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Os truques de sedução no interior dos automóveis

Montadoras são capazes de influenciar sua opinião sobre um carro sem que você perceba estar sendo enfeitiçado. Conheça as armas que elas usam para isso

Por Paulo Campo Grande
Atualizado em 22 abr 2021, 23h38 - Publicado em 23 out 2015, 12h30
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  • montagem

    A qualidade de um automóvel pode ser percebida de diversas maneiras. Mas, quando as fábricas falam em qualidade percebida, elas estão se referindo basicamente aos atributos de estilo e de acabamento.

    São aquelas características que as pessoas notam principalmente através da visão – mas também pelo tato e olfato.

    Às vezes, essa percepção não é consciente, porém, é o que determina se o proprietário gosta ou não de um carro, ou se ele se sente bem em seu interior. Isso é fruto não só do design e dos materiais empregados, mas também de artifícios de design que as fábricas usam para deixar os modelos mais interessantes aos olhos dos compradores.

    As empresas têm divisões específicas para essa missão. São os chamados departamentos de qualidade percebida.

    A capacidade de agradar tem relação direta com o custo de produção do veículo, que resulta não só das partes visíveis dos carros, como peças e materiais, mas também das invisíveis, como as ferramentas usadas na produção.

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    Cada componente de um veículo, como painel, porta-luvas, saídas de ar e até os botões dos comandos, necessita de uma ferramenta própria para sua confecção. E, quanto maior o volume fabricado, mais unidades dessas ferramentas são necessárias para garantir a produção contínua e em grande quantidade.

    Nos carros mais baratos (mais vendidos e, portanto, produzidos em maior quantidade), as fábricas compensam os gastos com as ferramentas reduzindo o número de componentes existentes nos veículos. Painéis e laterais de portas costumam ficar mais simples e menos elaborados. Ou são compartilhados com outros modelos.

    Nos carros mais caros, ocorre o contrário. Nesse caso, a montadora pode se dar ao luxo de produzir maior variedade de componentes, uma vez que, em razão do menor volume fabricado, as ferramentas sofrem menos desgaste e podem parar para manutenção sem comprometer a produção.

    A prática mostra, porém, que nem sempre a complexidade do desenho das peças e o uso de materiais nobres garantem sucesso. Jogar com formas, cores e texturas é uma das soluções simples que, se bem-executadas, podem dar excelentes resultados a baixo custo.

    E é aí que entra o departamento de qualidade percebida. Seu desafio é, em última instância, driblar a necessidade de empregar muitas ferramentas em um projeto.

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    Com a ajuda da especialista Lívia Praeiro Coe­lho, engenheira com larga experiência na área (foi reponsável pela implantação do departamento de qualidade percebida na Fiat do Brasil), analisamos a seguir alguns dos carros à venda no país e desvendamos seus pontos fortes e fracos e seus segredos para satisfazer o consumidor.

    MERCEDES-BENZ GLA

    Mercedes-Benz GLA
    Teto e painel escuros dão o toque de esportividade, mas o luxo surge nas cores claras na parte inferior do painel (André Lessa/Quatro Rodas)

    O GLA não tem recursos sofisticados como portas que dão continuidade às formas do painel, presentes em outros modelos mais caros da marca. Mas não abre mão da seleção cuidadosa de cores e materiais no acabamento.

    Mercedes-Benz GLA
    A ausência de continuidade entre o painel e a porta (com formas e elementos independentes) revela um veículo de produção em grande volume (André Lessa/Quatro Rodas)
    Mercedes-Benz GLA
    O painel reúne diferentes materiais de boa qualidade. As peças estão bem encaixadas, são agradáveis ao toque e sem reflexos (André Lessa/Quatro Rodas)
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    HYUNDAI HB20

    Hyundai HB20
    O quadro de instrumentos escurecido evita reflexos (André Lessa/Quatro Rodas)

    Exemplo de projeto de baixo custo bem-executado, o HB20 parece um carro de um segmento superior, graças aos vincos e texturas bem-elaborados.

    Hyundai HB20
    O painel é todo de plástico duro. Mas tem cores e texturas que criam um visual refinado, ao dividir o bloco em áreas, como se fossem elementos diferentes (André Lessa/Quatro Rodas)
    Hyundai HB20
    Nas portas, a sobriedade disfarça um pouco a simplicidade (André Lessa/Quatro Rodas)

     

    AUDI A6

    Audi A6
    A grande variedade de componentes integrantes do painel são indicações de luxo (André Lessa/Quatro Rodas)
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    Este é um belo exemplo de projeto que, sendo feito para o segmento de luxo, permite à fábrica usar e abusar de elementos para torná-lo bonito e sofisticado. O design e os materiais do painel são espelhados nas portas, harmonizando o ambiente interno.

    Audi A6
    A qualidade se manifesta nos componentes perfeitamente alinhados. Cores claras e superfícies foscas revelam elegância e bom gosto (André Lessa/Quatro Rodas)

     

    JAC T6

    JAC T6
    A textura grossa no painel evita riscos, mas difere da que há no volante. Essa desarmonia transmite pobreza (André Lessa/Quatro Rodas)

    Apesar de receber elementos que o deixaram mais luxuoso, como frisos e revestimentos, o T6 não esconde que nasceu com acabamento simples e de baixo custo.

    JAC T6
    Reflexos nos mostradores e no para-brisa atrapalham a visibilidade dos instrumentos, revelando sua origem como projeto de baixo custo (André Lessa/Quatro Rodas)
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    JAC T6
    O painel é plástico, mas com detalhes em “black piano” que conferem sofisticação (André Lessa/Quatro Rodas)

     

    JEEP RENEGADE

    Jeep Renegade
    O painel é uma peça única, mas reúne elementos independentes e muitos detalhes de luxo, com cromados e cores diferentes (André Lessa/Quatro Rodas)

    Sem se comprometer com continuidade entre as diferentes partes do painel, a Jeep conseguiu um bom resultado usando um grande quantidade de elementos e materiais de boa qualidade para criar uma cabine sofisticada.

    Jeep Renegade
    O acabamento cinza no câmbio sugere um vínculo com o volante, o que de fato não há, porque o estilo das peças e as cores dos materiais são diferentes (André Lessa/Quatro Rodas)
    Jeep Renegade
    Porta-luvas fica escondido no painel para que o motorista não veja desalinhamentos no encontro da porta com o batente (André Lessa/Quatro Rodas)

    INGREDIENTES DE UM PROJETO

    Elementos: A presença de muitos componentes é um indicativo de sofisticação.

    Brilho: Nos carros de entrada, ele é referência de luxo. Mas, nos modelos superiores, o que harmoniza são acabamentos mais foscos.

    Design: Linhas muito horizontais transmitem pouco luxo.

    Materiais: Plástico demais empobrece o interior do veículo.

    Continuidade: Design do painel que continua pelas portas transmite luxo.

    Cores: As tonalidades mais claras revelam leveza e sofisticação. As escuras remetem à esportividade.

    Reflexos: Cores claras, em geral, são evitadas na área das saídas de ar laterais e no para-brisa, para não refletir luz e ofuscar.

    Vínculo entre peças: Cores, linhas e texturas em harmonia entre os elementos internos são o segredo para uma boa impressão.

    Acabamento: Peças com rebarbas e desalinhadas revelam baixa qualidade na produção ou no projeto.

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