Taxa de juros para financiar carros é a mais alta da história e já freia vendas
Financiar um carro nunca foi tão caro, de acordo com o Banco Central, e isso já freia as vendas de carros novos e impacta ainda mais o mercado de seminovos

Para os financiamentos de automóveis, 2024 foi um ano positivo. A taxa Selic, responsável por ditar esse segmento, se manteve estável, abaixo dos 12,25% a.a., embora não estivesse em um patamar tão atraente, como afirma Leonardo Furtado, superintendente do Auto Shopping Internacional Guarulhos.
Para outro especialista, Fredy Evangelista, CEO da Autobanking, foi o aquecimento das vendas e a queda na inadimplência que contribuíram para o aumento na oferta de crédito para quem comprou um carro usado ou novo. Quando o assunto é 2025, nuvens negras pairam no ar.
“O que nós estamos vivendo hoje é o momento de maior taxa de juros para o consumidor brasileiro”, sinalizou Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea. Acontece que a taxa de juros média para financiar um carro chegou a 29,5% ao ano. Esta é a maior taxa de juros desde que o Banco Central passou a contabilizar as operações de financiamento de automóveis.
Sim, este será um ano mais difícil para se financiar um carro. A culpa é da própria taxa básica de juros, a Selic, que iniciou janeiro mais alta, subindo para 13,25% a.a.
O aumento da taxa de juros no financiamento apenas acompanhou a alta da Selic, que vem aumentando desde setembro, saindo dos 10,5% para os atuais hoje 13,25% após quatro aumentos – os três últimos de 1 ponto percentual. A expectativa do mercado é que a Selic chegará aos 14,25% na próxima semana.
Em janeiro de 2024 a taxa média de juros no financiamento de carros novos era 26,1% ao ano, em média. Março e abril tiveram as melhores taxas do ano passado, de 25,4%, depois as médias mensais estagnaram em 25,5%, que era a taxa média de juros nas vendas de automóveis em setembro. O aumento da Selic refletiu na média apurada em outubro, 25,9%.

Isso acontece também em um momento de baixa inadimplência: 2,6% para financiamento a pessoa jurídica e 4% para pessoa física. Isso é bom, está bem próximo dos 3,2% de inadimplência do crédito total do Sistema Financeiro Nacional. Contudo, o impulso para que esse índice pudesse reduzir os juros é anulado pela Selic.
Outro fator que poderia influenciar os juros é o Marco Legal das Garantias. Com a nova lei, promulgada há um ano, o banco poderá retomar o bem em caso de inadimplência sem ter de ir à Justiça – as ações costumam durar mais de um ano. Contudo, o impacto da lei ainda não foi percebido no mercado porque os bancos ainda estão adaptando seus sistemas à nova lei.
O perfil das negociações é que vem mudando. Há dois anos, em março de 2023, as vendas de automóveis efetivadas com o pagamento à vista chegou a uma parcela de 70%, mas em dezembro de 2024 esse número já havia recuado a 55%, com 45% das vendas de carros novos sendo feitas por meio de financiamento. Essa é uma proporção mais próxima do normal do mercado brasileiro, apesar dos juros altos.
“Com este custo a indicação é de nova queda no volume de financiamentos”, disse o presidente da Anfavea. O impacto da Selic era esperado pela entidade nas suas projeções para o mercado automotivo brasileiro e o custo do crédito é tratado como a principal barreira para o Brasil voltar a emplacar 3 milhões de carros por ano.
Carros usados sofrem ainda mais com os juros altos

Com a taxa de juros básica mais alta, mais caras serão as parcelas do financiamento. “Todos os financiamentos devem aumentar de 0,2 a 0,5% ao mês, porque eles acompanham a Selic”, diz Fredy, apesar de ser algo difícil de cravar.
Mesmo com os juros e preços lá em cima (não há mais carros automáticos por menos de R$ 100.000, por exemplo), as vendas de automóveis novos crescem: 8% no primeiro bimestre de 2025 na comparação com o mesmo período de 2025, enquanto fevereiro deste ano teve 9,3 emplacamentos que em janeiro.
O setor dos seminovos será o mais afetado pelo aumento dos juros, uma vez que o perfil de quem compra esse tipo de carro é considerado de maior risco para os bancos, se comparado ao de quem compra um carro novo. Além disso, os carros zero-km têm mais margem de manobra, graças aos subsídios das montadoras.
Leonardo diz que isso já pode ser visto dentro do Auto Shopping Internacional, em Guarulhos (SP). “Desde o último trimestre de 2024, quando a Selic começou a subir, a procura do cliente não mudou, mas o número de contratos fechados diminuiu.”
E não é só a quantidade de contratos fechados que diminuiu, mas também o tipo de veículo procurado se modificou. “Se antes vendíamos muitos carros com dois ou três anos de uso, hoje há uma procura maior por modelos de até R$ 50.000 e mais antigos”, observa Leonardo.
De acordo com o superintendente do Auto Shopping Internacional, no mercado existem financeiras que aceitam contratos de maior risco de inadimplência, mas que, em geral, cobram juros maiores, o que não favorece muito o fechamento dos negócios.
Como financiar um carro com taxas de juros mais baixas
É claro que quem compra carro à vista não paga juros e que quem dá entradas maiores também consegue taxas de juros melhores no financiamento, pois isso pode reduzir significativamente o prazo para o pagamento da dívida. Mas há meios que podem evitar uma taxa de juros mais alta.
- Saiba quanto vai custar: o consumidor deve sempre verificar qual é a CET (Custo Efetivo Total), que inclui encargos e impostos cobrados na operação que pode ser ainda maior do que os juros isoladamente.
- Simule condições de financiamento: uma entrada maior gera um juro menor; mais parcelas causam juros maiores. Sendo assim, o segredo é investir na maior entrada com o menor número de mensalidades possível. Outro é avaliar o número de parcelas, pois reduzir o financiamento de 24 para 20 meses, por exemplo, pode implicar em uma redução significativa nos juros sem aumentar o valor da parcela de forma proibitiva.
- Descubra quem cobra menos: uma loja de carros usados trabalha com diversos bancos, a concessionária pode trabalhar com um financiamento no banco da própria montadora. Mas não deixe de levar a proposta ao gerente do banco em que você tem conta para verificar se tem condições de cobri-la. Afinal, ele conhece bem sua vida e saúde financeiras e sabe melhor que ninguém se você tem perfil de bom pagador.
- Use o seu poder de barganha: Em seguida, volte a negociar com a instituição financeira da loja ou concessionária e só depois feche com aquela que oferecer a proposta mais vantajosa. O banco da loja quer ajudá-la a vender o carro e o banco independente não quer perder o negócio e vai medir seu risco. Quanto menor é o risco, menor é a taxa de juros.
- Taxa zero não existe: não se deixe levar pelos valores nominais divulgados em campanhas de marketing, pois há eventuais taxas e impostos, como IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), em todos os financiamentos.
- Evite taxas desnecessárias: negocie e procure verificar o que pode ser excluído do contrato. Seu gerente pode, por camaradagem, não querer lhe cobrar taxa de abertura de crédito.