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Os inimigos ocultos na compra de um usado

Defeitos que geram consertos caros não afetam só motor e carroceria. Fique atento a itens tradicionalmente esquecidos, como eletrônica e suspensão

Por Gustavo Henrique Ruffo
Atualizado em 22 abr 2021, 16h57 - Publicado em 14 abr 2014, 21h18
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  • Inimigo oculto

    Quem começa a procurar um automóvel usado normalmente olha com atenção carroceria e motor. A justificativa é que essas são as partes que podem dar os maiores prejuízos. Nos veículos antigos, esse raciocínio até estava certo. Nos atuais, nem sempre.

    A diferença se deve em especial à eletrônica embarcada. Assim como ela facilita e protege a vida do motorista, também pode ser uma boa fonte de dor de cabeça: há centrais cujos preços ultrapassam os 5 000 reais.

    “Alguns automóveis podem ter mais do que 40 módulos eletrônicos”, explica Cesar Samos, diretor do Sindirepa-SP (Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios do Estado de São Paulo) e especialista em manutenção automotiva.

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    Um bom momento de ver se está tudo bem é na hora de dar a partida: “Gire a chave, sem ligar o motor, e preste atenção nas luzes. Todas elas devem se acender”, diz Samos. “Se a do ABS ou a do airbag não ligar, pode ser que ela tenha queimado, mas também é possível que tenha sido desligada para não revelar um defeito nesses itens.”

    Antes de acusar o vendedor, faça sua parte e conheça bem o veículo que você pretende comprar, assim como todos os equipamentos de que ele dispõe. Pode ser que a lâmpada do ABS não se acenda porque o veículo simplesmente não venha equipado com o sistema.

    Se as luzes dos equipamentos que o carro tem se acenderem normalmente, verifique depois se elas se apagam quando você faz o motor funcionar. Se continuarem acesas, é porque os respectivos sistemas correspondentes estão com problema. Essa checagem ajuda, mas não elimina todos os defeitos ocultos na parte eletrônica do carro.

    O ideal seria tentar levá-lo a uma oficina moderna ou a uma concessionária da marca para uma inspeção eletrônica mais detalhada, com o uso de scanner. “É o único jeito de ter certeza de que tudo está ok nessa parte”, afirma Samos.

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    Teste tudo

    Uma das vantagens de comprar um usado é poder levar para casa um modelo mais potente ou bem-equipado pelo mesmo preço de um zero pelado. Se os equipamentos são a razão da compra, então não se esqueça de testá-los. Cada um deles.

    “Ligue ar-condicionado, limpador de para-brisa, rádio, aquecedores de banco e tudo que possa ter ajuste elétrico: bancos, volante, retrovisores, travas, vidros e por aí afora”, diz Francisco Satkunas, diretor da SAE Brasil (Sociedade de Engenheiros da Mobilidade).

    Samos reforça a recomendação: “Bancos elétricos podem ter módulos próprios de controle. Se eles não funcionarem, é mau sinal”. Faróis, principais e auxiliares, também entram nessa dança. Uma luz de neblina desligada pode indicar que a frente do veículo já foi batida, por exemplo.

    Também deve-se consultar o histórico de manutenções e dirigir o veículo. “É importante o carro ter manual do proprietário e as revisões feitas dentro do prazo estabelecido pela fábrica. Com o número do chassi do veículo, consulte também se ele fez parte de algum recall.

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    É bom que ele tenha passado por esse conserto, pois mostra que o proprietário antigo era zeloso. Mas, se não foi, não é nada grave. É só levá-lo à concessionária e fazê-lo de graça”, diz Satkunas.

    Samos complementa: “Se o veículo não tiver o manual, vale pedir a uma oficina para checar as últimas manutenções pelas quais o carro passou, até para saber os problemas mais recentes que ele apresentou.”

    Só com o número do chassi, também é possível puxar em concessionárias quais serviços o carro fez na rede autorizada. Mas os especialistas em venda de usados são unânimes: se não houver o manual, é um péssimo indício. Ou o dono era muito desleixado a ponto de perdê-lo ou o veículo não fez uma das revisões e a “perda” é uma tentativa de esconder isso.

    Suspense na suspensão

    Por fim, ligue o motor e dê uma volta com o veículo, que vai permitir pegar outros defeitos não tão evidentes, como aqueles em rodas e suspensões.

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    “Amortecedores e molas são mais difíceis de checar. Uma dica é passar em irregularidades do piso para verificar se não há nenhum ruído estranho – mas faça isso com a janela aberta e o rádio desligado. A outra é colocar o carro bem no meio de uma rua plana e ver se ele não puxa para um lado. Se os pneus tiverem desgaste irregular, é outro indício de que pode haver problemas na suspensão”, diz Satkunas.

    Roda fora de centro, por exemplo, não dá alinhamento e o conserto sai por pelo menos 200 reais cada uma. Trocar amortecedores vencidos ou avariados custa no mínimo 400 reais, já que se recomenda substituir o par – num importado, a fatura pode passar dos 3 000 reais.

    Se puder, leve o veículo a um posto de combustível e coloque-o num elevador. Cheque se os amortecedores têm vazamento e se as molas ou outras partes da suspensão estão avariadas. “Veja também se o carro tem protetor de cárter.

    Se não tiver, vale analisar o próprio cárter ou o catalisador. Se houver riscos, amassados ou marcas de pedra, é porque o dono andou em terreno ruim. Aproveite e procure por sinais de corrosão no assoalho”, diz Satkunas.

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    Para uma prevenção completa, negocie com o dono para levar o carro a uma oficina de confiança e proponha pagar a revisão. Ou talvez nem precise.

    “Tem coisas que só um mecânico percebe. Eu sempre peço a meus clientes para me trazerem o carro antes de comprá-lo. É um serviço que faço só para eles e nem cobro”, diz Samos, que também é dono da Mecânica do Gato, com 45 anos de estrada.

    Checagem tradicional

    Agora que você conhece os defeitos menos lembrados ao checar um usado, não quer dizer que se deve esquecer das tradicionais avarias que afetam motor e carroceria.

    “Se o motor estiver sujo, empoeirado, é ótimo sinal. Aquela poeira é um auxiliar valioso para você verificar se há vazamentos. Motor lavado ou limpo pode maquiar algum problema. Veja a cor do óleo na vareta medidora: se estiver limpinha, pode ter havido algum defeito no motor. Óleo sujo indica que o carro está em pleno uso. Se o óleo estiver acinzentado, é porque entrou água ou porque a junta está com vazamento. Quanto à carroceria, diferença de cor da pintura, em especial entre dois painéis de metal, é um forte indício de batida. O para-choque pode apresentar essa diferença por ser de plástico, que envelhece diferente da lataria. O porta-malas e o capô indicam se houve batida pela chapa interna, que não costuma ser repintada após o conserto”, diz Satkunas.

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