir, assim como alguns serviços da rede Renault.

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ATENÇÃO

Som estéreo

Aos 60 000 km, os rolamentos das polias dos tensionadores (1) de correia começaram a chiar. Ruído forte mesmo vinha da polia do compressor (2) de ar-condicionado, também com o rolamento danificado.

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Metaleiro

Ruídos metálicos eram ouvidos ao rodar sobre pisos esburacados. Culpa da falta de isolamento entre o extremo da mola (3) e o prato do amortecedor (4).

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Ligação cortada

Sem um conector junto à tampa traseira, é preciso cortar o chicote elétrico para separar a peça da carroceria. Isso dificulta (e encarece) um eventual serviço de funilaria.

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Apoio do partido

O coxim superior direito (do câmbio) estava com a borracha rompida (5). Os efeitos da peça danificada ainda não eram sentidos ao volante, mas, ao permitir a movimentação excessiva do câmbio, os outros coxins eram superexigidos, podendo apresentar o mesmo problema em pouco tempo.

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Barra frouxa

A barra estabilizadora estava com folga nos mancais (6), assim como as rótulas das duas extremidades das bieletas (7), responsáveis por ligar a barra aos amortecedores dianteiros.

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Braços folgados

Com folga excessiva nos dois braços axiais (8) e nos terminais (9), o sistema de direção do nosso Duster era outra fonte de ruídos. O incômodo, porém, não comprometia a segurança, “apenas” o conforto a bordo.

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Hora de parar

Os discos (10) do Duster suportaram exatamente os 60 000 km do Longa Duração, chegando ao fim do teste com espessura muito próxima da medida mínima tolerada pela Renault. A jornada do SUV, com 67,9% de trechos rodoviários, favoreceu o baixo consumo de discos e pastilhas (11).

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APROVADO

Velas acesas

O plano de manutenção do Duster estabelecido pela Renault prevê a substituição das velas a cada 40000 km. Decisão correta: com 20000 km de uso, elas se mostraram em plena forma.

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Longa vida

O conjunto de embreagem se aposentou vendendo saúde. Só foi possível uma análise visual, pois a Renault não forneceu a espessura mínima do material de atrito do disco.

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Bem azeitado

A análise do virabrequim inclui a medição da folga axial e do diâmetro dos moentes e munhões. Na inspeção visual, nenhum sinal de azulamento ou riscos nas zonas de atrito mecânico, comprovando a eficácia do sistema de lubrificação.

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Câmbio em alta

Engrenagens, anéis sincronizadores e garfos de engate em perfeito estado: da alavanca de mudança de marchas às homocinéticas, passando pela embreagem, o sistema de transmissão do Duster se mostrou merecedor de elogios.

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REPROVADO

Depósito de carvão 

A falência dos retentores de válvula foi mais grave no cilindro 4. Com a alta temperatura da câmara de combustão, o lubrificante acumulado na parte baixa da válvula é incinerado, formando uma placa sólida. Quando partes desse material se desprendem e param na área de assentamento da válvula, a vedação é prejudicada, ocasionando a perda de pressão de compressão.

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HISTÓRICO

14 km carro entregue com pequenas trincas na pintura do para-lama dianteiro direito
1 354 km Ruído aerodinâmico invade cabine em velocidades superiores a 100 km/h
8 195 km Ruído de movimentação do combustível dentro do tanque
11 138 km Vibração intermitente da direção
24 962 km Banco do passageiro com jogo
38 613 km pedal da embreagem alto
53 147 km Ruído de rolamento de polia
55 539 km troca de jogo de pneus

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FICHA TÉCNICA

Motor: dianteiro, transversal, 4 cil., 1 598 cm³, 16V, flex; Diâmetro x curso: 79,5 x 80,5 mm; Taxa de compressão: 9,8:1;
Potência: 115 / 110 cv a 5 750 rpm;
Torque: 15,5 / 15,1 mkgf a 3 750 rpm
Câmbio: manual, 5 marchas, tração dianteira
Dimensões: comprimento, 432 cm; largura, 182 cm; altura, 170 cm; entre-eixos, 267 cm
Peso: 1 202 kg
Peso/potência: 10,5 / 10,9 kg/cv
Peso/torque: 77,5 / 79,6 kg/mkgf
Volumes: porta-malas, 475 litros; tanque, 50 litros
Suspensão: Dianteira: independente, Mcpherson. Traseira: eixo de torção
Freios: disco ventilado (dianteira), tambor (traseira)
Direção: hidráulica
Pneus: 215/65 R16

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ROTEIRO

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ÁLBUM DE RECORDAÇÕES

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VEREDICTO

Nosso Duster de Longa Duração não revelou muitos problemas no desmonte. A questão é que, dentre os poucos, um deles – a invasão de óleo em virtude da perda de eficiência dos retentores de válvulas – era grave. A rede, por sua vez, seguiu a tabela de preços sugeridos de revisões e não empurrou serviços desnecessários. No entanto, deixou passar alguns procedimentos relacionados à segurança.

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