Dicas para o financiamento do carro
Como escapar das armadilhas do financiamento e evitar engrossar as estatísticas de inadimplência? Em busca das respostas, conversamos com Samy Dana, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), especialista em finanças e um apaixonado por temas ligados a consumo e automóvel. “O maior erro é adquirir um carro olhando apenas para o valor da parcela. Isso acaba enforcando o comprador”, explica Dana. Veja, a seguir, algumas dicas preciosas.
COMO PREVENIR O CALOTE
Em primeiro lugar, é preciso ter em mente que o custo do carro não está restrito à quantia de que você precisa para comprá-lo. Um veículo de R$ 40 000 custa cerca de R$ 14 000 por ano para manter, levando- se em conta impostos, seguro, combustível, estacionamento, manutenção, entre outros, sem incluir a depreciação. É essa a conta que deve ser feita e não o valor do carro ou se a parcela “cabe no bolso”.
QUANTO COMPROMETER COM A PARCELA?
O ideal é que a prestação nunca ultrapasse os 20% da sua renda líquida. Por isso, atenção: nunca caia no descuido de fazer as contas pelo seu salário bruto, aquele que consta no holerite.
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MEU NOVO CARRO CONDIZ COM MEU PADRÃO DE VIDA?
Um amigo pagou um empréstimo ou o 13o salário entrou na sua conta e você está pensando em comprar um carro melhor que o atual. Cuidado: ao adquirir um modelo novo, é preciso ter em mente que os custos para mantê-lo serão proporcionais ao seu valor. Ou seja, um popular na faixa dos R$ 30 000 tem um custo. Se você adquirir um sedã médio de R$ 80 000, por exemplo, precisará de mais dinheiro para mantê-lo, pois ele terá IPVA mais caro, consumirá mais combustível e até os preços de peças e revisões serão mais altos. Portanto, todos esses custos devem ser anualizados e depois divididos por 12, para que você calcule o gasto mensal.
JURO ZERO É MITO OU VERDADE?
Em geral, é mais uma estratégia de marketing para vender do que uma realidade de mercado. Quando você for fazer um financiamento, é preciso verificar o percentual que consta do Custo Efetivo Total (CET). Em geral o contrato traz, em separado e claramente, o juro da operação (que, nesse caso, deve ser zero) e o CET. Atualmente, porém, uma taxa real de 1% de juros ao mês é a mais aceitável na compra de um veículo zero. Mas, para verificar se o juro é zero mesmo, o professor Samy Dana aconselha fazer uma pesquisa de mercado. “Se o carro custa R$ 40 000 em uma loja que promete juro zero, mas R$ 38 000 reais em outra que financia com taxas normais, então não é juro zero. O juro está embutido. Juro zero vale para toda a rede autorizada”, esclarece. “Na prática, o juro zero é algo muito improvável e até inverossímil.”
QUANTO DAR DE ENTRADA?
A entrada deve ser a maior possível, para reduzir a quantia que será financiada. Assim, quanto menor o valor a ser parcelado, menos juros você vai pagar. Pelo menos 30% de entrada é um valor aceitável. Em segundo lugar, é importante evitar os prazos muito longos. O mais comum é financiar o veículo entre 24 e 36 meses (os prazos máximos oferecidos pelos bancos são de 60 meses, enquanto a média do mercado é de 41). A regra aqui é a mesma: quanto maior o número de parcelas, maior a taxa de juros. Também vale questionar se o contrato de financiamento permite amortizações ou quitações antecipadas sem o pagamento dos juros. Isso pode ajudar a sanar a dívida mais cedo e pagar menos no valor final do automóvel, caso no meio do caminho entre um dinheirinho extra, como o 13o salário ou um bônus no trabalho.
POSSO RENEGOCIAR O FINANCIAMENTO?
Você sempre pode, mas nesse caso deve fugir dos cartazes afixados nas ruas que prometem renegociar sua dívida com vantagens milagrosas. Aprenda: o maior interesse do banco é você pagar a dívida, não apreender o carro. Então, sempre haverá margem para renegociar o prazo, baixando o valor das parcelas, no caso de as prestações estarem se acumulando. Para o banco, é melhor renegociar e perder parte dos juros do que correr o risco de o cliente não pagar nada. Há casos ainda em que um carro já quitado pode virar dinheiro vivo por meio do refinanciamento, para pagar uma viagem ou as prestações da casa, por exemplo. Os juros costumam ser bem menores em razão de haver um bem como garantia – o próprio veículo. “É preciso fazer as contas, pois esses juros em geral são mais baixos em relação ao cheque especial e ao cartão de crédito, não ao crédito pessoal normal”, alerta o professor.